JOGO RÁPIDO

Torcida única é apenas um paliativo

Coluna publicada na edição de 23/1/19 do Correio Popular

Carlo Carcani Filho
23/01/2019 às 02:00.
Atualizado em 05/04/2022 às 11:11

O Corinthians não visita o Guarani desde 24 de março de 2013. São quase seis anos sem que o clube mais popular do estado se apresente no Brinco de Ouro. E, infelizmente, o retorno acontece em um jogo com torcida única. Milhares de corintianos da região de Campinas não poderão torcer pelo seu time no estádio. Quem quiser ver o time de perto, terá que fazê-lo em silêncio, sem camisa do time e sem comemorar. A medida, que empobrece o espetáculo, foi tomada pelo Ministério Público de São Paulo. Também vale para os clássicos entre os quatro grandes e, desde o ano passado, para os jogos deles contra a Ponte Preta. Em 2019, de volta ao Paulistão, o Bugre entrou na lista. Jogo de torcida única é ruim para os clubes (afeta a renda), para quem vai ao estádio e não sente o clima de clássico e para quem sequer pode ir ao jogo. Enfim, é muito chato. Mas ninguém, em sã consciência, pode criticar o Ministério Público, já que torcedores violentos dão, com enorme frequência, inúmeros motivos para que os promotores isolem as torcidas. Nesse ponto, considero correta a posição do MP. Jogo com torcida única é menos perigoso para o torcedor e menos trabalhoso para a Polícia Militar. É absurdo, em um país com tantos problemas de segurança pública como o nosso, que centenas e centenas de policiais sejam deslocados para cuidar da segurança de um evento esportivo com baderneiros nas arquibancadas. Mas também é notório, indiscutível, que torcida única é apenas um paliativo. O noticiário está repleto de eventos violentos com a participação de torcidas. E o número de brigas é bem maior, já que muitas não são divulgadas pela imprensa. Essas brigas insanas, muitas delas marcadas pela internet, colocam torcedores e pessoas comuns em risco. Não adianta promover jogos com torcida única e fechar os olhos para um problema que continua lesando e ameaçando a sociedade. E os promotores sabem muito bem que a arruaça em dia de jogo é apenas uma das infrações à lei praticadas por esses grupos. O envolvimento com outros crimes mais graves é rotineiro. A Justiça e os clubes sabem disso. Mas pouco ou nada fazem para mudar esse cenário. Se o Ministério Público tem mesmo o interesse de proteger a sociedade de torcedores violentos, precisa ir muito além das partidas com torcida única. O MP sabe quem briga, mata e comete outros crimes. O MP também sabe que eles não param de fazer isso. Paliativos não resolvem o problema.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por