Moda

Tecnologia vestível

Indústria têxtil se mobiliza e coloca no mercado tecidos antivirais usados em camisetas, moletons e máscaras

Daniela Nucci
09/08/2020 às 09:00.
Atualizado em 28/03/2022 às 19:29
Camiseta e máscara combinando, com tecnologia antiviral no tecido utilizado pela Malwee (Divulgação)

Camiseta e máscara combinando, com tecnologia antiviral no tecido utilizado pela Malwee (Divulgação)

Pesquisadores dedicados às inovações da indústria têxtil não cruzaram os braços com a chegada da pandemia ao Brasil. Pelo contrário, desde o início, lá para março, eles arregaçaram as mangas e foram atrás de tecidos com proteção ao novo coronavírus a exemplo do material criado há poucos anos que protege contra os raios ultravioletas. Indispensáveis na hora de sair de casa desde que a pandemia está entre nós, as máscaras viraram um item obrigatório e nas últimas semanas começaram a circular nas redes sociais protetores faciais confeccionados com tecido de tecnologia antiviral. Na busca pela inovação nessa luta, a indústria têxtil foi rápida e já lançou no mercado os primeiros produtos, que vão das máscaras às linhas esportivas, como camisetas e moletons. “A moda exerce um importante papel na luta contra o coronavírus, com o desenvolvimento de tecidos com tecnologias que inativam o vírus em períodos que variam de 1 a 5 minutos”, diz a docente de moda do Senac Campinas, Justine Armani. Na maioria das vezes, o principal componente é o nitrato de prata, que resistiria a cerca de 30 lavagens. Diversas marcas já apostam nas novidades. A Malwee lançou a linha Protege com um mix de camisetas femininas, masculinas e infantis, e máscaras (são três camadas de tecido 100% algodão), que já estão esgotadas. “Estou na fila de espera das máscaras e confio 100% na tecnologia de proteção”, diz Justine. A marca usou a tecnologia HeiQ Viroblock desenvolvida pela empresa suíça HeiQ em parceria com o Instituto Doherty, na Austrália. A propriedade antiviral das peças é comprovada e continua ativa mesmo após 30 lavagens, tendo também efeito antibacteriano e antifúngico. Outra marca que já oferece alguns produtos no mercado é a Líquido, que desenvolveu uma linha de camisetas masculinas e femininas e máscaras usando o tecido que contém a tecnologia do fio poliamida da Rhodia, o Amni Virus-Bac Off. Segundo a marca, o tecido seria capaz de destruir a gordura que envolve a coroa do vírus ao entrar em contato com ele, impedindo assim a sua contaminação. A marca aponta várias vantagens dos seus produtos e que a eficácia da tecnologia é permanente, mantendo sua ação antiviral e antibacteriana durante toda a vida útil da peça, estimada em torno de um ciclo de até 30 lavagens. A tecnologia bloqueia a contaminação cruzada do artigo têxtil para o usuário e ainda propõe um tecido sustentável, pois o fio de poliamida Amni nasce de um processo que respeita o meio ambiente, com o ciclo fechado de água, 0% de geração de resíduos e redução de emissão de CO2 e ainda oferece proteção Solar UV 50+. A Lupo também investiu primeiramente nas máscaras e, segundo a marca, pretende estender seu mix de produtos utilizando o fio Amni Vírus-Bac Off, a ser desenvolvido pela Rhodia para a linha esportiva até outubro. “O mercado de moda aposta numa produção em grande escala nas roupas esportivas, pois as academias são consideradas um dos principais focos do contágio, mas os tecidos antivirais também serão usados nos setores de cama, mesa, banho, decoração, entre outros”, adianta Justine. Numa linha home office e confortável, a marca masculina paulistana Oriba lançou dois moletons e uma calça com tecnologia antiviral da empresa TNS Solutions em parceria com a Dalila Têxtil. O tecido passou por testes feitos na Universidade Federal de Santa Catarina e na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e, segundo eles, tem eficácia de 99,9% com poder de desativar o vírus em até 1 minuto após o contato. A durabilidade do aditivo é de 50 ciclos de lavagem, caso todas as orientações contidas na etiqueta sejam praticadas. O modelo chega nas cores branco ou preto. Para a docente de moda, saindo na frente em relação às pesquisas, a expectativa é que o Brasil possa se tornar mais competitivo no segmento da indústria têxtil, fortalecendo o setor, e abrindo o caminho para novas oportunidades de negócios. “Estima-se que em breve os produtos sejam desenvolvidos em grande escala, e estejam disponíveis para toda a população”, diz. Segundo os pesquisadores, a estimativa de aumento no custo de uma peça confeccionada com o tecido anti-Covid -19 é de 5%. O tecido contra a Covid-19 Amni Virus-Bac OFF, formado por fios de poliamida, também será testado no revestimento de bancos e balaústres do metrô e ônibus de São Paulo até meados de agosto. O material tem em sua composição a prata, que age contra micro-organismos, inclusive nos chamados vírus envelopados, como o influenza, herpes, coronavírus, entre outros. Apesar da rapidez da indústria têxtil na pesquisa e desenvolvimento de tecidos e produtos que protegem em 99% contra o Covid-19, o fato de apenas usar as peças com a tecnologia antiviral não substitui as atitudes responsáveis de higiene. “Isso é só mais uma ferramenta que contribui para a proteção. Os cuidados como lavar as mãos, usar álcool em gel, evitar aglomerações e contato físico, não estão em segundo plano”, alerta Justine.

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