Terremoto - A Falha de San Andreas ( Divulgação)
Se seu objetivo for apenas entretenimento, eis uma dica para o fim de semana: Terremoto – A Falha de San Andreas (San Andreas, EUA, 2015), de Brad Peyton. E há uma razão simples para tal recomendação: Hollywood sabe tocar num ponto nevrálgico nosso, que é a obsessão pela tragédia, e o faz muito bem.
Se embalado como espetáculo (porque deixa de ser real), a combinação fica perfeita. Se, além disso, abordá-lo sob o gênero melodrama familiar, a receita vira infalível. Se vier recheado de efeitos especiais de última geração (outra obsessão do espectador atual), que empresta ao filme uma realidade impressionante, atinge o tamanho que seu lazer deseja.
Há mais: no 3D a proporção do realismo aumenta consideravelmente. No 4D, então (Campinas não tem sala disponível nesse suporte), atinge-se o grau máximo de realidade fantasiosa porque tal experiência nos coloca dentro da tragédia/espetáculo e estimula a sensorialidade.
Sentimos o trepidar do carro da mocinha que se acidenta num penhasco logo nas primeiras cenas. Depois, balançamos no helicóptero e a cadeira mexe “desgovernada” na hora em que a terra explode (muitas vezes) em S. Francisco. Como entretenimento, é bacana esse conjunto de características do filme; porém, sem ele, sobra muito pouco.
Há excesso em tudo. Comecemos pelos personagens rasos. De um lado, os bonzinhos (pai, mãe, filha, futuro namorado desta e o irmão dele); de outro, o mauzinho, o moço que tem planos de roubar essa santa mãe da família. Tal maniqueísmo bem que poderia ser amenizado, mas o roteiro quer deixar claro que gente legal ganha como prêmio não morrer no terremoto, enquanto os maus dançam.
Ray (Dwayne Johnson), o pai, assume o papel de herói que salva a mocinha do carro das cenas iniciais e salva a ex-mulher, a filha (e outros mais) e sai ileso – nenhuma marca do acontecido. A mãe Emma (Carla Gugino) vive uma boboca que só fala “Oh, my God”, e a filha Blake (Alexandra Daddario) interpreta uma menina tão doce, compreensiva, educada, sorridente, amável, gentil e prestativa que cansa.
Normalmente, filmes-catástrofes mostram a tragédia e, depois, narram a sobrevivência dos personagens em meio ao caos. Ou, em outros casos, preparam a população para o desastre que virá. Aqui, a tragédia não para nunca.
Do começo ao fim, as explosões estão por toda a parte no mais longo e letal terremoto da história. Quando se pensa que acabou, ele recomeça. E tem tsunami e, mais tarde, mais um tremor, o pior de todos. Claro, isso revela a fragilidade do roteiro, pois, na falta do que fazer, que tal criar mais um obstáculo?
Ninguém está pedindo verossimilhança, mas é inacreditável que, em meio ao tamanho estrago, o imperecível Ray consiga se safar de tudo sem nenhum arranhão. Ele dirige helicóptero, avião, carro e um barco, sempre impávido e dono da situação. Terremoto de 9,6 na escala Richter é fichinha.
Tome tudo isto e coloque diálogos bem toscos e pretensamente dramáticos – o casal perdeu no passado uma filha afogada; agora os dois não podem deixar a outra morrer – e soluções mirabolantes, como a possibilidade de encontrar alguém no meio daquele caos, e redenção final dos bons (incluindo o cientista vivido por Paul Giamatti e uma cônscia jornalista de TV). Os maus, ou o mau, o sujeito que tentou levar de casa a pobre mãe de família; bem, ele era um canalha.
O diretor e os produtores de Terremoto – A Falha de San Andreas sabem o filme que têm em mãos; ele foi feito exatamente para ser o que é. E vale quanto pesa: um saco gigante de pipoca com refri.
* Publicado no Correio Popular de 28/5/2014