Confusão começou quando a maior parte tinha ido embora; PM diz que só deteve baderneiros
A manifestação que aconteceu na noite desta quarta-feira (3) em Campinas terminou com uma ação da Tropa de Choque da Polícia Militar (PM), que usou bombas de gás lacrimogêneo para retirar manifestantes que insistiam em fechar a Avenida Anchieta após o fim ato. Cerca de 30 pessoas foram detidas, segundo a polícia. A passeata, que foi organizada pela Frente Contra o Aumento da Passagem, reuniu cerca de 300 pessoas e foi pacífica a maior parte do tempo.
Pela primeira vez, uma bandeira de partido foi levada por militantes do PSTU. No evento criado no Facebook para divulgar o protesto, participantes defenderam o uso de símbolos partidários.
A confusão começou por volta das 21h, quando a maior parte dos manifestantes já havia ido embora. Mesmo após o fim do ato, um grupo de cerca de 30 pessoas insistiu em permanecer na via externa da Avenida Anchieta, causando congestionamento nas ruas do entorno. Nesse momento, a PM pediu que deixassem a rua, dando prazo de 20 minutos para que saíssem. Mas a intervenção foi considerada "hostil" pelo grupo que decidiu permanecer na avenida como uma forma de "resistência" à atitude da PM. Diferente de outros atos, a maior parte dos manifestantes estava com o rosto descoberto. Alguns líderes também já haviam ido embora.
Os manifestantes se concentraram na Anchieta, próximo à Rua Barreto Leme. Do outro lado, no cruzamento com a Rua Benjamin Constant, a Tropa de Choque se posicionou bloqueando a via. A ação começou por volta das 21h, quando o efetivo avançou contra os manifestantes atirando bombas de gás lacrimogêneo. A dispersão foi rápida — muitas pessoas correram pelas ruas próximas — e o trânsito foi retomado em seguida.
"A nossa determinação não foi cumprida e tivemos que, infelizmente, usar os meios necessários para reabrir a avenida. Esperamos que a assembleia deles terminasse. Mas não era mais a manifestação e, sim, baderneiros (que estavam na rua)", disse o major da PM Alexandre de Carvalho. Os detidos foram encaminhados ao 1º Distrito Policial.
Passeata
A passeata teve início por volta das 18h30, quando o grupo deixou o Largo do Rosário, seguindo pelas ruas Benjamin Constant, Senador Saraiva e Moraes Salles até a dispersão na Prefeitura. Eles desistiram de caminhar até a Câmara por causa do recesso parlamentar, que começou nesta semana. O ato pede que o governo e o Legislativo atendam o pacote de reivindicações na área do transporte — redução da passagem de R$ 3,00 para R$ 2,85; passe livre para estudantes universitários, de cursinho e desempregados; além da abertura de uma Comissão Especial de Inquérito (CPI) pela Câmara para apurar as planilhas de custo do transporte. Até agora, nenhuma delas foi atendida.
No ato, os manifestantes também chegaram a gritar pela saída do secretário de Transportes, Sérgio Benassi, do comando da pasta. Segundo os líderes do movimento, essa é uma forma de o grupo atingir também o governo, que tem dado respostas negativas aos manifestantes. Durante a passeata chegaram a gritar: "o Benassi vai cair, vai cair, vai cair" .
Partidos
Apesar de haver somente uma bandeira de partido no movimento, a tendência é que as siglas se unam nos próximos atos e comecem a usar bandeiras nos movimentos. Nos primeiros protestos que foram realizados do Brasil, houve rejeição à participação dos partidos e até agressão a manifestantes. Em Campinas, as manifestações têm tido participação — e sendo lideradas — por militantes do PSTU e PSOL. Outras siglas como o PT e PCdoB também têm participado.
Carlos Henrique Caetano, de 29 anos, do PSTU, diz que militantes foram hostilizados nos primeiros atos em Campinas, mas que recentemente houve um acordo entre as siglas de esquerda a favor do uso de bandeiras. "A gente acabou recuando no segundo ato. Mas achamos que temos que sair com bandeiras. A última vez em que isso foi proibido, foi durante a Ditadura Militar" , disse. No Facebook, nas páginas desses movimentos, há discussões e depoimentos que defendem a liberdade de usar bandeiras nos protestos.