Como se já não bastasse a presença de Messi, Cristiano Ronaldo e Kaká, vencedores do prêmio de melhor jogador do mundo dos últimos cinco anos, e de Xavi e Iniesta, figurinhas carimbadas nas cerimônias da Fifa, o Campeonato Espanhol passa a contar com Neymar, craque com potencial para figurar, muito em breve, na lista de vencedores da Bola de Ouro.A reunião de tantos jogadores consagrados e talentosos faz do Espanhol o melhor campeonato do mundo? Não. Longe disso. O Espanhol tem dois dos maiores clubes da Europa, mas o torneio em si deixa a desejar. A temporada 2013/14 tende a ser ainda mais fraca do que as anteriores.O grande problema do Campeonato Espanhol é a divisão do dinheiro da TV e publicidade, se é que podemos chamar isso de divisão. Em 2002, Barcelona e Real ficaram com 38% de tudo que foi arrecadado pelos 20 participantes. Agora, a previsão é de que a dupla fique com 55% do bolo. Os outros 18 figurantes ficarão com apenas 45%. As consequências dessa desigualdade são nefastas para o campeonato em si.Na edição passada, Barcelona (115) e Real Madrid (103) superaram a marca de 100 gols em 38 rodadas. O terceiro melhor ataque, da Real Sociedad, fez apenas 70. É uma diferença muito grande, que deixa a competição chata, com frequentes goleadas dos favoritos sobre qualquer um dos outros.O campeonato que começou neste final de semana tende a ficar ainda pior, já que as estrelas dos 18 coadjuvantes debandaram no período de transferências. O artilheiro Falcao Garcia trocou o Atlético de Madrid pelo Mônaco. Iago Aspas, destaque do Celta, foi para o Liverpool. Jesus Navas e Negredo deixaram o Sevilla e assinaram com o Manchester City. Soldado abandonou o Valencia para se juntar ao Tottenham.Assim, enquanto os gigantes ficam ainda mais ricos e mais fortes, os demais se rendem e negociam seus principais jogadores para pagar as contas.O Valencia é o melhor exemplo da gravidade da crise. Depois de sonhar ser grande, o clube está pagando o preço pela ousadia. Antes de Soldado, teve que se desfazer de outros astros, como David Villa, Juan Mata, Jordi Alba e David Silva. Se os cinco estivessem juntos, o time teria condições de dar trabalho aos gigantes. Mas todos foram vendidos e, mesmo assim, o Valencia teve que interromper em 2009 as obras do monumental estádio que começou a construir. Hoje, a obra inacabada é o retrato da situação do clube.Já sabemos que as duas primeiras posições do campeonato serão de Barça e Real. O terceiro ficará muito distante, o que tira o brilho do campeonato. Os grandes adversários dos dois estão na Inglaterra, França e Alemanha. Talvez algum italiano possa incomodar, mas é improvável.Para nós, brasileiros, será interessante acompanhar a disputa particular entre merengues e catalães e ver o que eles poderão fazer na Champions. Para o Campeonato Espanhol, porém, o cenário é muito ruim e perigoso. Ter dois gigantes é ótimo, mas virar as costas para todos os outros é um erro que pode ter consequências ainda mais graves no futuro.