Quem lê a história de nossa cidade se depara com a figura carismática do mais famoso médico de algumas décadas atrás: Tomás Alves. Quando criança, ouvia falar dele, e de outro médico, dr. Mascaranhas, que foi também de incontáveis crianças da época.Pesquisando números antigos da revista do Centro de Ciências Letras e Artes (CCLA) encontrei numerosas referências ao dr. Tomás Alves, que pertenceu à diretoria e às comissões auxiliares da instituição. Seu retrato nos aparece nos números 46 e 47, e exatamente no ano de sua morte: 1920. Tenho em mãos a famosa conferência promovida pela classe médica, e proferida pelo doutor Antão de Moraes, na época promotor público, e orador do CCLA.A citada conferência, obra prima de pesquisa, retrata Tomás Alves não apenas como médico, mas também como homem caridoso e benfeitor dos pobres, e ainda como literato. Evocando-o, o conferencista referiu-se à dor de toda a cidade, ante o desaparecimento do médico, que foi cidadão prestante e que elegeu Campinas como sede de seus dias. Foi um profissional sábio e estudioso, de uma terapêutica rica em recursos e acima de tudo de uma presença, que procurava acalmar o doente e sua família. Ele desenvolvia também assistência social.O que muitos desconhecem é o valor literário do grande médico, e este período literário durou apenas dois anos. Obtendo o grau de doutor, e com o pseudônimo de “Hop Frog” deixou as musas em paz e fugindo à sedução das rodas literárias deixou também o jornal onde escrevia com inegável talento.Campinas era então um centro intelectual, mas ele deixou a glória literária aos que a quisessem. A cidade possuía um bom jornal A Gazeta de Campinas e em suas colunas brilhavam escritores como Júlio Mesquita e Júlia Lopes de Almeida. Para este jornal, Tomás Alves colaborou com inegável talento. Seu último conto saiu em dez de dezembro de 1882, quando Tomás Alves tinha 25 anos.Encerrou assim o seu período literário. Aqui uma amostra de seu talento literário: Oficina de Ferreiro: “O fundo era um pouco escuro; ao lado da forja aparecia desenhando -se de leve e percebia-se o fole que se achatava, mostrando as rugas no couro do bojo; o sol entrando por uma fresta caía e brilhava sobre um canto naquele rastilho de luz uma nuvem de pó e de fuligem, e brilhava sobre a cabeça luzente e gasta da bigorna, cujos dois chifres semelhavam às pontas de touros novos...”