SOCIALIZAÇÃO

Terapia com cães ajuda autista no mercado de trabalho

Com a ajuda da cachorra Luana, portador da síndrome se formou em biologia e se tornou o primeiro brasileiro com o transtorno a defender uma tese de mestrado

Raquel Valli
02/04/2015 às 05:00.
Atualizado em 23/04/2022 às 17:41
  (Christiane Galli)

(Christiane Galli)

Todos os anos, em 2 de abril, é celebrado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. E, este ano, especificamente, o tema escolhido é trabalho. O motivo? Mais de 80% dos adultos portadores da síndrome são desempregados, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Entretanto, os autistas têm mais facilidades que os outros para determinadas tarefas (reconhecem melhor padrões e têm atenção redobrada para detalhes, por exemplo). Mas, como têm dificuldades em socializar-se, sofrem descriminação nas contratações. Para auxilia-los nessa questão, o Instituto para Atividades, Terapias e Educação Assistida por Animais de Campinas (Ateac) utiliza cães para ensiná-los a interagir.     Autista com mestrado   A organização foi fundada pela bióloga Sílvia Jansen, que percebeu o progresso no próprio filho, Daniel (portador da síndrome de Asperger, um espectro do autismo que se caracteriza por falta de habilidades de comunicação e interação social).  A melhora ocorreu a partir da chegada da cachorra Luana, que o deixava mais calmo e confiante. Com o tempo, Daniel se formou em biologia e se tornou, segundo a ONG, o primeiro brasileiro com o transtorno a defender uma tese de mestrado.   “Foi com a Luana que ele treinou a apresentação da tese e teve condições de enfrentar o público”, conta Sílvia. Daniel, mestre em ecologia marinha, passou em um concurso público e trabalha há cinco anos. É analista ambiental na Secretaria Estadual de Meio Ambiente e valoriza a independência econômica que o emprego lhe proporcionou. O instituto nasceu, então, da vontade de Sílvia de multiplicar o que havia aprendido e vivenciado na própria família. "O trabalho com os animais beneficia a comunicação e linguagem, a estimulação sensorial, a coordenação motora, a própria estima, os autocuidados e as habilidades sociais dos autistas", ensina.     Os atendimentos são feitos em instituições como a Adacamp, Pestalozzi, Corsini, onde os cachorros vão para realizar as atividades. Atendimentos individuais também são feitos para os que procuram a ONG diretamente, explica a psicóloga e coordenadora técnica da Ateac, Helena Gomes.   Cães voluntários    Max tem cerca de quatro anos. Há um, foi resgatado das ruas por uma protetora e adotado por Christiane Galli. "Eu percebi que ele era especial e amava pessoas. Então, fiz o treinamento para entrar na ONG", conta. Ele é "muito doce, muito tolerante e ama trabalhar. E eu recomendo demais. Não é desgastante para o animal. É um momento de prazer para ele", afirma.    Quanto aos benefícios para os autistas, especificamente, explica que eles "aprendem a tocar, a sentir a textura do pelo, a sentir a respiração dos animais. Aprendem que os cães gostam de receber carinho. Por isso, é um trabalho gratificante que envolve muito amor".     Antes de tornar-se um terapeuta, o animal passa por dois testes: um comportamental e outro social. Passando nos exames, inicia o treinamento.   A Ateac tem três profissionais, que são mantidos com os recursos da ONG: psicóloga, terapeuta ocupacional e fisioterapeuta. E um deles sempre acompanha os atendimentos.   Foto: Eduardo Barroso/ Departamento de Arte/ RAC   SobrevivênciaA Ateac sobrevive basicamente de doações. Quem puder e quiser ajudar pode tornar-se um sócio contribuinte, com doações mensais, bimestrais, anuais ou únicas no valor mínimo de R$ 20,00. Além disso, promove a venda de camisetas e canecas que podem ser adquiridos pelo site: http://ateac.org.br    Os atendimentos nas instituições são gratuitos, já os particulares são cobrados.  Atualmente, conta com 65 cães voluntários.    Veja também Mãe cria infográfico para apresentar filho autista à escola A jornalista e mãe Mariana Caminha, criou uma forma simples, criativa e eficiente de apresentar o filho autista e suas singularidades para a comunidade escolar Papa faz apelo para acabar com estigmatização do autismo O pontífice conversou pela primeira vez com pessoas autistas em conferência com seus familiares

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