Os tempos estão sombrios e não acho uma boa história para contar, uma que fosse para espantar o tédio peçonhento das palavras vazias dos políticos. Tudo está ao contrário no País; a vergonha na cara desapareceu; parlamentares transformaram a Casa do Povo em um bordel sem prostitutas, apenas proxenetas. Lá se vende a carne magra do populacho por qualquer dinheiro, seja em malas, cuecas ou saques na boca do caixa. O Supremo Tribunal Federal considerou que a petralhada se reuniu em quadrilha para dar um golpe branco na Democracia e, com a troca de novos ministros, os que chegaram absolveram condenados corruptos de fazerem parte de uma quadrilha que, a exemplo de tantas outras, não “assinam” documento cartorial que assim as definem, como dominadoras do fato. Mas seguem os principais petistas corruptos, José Dirceu, Genoíno e Delúbio Soares, cumprindo pena em regime semiaberto — o que não significa que eles podem receber visitas fora do expediente, comer pizzas e churrascos encomendados de fora da prisão e, sobretudo, fazer da biblioteca da Papuda seu escritório particular. Corruptos petistas, bem sei, se acham superiores aos bandidos sem crachá petista. Os tempos estão sombrios, raro leitor; e a Quaresma não pode ser assim tão ou mais entristecida. Os santos não são mais cobertos por panos roxos e os açougues expõem as carnes e as vísceras dos animais abatidos. O que vem sendo tratado como coisa muito natural, aliás, progressista mesmo, visto que até o rei Roberto Carlos, até dias atrás um radical vegano, trocou a salada por um bom filé mignon — e é claro que não foi apenas por alguns milhões de reais que caíram na sua conta, não é mesmo? Quem ainda se lembra de orar em palavras tredentinas enquanto manuseia as contas de um prosaico rosário, do mesmo jeito que os velhos e perseguidos católicos irlandeses ensinaram? Não me lembro mais do latim de coroinha que aprendi no Liceu; não sei mais o gosto que tem a hóstia consagrada no altar, carinhosamente feita pelas freiras em votos de silêncio, ali em um convento da Benjamin Constant; e em alguma encruzilhada da fé perdi o pequeno terço da primeira comunhão. Mas ainda tenho compaixão pelo necessitado homem, pois tudo o que ele possui são as migalhas que encontra nas esmolas caridosas, bem como nas mãos imundas de governantes que lhes compram o voto por míseros tostões mensais de uma bolsa que não tem nada de família e muito menos de um ato cristão. Queria poder oferecer uma história bem bonita pra você, meu raro leitor, que tivesse aroma de namorada ou de um capim da infância, de vento na pipa e bola de meia. Sei que tenho uma guardada em algum bolso da lembrança, mas a cabeça lateja, indignada, lategada por esses tempos sombrios e seus homens insanos, vendilhões do templo da democracia, da pátria e de suas próprias vergonhas. Há um certo cansaço em tudo isso, o que me toma os sonhos e a esperança. Daqui a pouco os demônios da nação estarão em nossos lares, entrando em nossas televisões e rádios, oferecendo um mundo de boas coisas que aliás bem sabemos ser possível — mas que jamais serão cumpridas porque é de falsas promessas que eles se alimentam para manter e traficar poderes. Eles prometerão o melhor dos mundos e isso não é novidade para quem conhece a bíblica história de Lúcifer tentando Jesus Cristo em sua quarentena. Seremos mais uma vez tentados e muitos sucumbirão. Oremos, raro leitor, que os tempos estão trevosos e a Quaresma se anuncia penosamente longa. Bom dia.