MÚSICA

Tradição vence a guerra contra inovação no Lollapalooza 2013

Bandas com som mais orgânico superaram as novidades no badalado festival em São Paulo

Agência Estado
01/04/2013 às 16:55.
Atualizado em 25/04/2022 às 22:17

Não houve surpresas. Uma aposta segura nos pilares do rock venceu o páreo no Jockey Club, este fim de semana. De grunge a garage, passando pelo southern rock, a narrativa campeã do Lollapalooza 2013 foi protagonizada pela guitarra, aquela fiel escudeira, sempre confiável quando o assunto é colocar 160 mil pessoas em um evento de três dias.

A começar pela unanimidade, o show do Pearl Jam, viu-se na programação uma eficaz vitória de acordes farpados sobre estéticas contemporâneas. Com um fôlego aparentemente eterno, Eddie Vedder recriou mais uma vez a efervescência grunge de sua banda para o delírio das gerais. O batido The Hives, que não lança um bom disco há tempos, redimiu-se antes do Pearl Jam, lançando um blitzkrieg de garage rock sobre a multidão.

Canções curtas e explosivas foram intercaladas pela cômica interação do líder Howlin’ Pelle Almqvist, um bufão etilizado do rock n’ roll, que chegou a declarar "esta noite, eu sou o seu líder espiritual" à plateia. The Killers garantiu a catarse de guitarras indie, e sem firulas, Alabama Shakes foi a peça retrô mais significante do evento, contando com o talento tradicional da cantora Brittany Howard para superar as deficiências sonoras do palco alternativo.

Ao mesmo tempo, a escalação de sons há tempos consagrados engessou o evento. O foguete metálico que o Queens of Stone Age mostrou no SWU, em 2010, não passou de um buscapé. Com a mesma falta de impacto, o Black Keys mostrou-se fora de seu elemento ao fechar a segunda noite do Lolla com uma receita manjada de garage rock. Ao vivo, é muito menos eficiente do que sugere o hype comercial em torno do grupo.

Apostas em "novidades" modernas, como o indie pop padrão do Two Door Cinema Club, feito para ser trilha de comerciais da Apple, pareceram fruto de uma pesquisa publicitária. A culpa é dividida com o público brasileiro, que não compra ingressos para um festival, e sim para determinados shows (vide o último dia do Lolla, que teria esgotado mesmo se a única apresentação fosse a do Pearl Jam).

Adicione um mercado de patrocinadores capenga, visto no espaço publicitário pouco aproveitado do festival, e há pouca margem para novidades. Inovação e sincronia com o cenário pop autoral do resto do mundo são trocadas por chamarizes fáceis. Prova disto é a maçante programação eletrônica do Lollapalooza, que atrai DJs monótonos, como o caríssimo Steve Aoki, Rusko e Porter Robinson, em nome da padronização-tendência da música de pista internacional.

Como no belo show do TV On The Radio, no ano passado, surpresas ficaram por conta de veteranos alternativos. O indie psicodélico do Flaming Lips não agradou à plateia, mas foi um oásis de nuance e criatividade em meio ao pop pauleira do festival. Tramando texturas na tradição de Eno e Bowie, e cantando romantismo cínico e, ao mesmo tempo, tocante em baladas, o líder Wayne Coyne comandou uma apresentação menos estagnada que a maioria.

O lendário rapper Nas também integrou os destaques escondidos, e mostrou porque é o Pelé do "flow", metralhando sílabas com precisão assustadora. Foi a primeira vez do rapper no País, e em plena forma, aos 39 anos, recriou os idos áureos do hip-hop nova-iorquino.

Como sempre, o Hot Chip agradou com sua sempre renovada coleção de hits. Foi fácil ouvi-los, mas difícil senti-los no palco alternativo do festival, devido à tímida mixagem de som. Talvez um esforço maior os colocaria no palco principal, onde merecem espaço. Desta vez, as novas Flutes e Night and Day, do último In Our Heads, brilharam em um set admirável.

PREMIAÇÃO

- Melhor show que ninguém viu

Perrosky (o "Black Keys do Chile"), Toro y Moi e Nas

- Melhor português enrolado

Pelle, vocalista do Hives. "Se prepare para o roquinrou, batchi palmas, saumpaulo!"

- Melhor "Fora, Feliciano"

Criolo falou primeiro, mas B-Negão foi com mais raiva e convicção ao pote

- Melhor elogio que poucos entenderam

Eddie Vedder cumprimentando SP por ter aprovado o casamento gay. Smart boy: regulamentação saiu só no dia 1º de março

- Melhor discurso enrolado

Disputa acirrada entre Criolo e Helio, do Vanguart. Mas o segundo extrapolou: disse que, aos cinco anos, ouvia Beethoven, e aos 15, Dylan. So what?

- Melhor protetor solar, só que não

Alex Trimble, ruivo vocalista do Two Door Cinema Club, vai levar dias para esquecer o sol que levou no rosto

- Melhor escalada de estrutura metálica

Ricky Wilson, do Kaiser Chiefs, empoleirado cantando "I Predict a Riot"

BOLETIM

10

Pearl Jam

The Hives

Alabama Shakes

Flaming Lips

The Killers

Of Monsters and Men

Hot Chip

Planet Hemp

Franz Ferdinand

Black Keys

Queens of the Stone Age

Crystal Castles

Criolo

Foals

Gary Clark Jr.

Toro Y Moi

Temper Trap

Puscifer

Two Door Cinema Club

Kaiser Chiefs

Cake

Deadmau5

Passion Pit

Major Lazer

Agridoce

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