Líquido & Certo

Talvez Freud explique...

Suzamara Santos
suzamara@rac.com.br
07/06/2015 às 12:00.
Atualizado em 23/04/2022 às 11:47

suzamara santos ( Cedoc/RAC)

Embora o vinho já frequente a casa dos brasileiros há vários anos, ainda há quem faz cara de “hã?” ao ouvir certos comentários e expressões. De fato, o enologuês é amplo e nem sempre claro. Mas, se tratando de idiomas, imagino que estamos empatados com o economês, outra língua encardida. No caso do vinho, sem falar dos conceitos de química, agronomia e botânica que envolvem o cultivo das vinhas e a elaboração da bebida, o glossário é vasto... E também muito bonito, uma vez que requisita percepções de quatro sentidos humanos – visão, olfato, tato e paladar. Para um principiante, algumas descrições parecem empoladas, esnobes demais. Eu mesma, em minhas primeiras aventuras em degustações, achava que havia um floreio desnecessário em construções como “aroma que remete à cânfora que exalava das gavetas das antigas avós”. Mas me acostumei com esse jeito de falar e, com o tempo, descobri que nem todos têm um repertório de memórias tão singelo assim e que em muitos casos a descrição é perfeita. O que realmente encanta no vinho é a sua capacidade de trazer à tona cenas, imagens e situações antigas, há muito esquecidas. Chamamos de memória olfativa. De repente, uma nuança de algum aroma captada no vinho promove um insight que leva ao passado. E, talvez Freud explique, só as boas lembranças são evocadas nesse instante “mágico”. Vivências como essas formam um enófilo. Já contei aqui a influência de um Passito de Pantelleria na minha paixão pelo vinho. A cor maravilhosa, entre o dourado e o âmbar, a textura untuosa e o sabor melífero me encantaram. Mas caí de amores por ele no momento em que reconstruí na memória o doce de cidra que fervia no fogão a lenha da minha infância. Doce longevo, passava meses no vidro perdendo o amargor e ganhando suavidade. Nem gostava tanto assim, mas o cheiro que invadia a casa inteira e o barulhinho da calda fervendo eram maravilhosos. Descobri isso com o Passito. Saúde! ContemplaçãoPara quem não sabe, os Passito di Pantelleria, que há muito frequentam esta página, são vinhos doces, elaborados com uvas passificadas. Pantelleria é uma ilha da região da Sicília especialista em produzir esse estilo de vinho. Depois de colhidas, as uvas são desidratadas ao sol, em grandes galpões ou no forro das casas. A produção, evidentemente, é baixa, mas o vinho é incrível. Cor linda de matizes dourados, aromas de mel e flores, textura aveludada... Um vinho de contemplação.

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