LALÁ RUIZ

Sobre o trono de aço e vampiros

Lalá Ruiz
06/06/2013 às 05:01.
Atualizado em 25/04/2022 às 13:22

“Por quê, George R.R. Martin, por quê?” Duvido que exista algum fã de "Game of Thrones" que não tenha feito essa mesma pergunta repetidamente depois de assistir ao episódio da série exibido no último domingo pelo canal HBO, produção baseada nos livros de Martin, com supervisão e roteiro do próprio. Depois de oito capítulos comedidos, com poucas emoções fortes, fomos surpreendidos por um episódio — o penúltimo da terceira temporada — mortal, tanto no significado real da palavra quanto no figurado. No sentido real porque personagens queridos foram mortos em uma cena de tirar o fôlego e totalmente inesperada, desde já na minha lista das mais pesadas — se não a mais — mostradas em um seriado de televisão (nem aquela da cabeça girada em 360 graus de "True Blood", outra produção do mesmo canal, é páreo para essa, se é que vocês me entendem). E no sentido figurado porque o episódio acabou com o que restava do domingo para quem estava do lado da cá de telinha. “Por quê, George R.R. Martin, por quê?”, não me cansava de perguntar. A reação na internet foi imediata, até entre aqueles que leram os livros e de certa forma estavam preparados para os fatos apresentados (este não é o meu caso, falha que pretendo corrigir em breve). Resultado: "Game of Thrones" se converteu em um dos assuntos mais comentados da semana no mundo virtual.

Antes de continuar, um parêntese: àqueles que não sabem do que se trata, "Game of Thrones" é um programa de televisão baseado na série de livros de fantasia "As Crônicas de Gelo e Fogo", do escritor norte-americano George R.R. Martin. A trama se passa em Westeros e mostra a disputa das nobres famílias que habitam esse fictício continente pelo Trono de Ferro dos Sete Reinos. O título da produção foi tirado do primeiro volume da saga, cuja popularidade tem ameaçado a hegemonia de "O Senhor dos Anéis", de J.R.R. Tolkien (1892-1973), entre os leitores do gênero fantástico, gerando até uma certa rivalidade do tipo “time Martin” versus “time Tolkien” (uma bobagem: como reza a sabedoria popular, cada um é cada um). E uma das coisas que chama a atenção no trabalho de George R.R. Martin é que com ele não tem conversa mole ou redenção. Ele aniquila qualquer um em nome de uma boa “virada” na história, mesmo que isso signifique tirar de cena o(s) personagem(s) mais querido(s) dos fãs. Assumo que estou de luto. Mas, como escreveu a colega jornalista Raquel Lima em sua conta no site de microblogs Twitter, assistir a "Game of Thrones" é praticar o desapego, de forma que sei que vou superar essa...

Assim como espero superar a decepção que foi a quinta temporada de "True Blood", seriado que perdeu pontos comigo (e com muita gente, acredito) quando passou a se levar a sério demais. Criada por Alan Ball, o mesmo produtor responsável pela aclamada "A Sete Palmos", a série é inspirada nos livros da escritora norte-americana Charlaine Harris (esses, sim, eu li), espécie de pulp fiction do século 21 sobre vampiros que saem do armário e passam a viver entre os humanos quando os japoneses inventam o sangue artificial, produto vendido engarrafado em qualquer loja de conveniência de beira de estrada. A trama se passa no interior da Louisiana, o estado mais pobre dos USA, e é narrada a partir das aventuras da garçonete telepata Sookie Stackhouse. Sempre digo que livro é livro, filme é filme, série de TV é série de TV. Mas, o que foi feito em "True Blood" é praticamente imperdoável (a não ser, é claro, que a sexta temporada coloque as coisas nos trilhos). A produção nunca foi fiel à obra de Charlaine Harris, fato compreensível, pois apesar de possuir personagens bacanas e ser muito divertida, é uma ficção barata.

Mas a série deixou de ser divertida e sarcástica, com sua explosão de sexo, sangue e rock and roll — até então o antídoto perfeito para os vampiros “purpurinados” de "Crepúsculo" —, para se converter numa coisa chata sobre política vampira, com uma tal de Autoridade determinando o destino dos mortos-vivos e dos humanos. Oras, quem assiste a filmes e séries sobre bebedores de sangue não quer discutir quem tem mais poder, se é o vampiro X ou o Y, quer ver pescoços mordidos, sedução, susto e — por quê não? — dar umas boas risadas. Simples assim. Como a sexta temporada entra no ar com o final de "Game of Thrones", vou pagar para ver.

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