Durante a semana, ouvi por diversas vezes que o Guarani precisa de um "milagre" para evitar mais um rebaixamento. Compreendo o sentido da afirmação, mas não concordo com ela. Milagre, no futebol, é quando acontece um lance de extrema dificuldade, como uma defesa espetacular, ou quando um gol sai em um lance totalmente improvável. Um goleiro dar um chutão pra frente e marcar o gol é um milagre (e aparentemente o Guarani já gastou sua cota da temporada porque fez um gol assim na Copa São Paulo).
Agora, evitar um rebaixamento não tem nada a ver com milagre, sorte ou azar. Em inúmeras oportunidades, o técnico Branco reclamou do azar do seus jogadores e da sorte dos adversários. Em um jogo ou outro, tudo bem, até dá pra colocar um fracasso na conta do acaso. Quando acontece em todos os jogos, o problema é outro.
Não adianta disputar 16 partidas, vencer apenas duas e torcer pelo "milagre" das três vitórias seguidas. Isso quase nunca acontece. E se Branco viveu uma experiência dessa no Fluminense em 2009, foi porque o time tinha um meia chamado Conca e um centroavante que atende por Fred. Foi a qualidade de jogadores como eles que permitiu a inesperada reação.
No caso do Guarani, o risco de queda é enorme porque o clube cometeu erros de outros rebaixamentos. O elenco foi montado e remontado às pressas, muitos "reforços" chegaram sem ritmo de jogo e o elenco tem apenas um centroavante, que por sinal chegou muito tarde e quase não joga.
Entendo que o clube precisa ter uma folha de pagamento condizente com seus recursos e compreendo que, por necessidade, se forme um elenco mais barato. Mas reduzir a folha e mesmo assim atrasar os salários não resolve nada.
Montar um bom elenco não é tarefa fácil nem mesmo para quem tem muitos recursos. Com pouco dinheiro, então, é tarefa complicada. Mas encher o time de jogadores fracos não serve nem mesmo para economizar dinheiro, já que quedas para divisões inferiores geram enormes prejuízos.
Enquanto insistir em correr o risco de disputar campeonatos com jogadores de pouca qualidade e com ambiente ruim, o Guarani continuará vivendo à espera do milagre. Não do milagre de ganhar trës jogos por sorte, mas sim daquele ainda mais difícil, que é o da transformação da ineficiência em qualidade.