Uma das mais evidentes provas de inteligência é aprender com os próprios erros. Não é muito complicado - há muito animais por aí que o fazem, sem que seja preciso treiná-los. Fazem-no por instinto, para sobreviver em seu próprio meio. Gato escaldado tem medo de água fria, diz o ditado - e é verdade.Isto posto, fica a pergunta: como classificar esse nosso atual governo, responsável por uma crise como há décadas não se via por estas plagas, mas que insiste não apenas em permanecer no erro, como ainda procura defendê-lo?Fiquei tentado em classificá-lo como vegetal, mas achei pouco apropriado - afinal, vegetais, com o tempo, tendem a evoluir. Optei, então pelo reino mineral - pois nossos “dirigentes” têm de fato cabeças duras feito pedras e pensamento sólido como areia.Pois no meio de todo o estrago que o atual governo provocou lá atrás, e que agora cobra a conta, não vem a sua representante máxima, a Presidente da República, explicar que as coisas estão ruins não por causa das pedaladas fiscais, das falcatruas eleitorais, dos desvios monumentais de dinheiro público ou dos gastos sem qualquer critério ou controle a sustentar uma máquina pública que beira o inútil?Não, não é por causa de nada disso que o Brasil mergulhou na crise em que está. O motivo, segundo a Presidente da República, é que a “marolinha” - a crise econômica mundial, que só para situar quem não se dá ao trabalho de acompanhar o que acontece lá fora além de Cuba e Venezuela, já acabou faz tempo - ficou uma “onda” porque “o mar não serenou”.Eu poderia até me convencer disso, fosse a minha cabeça tão dura quanto a dela e deu seus seguidores, e fossem minha ideias tão sólidas quanto a areia em que eles tentam construir seus brilhantes argumentos. Infelizmente, ainda me classifico como animal - e mais ainda, me identifico como gato escaldado: já vi tudo isso antes, e, embora nunca tenha ouvido tanta bobagem vinda de um único lugar, ainda tenho alguma fé de que o País sobreviverá pelo tempo que falta para esta gente descer do trono. Aos trancos e barrancos, com muita dificuldade, mas acredito que superaremos este triste momento econômico (não vou entrar no mérito do triste momento político, porque em toda minha vida, não me lembro de nenhum que fosse vagamente alegre, exceto talvez quando da efervescência pelas Diretas Já).Mas isso não alivia o fato de que estão a ofender a minha inteligência. E a sua também, caro leitor: nos tratam como se fôssemos um bando de idiotas, a quem não se devem mais satisfações do que mentiras mal contadas para justificar burrices monumentais.Pode ser o suficiente para muita gente - gente que, na verdade, se deixou transformar também em pedra, porque não apenas já não ouve mais a voz da lógica, da razão ou da verdade, como também se coloca à disposição para ser arremessada, com a maior alegria, contra os que ousam questionar as fanfarronices e tolices que seus iluminados companheiros tentam nos empurrar goela abaixo. A mim, contudo, não basta. Não digo que quero uma retratação do governo - seria mais fácil, nesse caso, esperar que uma pedra me pedisse desculpas por ter me atingido. Mas gostaria, pelo menos, de ser poupado dessa ladainha mentirosa, desavergonhada, intolerável e, acima de tudo, burra, com que a Presidente da República e seus falsos profetas do marketing tentam se isentar de sua absoluta e completa incompetência administrativa. Isso me dá nos nervos.Tivesse o governo a decência de, primeiro, admitir que as dificuldades existem, e segundo, que existem não por causa de uma crise externa da carochinha, mas por causa da enxurrada de erros gerenciais que aconteceram aqui dentro, eu já me daria por feliz. Mas é esperar demais; quando admite que há uma crise, a Presidente da República a minimiza, como se fosse, nas palavras dela, uma “onda” - pouco mais do que uma marolinha vitaminada - quando na verdade está custando ao País mais alguns anos de desenvolvimento, e a muitos brasileiros, seus empregos; e quando aborda os motivos, insiste em dizer que é porque a situação “lá fora” é que está ruim. Não sei bem onde é esse lá fora, mas sei que não é mais nos EUA e nem na maioria da Europa. Prometo pesquisar mais em algum mapa mundi recente - pode ser que o governo tenha providenciado uma versão revista e atualizada, de forma a comprovar que tem razão.Enquanto isso, vamos tentando tocar a vida, nós, animais, apesar das pedras e da areia no nosso caminho. Como já disse, ainda tenho alguma fé guardada na bolsa - e a economia brasileira dos últimos trinta anos sabe o quanto ela já foi posta à prova. Ainda não estamos derrotados, apesar dos esforços do governo. E na pior das hipóteses, teremos só mais três anos para quebrar pedras. Acho que dá para sobreviver.