História, cultura, sossego e a tradicional culinária das Minas Gerais se encontram em uma das mais belas cidades históricas
A Matriz de Santo Antônio é o símbolo da cidade (Grupo Tiradentes/Divulgação)
Basta caminhar algumas horas pelas ruas de Tiradentes para entender porque ela é considerada uma das mais charmosas entre as cidades históricas mineiras. Seu calçamento de pedras, o belo e preservado casario colonial, — muitos deles agraciados com namoradeiras nas janelas — as igrejas barrocas rodeadas de história, tudo isso aliado a receptividade do povo mineiro, a boa gastronomia e ao clima de cidadezinha do interior, — onde a vida passa sem pressa — fazem com que o destino seja muito convidativo.
Bastante procurada por casais, a cidade de pouco mais de sete mil habitantes, também agrada famílias com crianças, jovens e turistas da melhor idade. O único detalhe que é preciso ter em comum é a disposição para caminhar — e de preferência bem devagar — pelo charmoso Centro Histórico, pois somente andando se aproveita bem o passeio e sem titubear ao ter vontade de entrar nas lojinhas, empórios, cachaçarias, galerias, restaurantes e, claro, nas atrações turísticas.
A Igreja Matriz de Santo Antônio é a atração símbolo da cidade. Com esculturas na fachada atribuídas a Aleijadinho, é considerada uma das mais preservadas entre os exemplares barrocos e também uma das mais antigas do Brasil. Sua construção aconteceu entre 1710 e 1732. Para conhecer o interior é preciso pagar R$ 5,00. Lá dentro, a quantidade de ouro é o que mais chama a atenção: são 482 quilos do metal espalhados pelos altares, capela-mor e pelas esculturas, além de um órgão português em estilo rococó de 1788.
Há ainda a possibilidade de fazer a visita noturna, quando um roteiro narrado conta a história da igreja em um espetáculo de som e luz. As demais igrejas, exceto as que estão fechadas para visitação, como a São Francisco de Paula, também valem a visita, assim como o Museu da Liturgia, inaugurado no ano passado e que exibe mais de 400 peças ligadas à liturgia católica dos séculos 17 a 20.
A cada rua uma surpresa
Para quem tem pouco tempo para ficar na cidade, os passeios de charrete e de jardineira são boas alternativas para conhecer os principais pontos turísticos. As charretes se encontram no Largo das Forras e, durante o dia, oferecem diferentes roteiros, com paradas nas igrejas e no Chafariz de São José, que tem três fontes d’água sob a imagem de São José de Botas, do século 18. Já o passeio de jardineira é oferecido à noite, com saída também do Largo das Forras, e tem duração de 1h30, com várias paradas. O veículo, de 1935 que transporta os turistas, fica estacionado durante o dia em frente ao Museu do Automóvel da Estrada Real, no caminho que leva à Bichinho, distrito da cidade de Prados, e uma referência em artesanato em ferro e madeira.
Aliás, tanto o Museu do Automóvel — um lugar para apreciar carros fabricados a partir da década de 1920 — quanto o distrito de Bichinho — ótimo para fazer compras e apreciar a deliciosa comida mineira servida no fogão à lenha no principal restaurante local —, justificam sair da região central de Tiradentes.
De volta ao Centro da cidade, reserve um tempinho para conhecer os ateliês que se espalham sobretudo pelas ruas Direita e da Câmara. No Largo das Mercês, onde há um belo gramado emoldurando casinhas comerciais e ao final a igreja Nossa Senhora das Mercês — fechada para restauro — fica um ateliê que é um dos endereços mais convidativos para o final da tarde. O Marcas Mineiras, da artesã Graziela Guimarães, é um misto de loja e café. No espaçoso imóvel que ocupa, há cômodos onde a artista expõe e vende suas colchas de patchwork, almofadas de fuxico, toalhas convencionais e de linho com minuciosos e perfeitos bordados feitos à mão.
No café, é possível provar os deliciosos bolos caseiros nos sabores laranja, maçã, banana e o inusitado e surpreendente de abobrinha. Todos servidos com molho de limão. Ali, facilmente, se vê o anoitecer com a sensação de que cada passo nesta cidade pode reservar uma bela surpresa.
Gastronomia
É inevitável voltar de Tiradentes com uns quilinhos a mais. A gastronomia é um dos pontos fortes do destino. As delícias estão para todos os lados: desde em requintados restaurantes, até em portinhas onde são encontrados chocolates, queijos e guloseimas mineiras, como as gelatinas de cachaça.
No estrelado restaurante Estalagem do Sabor, o prato Mané sem Jaleco — um surpreendente mexido de arroz, feijão, couve, bacon, ovos, banana e pedaços de lombo bem sequinhos — é o carro-chefe. Segundo o gerente da casa, Júlio César Nascimento, a iguaria foi criada pelo chef e proprietário Vicente Teixeira para uma edição do Festival de Cultura e Gastronomia. “Agradou tanto, que acabou entrando para o cardápio”, afirma.
Outro endereço descolado para comer bem e ouvir boa música é o restaurante Templário. Todas as noitesserve petiscos na chapa e tem um dos chopes mais famosos da cidade. Os clientes passam ali horas a fio ouvindo MPB, Bossa Nova e Jazz e saboreando porções. A Filé dos Anjos, que tem filé mignon, cebola, tomate e pimentão como guarnições, molho de queijo e batata noisette, é uma das mais pedidas.
Outro ícone da cidade é o doce de leite do Bolota, que é leve e praticamente sem açúcar, criado em 1976 pelo falecido cozinheiro que dá o nome à iguaria. Por ser diabético e apaixonado por guloseimas, ele inventou a receita que leva apenas 200 gramas de açúcar para 15 litros de leite. Atualmente, a viúva e a filha mantêm a tradição, vendendo o doce em uma casinha de fundos no bairro Cascalho. É por achados como este que Tiradentes se firma como um destino em que dificilmente se vai embora sem a sensação de que é preciso voltar.
A jornalista Karina Fusco viajou a Tiradentes a convite do Grupo Tiradentes Mais e da Pousada Neuza Barbosa.