JOGO RÁPIDO

Sobre honestidade e lágrimas de mães

Coluna publicada na edição de 20/4/17 do Correio Popular

Carlo Carcani Filho
carlo@rac.com.br
20/04/2017 às 00:09.
Atualizado em 22/04/2022 às 19:39

Na coluna de ontem escrevi que a correta atitude de Rodrigo Caio no clássico São Paulo x Corinthians não foi apenas uma exceção no mundo do futebol. Além de ser muito raro que um jogador ajude o árbitro em prejuízo de seu próprio time, é muito comum que os atletas tentem enganar o juiz. Isso acontece o tempo todo. Declarações de companheiros de Rodrigo Caio comprovam que o mundo do futebol assume sem o menor pudor que se deve levar vantagem sempre que possível, ainda que para isso seja necessário ser desonesto. Maicon, companheiro de zaga de Rodrigo Caio, deixou isso bem claro. Vinte e quatro horas depois da partida, de cabeça fria, afirmou que prefere ver a mãe de seu adversário chorando do que a dele. Maicon usou a figura materna para mostrar ao público que vencer é o mais importante. Para não deixar a mãe triste, considera válido não ser honesto e, se necessário, ser desonesto como quase todos os atletas são em quase todos os lances em que é possível tentar enganar o árbitro. O fato de Maicon ter o apoio do mundo do futebol não significa que esteja correto. Mas muitos pais e mães desejam mesmo a vitória a qualquer custo e basta ver qualquer competição infantil para perceber isso. Muitos Maiconzinhos crescem ouvindo dos próprios pais que o mais importante é vencer. É triste, mas é a realidade. Mas, felizmente, muitos pais e mães se preocupam em passar valores corretos para seus filhos. E tudo indica que esse é o caso de Rodrigo Caio. “Fiz só o que eu tinha que fazer”, afirmou. Fez mesmo. A reação de Rogério Ceni também foi ruim. Relatos indicam que ele repreendeu o zagueiro no vestiário. Irritado, teria perguntado a Rodrigo Caio se ele sabia que Jô estava pendurado. Publicamente, elogiou e ironizou seu atleta: “Ele é um menino bom, um menino que jogou o jogo do fair play, assim como todos fazem normalmente.” Já Tite, treinador de Rodrigo Caio na Seleção Brasileira, mandou uma mensagem para o zagueiro, elogiando sua atitude. O árbitro da partida sequer relatou a atitude do zagueiro na súmula, mas o presidente da Comissão de Arbitragem da CBF, Marcos Marinho, enalteceu o zagueiro. “A atitude de Rodrigo Caio é um exemplo que estamos precisando no futebol. Estamos vivendo muito da malandragem e isso tem prejudicado o espetáculo”, elogiou. O espetáculo é prejudicado, sem dúvida. Mas o mundo do futebol não se importa com isso. O importante é fazer a mãe do adversário chorar, nem que para isso seja necessário mentir, enganar, roubar.

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