PASQUALE CIPRO NETO

Sobre este e esse (2)

O pronome "este" serve para anunciar o relato de um fato; "esse" serve para retomar

Pasquale Cipro Neto
30/06/2016 às 22:49.
Atualizado em 22/04/2022 às 23:41

Na semana passada, trocamos dois dedos de prosa sobre alguns aspectos do emprego dos pronomes demonstrativos “este” e “esse”. Vimos que, no padrão formal da língua, quando diz ou escreve “esta blusa”, por exemplo, o emissor se refere à blusa que está usando, ou a uma que esteja perto de si, nas mãos dele etc. Quando se refere a uma blusa que esteja perto do seu interlocutor ou no corpo dessa pessoa, o emissor diz “essa blusa”. Agora, vamos ver mais alguns casos do emprego de “este” e “esse”. Imagine o seguinte: você vai narrar um fato, isto é, vai relatar o que ocorreu. Se você resolver fazer algum tipo de anúncio desse fato, poderá dizer algo parecido com isto: “A verdade é esta, meus caros amigos: no dia 14, eu estava em Guaratinguetá, na casa de parentes. Fiquei lá por mais de três horas, até que...”. Você pode fazer o contrário, ou seja, primeiro relata os fatos para depois afirmar que eles são verdadeiros. Nesse caso, você poderá dizer isto: “No dia 14, eu estava em Guaratinguetá, na casa de parentes. Fiquei lá por mais de três horas, até que...”. Quando acaba de contar a história, você conclui: “Essa é a verdade, meus caros amigos” (ou “A verdade é essa, meus caros amigos”). Percebeu? O pronome “este” serve para anunciar o relato de um fato, de uma história, de uma decisão; “esse” serve para retomar, para fazer referência ao que foi dito antes. Vejamos outros exemplos: “A proposta dele é esta: a casa dele mais R$ 180.000,00 pela minha”; “A casa dele mais R$ 180.000,00 pela minha. Essa é a proposta dele”. Ficou claro? Note que, no primeiro exemplo, foi feito o anúncio da proposta (“A proposta dele é esta”); em seguida, essa proposta foi esclarecida. No segundo exemplo, ocorreu o contrário: primeiro se apresentou a proposta propriamente dita; depois se fez uma referência a ela (“Essa é a proposta dele”, equivalente a “A proposta dele é essa”). Mais um exemplo? Vamos lá: “A decisão do júri é esta: condenação do réu a X anos de detenção”; “Condenação do réu a X anos de detenção. Essa é a decisão do júri”. Os pronomes demonstrativos “este”, “esta”, “esse” e “essa” também podem ser usados para que se faça referência ao tempo (presente, passado, futuro). Quando se fala do período em que se está (a semana, o mês, o semestre, o ano, a década, o século etc.), diz-se “este”, “esta”: “Sob os mais diversos aspectos, este ano vai entrar para a história”; “Neste mês, ele já foi duas vezes ao Uruguai”; “Neste século, já revimos cenas que ninguém em sã consciência imaginava que pudessem ser revistas”. O ano que vai entrar para a história é o que está em curso, ou seja, 2016; o mês de que se fala (no segundo exemplo) também é o que está em curso no momento em que a frase é emitida; o século em que estamos revendo cenas que julgávamos irrepetíveis é o que está em curso. Quando se fala do futuro ou do passado (não muito distantes), usa-se “esse”, “essa”: “Muita coisa boa aconteceu em 1958. Esse saudoso e querido ano certamente foi um dos melhores da história do Brasil”; “Em 2416, o Brasil talvez esteja livre de alguns dos seus principais problemas. Nessa época, talvez seja um pouco melhor viver por aqui”.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por