Sempre lidei com música e crônica. Música popular, bem dito. E crônica é um subgênero literário, o que nos aumenta a responsabilidade para não escrever asneiras, visto que tal privilégio só é permitido a escritores ditos romancistas e de autoajuda. Mas nunca me enganei: nem música popular e crônica fazem parte da cultura universal — quando muito um entretenimento social, um meio de passar o tempo. Sou, e continuo sendo, apenas um compositor popular e um cronista da minha cidade, do meu tempo. Raros são os músicos, compositores e cronistas que se tornam importantes à cultura da humanidade, os autores eruditos, todos eles, por exemplo, e Machado de Assis, Fernando Pessoa, Drummond de Andrade, os quais cito porque versados em português, língua que domino um pouco e que me dá sustança para sobreviver e seguir em frente. Caetano Veloso, quando das manifestações de rua em junho passado, apoiou o terrorismo dos black blocs e chegou até mesmo a divulgar uma foto em que aparece com o rosto coberto por um lenço. Quando um desses black blocs acertou um letal petardo na cabeça do cinegrafista Santiago Andrade, bem, aí ele desapareceu do seu blog, provavelmente para fazer mais uma canção a um leãozinho da praia que ele frequenta. E Chico Buarque é um confesso admirador do regime cubano, e tanto faz se os irmãos Castro já mataram 100 mil cubanos e ainda mantém em cativeiro cerca de 300 prisioneiros políticos. São excelentes compositores populares, mas péssimos em ainda tentar um certo “progressismo” esquerdista que hoje, bem sabem eles — e todos nós — que tudo não passa (como já se passava antes) de oportunismo ideológico. E Ziraldo e Jaguar, ambos “indenizados” com milhões de reais por terem sido detidos pela repressão militar, o que também lhes garantiu uma pensão de cinco mil reais mensais, oferecem seus préstimos gráficos ao lullo-petismo e seguem curtindo a grana que agora todos os desdentados lhes pagam. Socialismo gráfico é isso aí. Millôr Fernandes recusou a maracutaia: Afinal, fizemos militância política ou investimento? Pasadena, Petrobras, Youssef, bilhões de reais do dinheiro público sendo drenados para o bolso de corruptos e caixas dois de partidos, e nenhum dos nossos grandes “pensadores” populares abrem a boca para protestar contra tamanha safadeza. E talvez seja por tal cinismo nacional que um professor de filosofia do Ensino Médio de Taquatinga, Distrito Federal, Antônio Kubitschek (sobrenome emblemático este, não é mesmo?), sabatinou seus inocentes alunos com uma canção da Walesca Popozuda, cuja parte da letra do teste é esta: “Desejo a todas inimigas, vida longa/ Pra que elas vejam cada dia mais nossa vitória/ Bateu de frente é só tiro, porrada e bomba/ Aqui dois papos não se cria e nem faz história”. Caetano Black Bloc e Chico de Holanda e Castro devem achar isso o máximo, presumo. E o resultado disso tudo é o petismo afundando a Petrobras em mais de 200 bilhões de dólares, a inflação começando a corroer o bolso do trabalhador, a tarifa elétrica subindo 16,5%, o desemprego escancarando suas costelas e, é claro, sem palavras para explicar por que o vice-presidente da Câmara, André Vargas, sócio e velho amigo de um doleiro preso pela Polícia Federal (Alberto Youssef) tinha livre trânsito no Ministério da Saúde, cujo titular, Alexandre Padilha, pretende ser governador do Estado de São Paulo. Waleska Popozuda é apenas mais uma sobrevivente do show business e não tem nada com isso. Por que haveria? Resta saber se ela vai processar o professor por tê-la chamado de “grande pensadora contemporânea”, na sabatina em questão. Pelo que tem de “pensadores” soltos na praça, bem, eu o processaria. É isso. Bom dia.