TRADIÇÃO

SOB AS BÊNÇÃOS DA VIRGEM

Latino-americanas que moram em Campinas reúnem-se às quartas-feiras para fortalecer os vínculos e amenizar saudades da terra natal

Karina Fusco/ Especial para a Metrópole
19/10/2012 às 22:38.
Atualizado em 26/04/2022 às 20:18

As manhãs de quarta-feira têm um significado especial para cerca de 20 moradoras de Campinas. É nessas ocasiões que elas revivem costumes do país de origem, falam o idioma nativo, colocam a conversa em dia e ajudam umas às outras.

Nessas oportunidades, elas também rezam o terço e saboreiam pratos típicos de suas nações. Enfim, sentem-se mais em casa. Argentinas, chilenas, colombianas, venezuelanas e mexicanas, essas mulheres mudaram para cá por causa, principalmente, do trabalho dos maridos.

E cuidam para dar continuidade a uma ideia implementada há seis anos por quatro mexicanas que viviam aqui. Uma delas, Maria Eugênia Urquiza, retornou à cidade no início deste ano e ficou muito feliz ao ver a sementinha plantada anos atrás ainda dando frutos. “Fui bem acolhida, assim como todas são e isso é importante em um momento em que tudo é novo e a tristeza costuma bater”, diz. “A oração e a união ajudam a superar os pequenos e grandes problemas que enfrentamos no cotidiano”, completa.

De casa em casa

A cada semana, uma integrante do grupo abre as portas de sua casa para receber as amigas. E por “amigas” entende-se tanto as que estão aqui há algum tempo, como as que acabaram de desembarcar. O encontro começa com todas na sala, com o terço nas mãos e próximas à imagem da Virgem Peregrina, a Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira da América Latina.

A anfitriã inicia agradecendo a amizade e a presença de todas, faz seus pedidos e gratidões pessoais. A palavra é, então, passada a cada uma. E todas falam em espanhol. “Nunca podemos esquecer que o grupo se formou ao redor do apoio de umas às outras e da oração”, ressalta a mexicana Letícia Teixeira. “Somos unidas, oramos, conversamos, dançamos... Às vezes, organizamos churrascos para todas as famílias se confraternizarem”, conta Lorena Vizcaya Avellano que, depois de quatro anos aqui, retorna ao México.

Acalento para a solidão

Circulando pela cidade, algumas dessas mulheres foram reconhecidas pelo sotaque e convidadas a ingressar no grupo. Nas empresas em que os maridos trabalham, se há expatriados, também é comum que uns indiquem o grupo aos outros para tornar a adaptação da família menos difícil. Esse é o caso da venezuelana Evelyne Ortega, que saiu dos Estados Unidos para ficar por aqui de três a cinco anos. “Um colega de trabalho do meu marido nos deu a indicação e eu estou adorando”, diz. Já a colombiana Jeannette Ramìrez, conheceu o grupo por meio de uma amiga, cujos filhos estão na mesma escola que os dela. “Nossos encontros me fazem muito bem”, avalia.

A única brasileira nessa rede de amizades é a professora Vilma Bueno. Ela ministra aulas de português para estrangeiros e, por conta do trabalho, teve contato com algumas latino-americanas. “Falo bem espanhol porque estudei a língua e visitei muitos países. Além disso, a convivência com elas é uma oportunidade para praticar e aprimorar meu aprendizado”, define.

Não pense, porém, que o grupo aceita brasileiros que estejam a fim de treinar o espanhol.

Vilma é exceção. “Nosso propósito principal é a oração e o compartilhamento de nossas vivências e necessidades. A amizade que aqui se forma ajuda a aliviar a solidão de quem chega”, reforça Letícia. Como uma espécie de recompensa pelo acolhimento e pela amizade, Vilma auxilia as amigas em momentos como o de contratar domésticas, de explicar a elas as leis trabalhistas brasileiras, de encontrar escola para os filhos e até na busca por médicos. “Elas são sozinhas e compartilham as mesmas necessidades. Eu ajudo com o maior prazer”. A recíproca é verdadeira. “Foi ela quem me recebeu em Campinas e me apresentou ao grupo”, conta a mexicana Gianella Martin, há dois anos por aqui.

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