Com o agravamento da crise, os principais setores mantêm as demissões; indústria lidera os cortes
Municípios que estão no azul são Cosmópolis, Pedreira, Santa Bárbara d?Oeste, Valinhos e Vinhedo (Divulgação)
Mais uma vez, os cortes de postos de trabalho preocupam os trabalhadores da Região Metropolitana de Campinas (RMC). As dispensas já somam 9.350 trabalhadores apenas nos cinco primeiros meses deste ano - e na lista dos 20 municípios que formam a região, apenas cinco estão com saldo positivo (no ano passado, eram 11, com um volume de 531 empregos formais gerados até maio). Os municípios que estão no azul são Cosmópolis, Pedreira, Santa Bárbara d’Oeste, Valinhos e Vinhedo. Com o agravamento da crise, o mercado de trabalho não gera vagas, ao mesmo tempo em que os principais setores mantêm as demissões. A indústria lidera os cortes com 5.375 postos a menos este ano. O comércio fica em segundo lugar, com 3.810; serviços perdeu 2.295 vagas, e a construção civil 966. Contratações, só na administração pública (469 novas vagas), agropecuária (1.256) e outros setores menores, cuja soma atingiu 1.371 postos formais. Dados divulgados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Cageg), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), mostraram que apenas no mês de maio foram cortados 2.137 empregos formais na RMC. O volume foi um pouco menor do que as 2.740 demissões do mesmo mês do ano passado. Abril deste ano também teve uma quantidade maior de dispensas: 3.124 pessoas ficaram sem trabalho. Os números apontam para uma acomodação, mas ainda com perdas de vagas formais. Relatório da Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic) com informações do Caged apontou que, nos últimos 12 meses, as demissões chegam a 50.507 postos de trabalho na RMC. Crise Dirigentes sindicais da região afirmaram que o quadro se agravou desde o final do ano passado. Embora os cortes tenham sido mais intensos nos primeiros meses deste ano, as empresas ainda não encerraram o processo - e continuam demitindo. Mais grave ainda, elas estão pressionando para parcelar o pagamento das verbas rescisórias dos trabalhadores. Como os sindicatos normalmente não aceitam essa alternativa, os demitidos estão apelando para a Justiça do Trabalho para garantir a quitação de seus direitos. O consultor da diretoria do Sindicato dos Comerciários de Campinas, Renato Bertani, afirmou que o segmento está sofrendo muito este ano com as dispensas, e confirma um aumento no número de empresas que tentam parcelar o pagamento das verbas rescisórias. “O sindicato fez 8.083 homologações de demissões só no primeiro trimestre. No ano, já são 16.400. Se continuarmos neste ritmo, a quantidade vai triplicar em relação ao ano passado”, disse. Ele ressaltou que o sindicato não aceita o parcelamento das rescisões, já que, pela legislação, o dinheiro tem que ser pago de uma única vez ao trabalhador. “Os trabalhadores são orientados a entrar na Justiça do Trabalho por meio da nossa assessoria jurídica e buscar os seus direitos. A ação vem com pedido de liminar para a liberação imediata do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e do seguro-desemprego”, explicou. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região, Sidalino Orsi Júnior, contou que no final de 2015 e começo deste ano o número de demissões foi muito alto no setor. “Agora, o volume de dispensas já não é tão grande quanto no início do ano. Mas elas continuam aqui na região”, afirmou. A diretoria do Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil informou que diante da conjuntura econômica, a quantidade de cortes neste ano está “dentro da normalidade”. Mas ressaltou que quem está sendo dispensado se vê obrigado a ir para a informalidade, porque quase não há vagas formais. Cidades da RMC que geraram vagas entre janeiro e maio Cosmópolis: 88 vagas Pedreira: 6 vagas Sta. Bárbara d’Oeste: 443 vagas Valinhos: 249 vagas Vinhedo: 1.139 vagas No Brasil, 11,44 milhões estão sem ocupação - um recorde O número de brasileiros na fila do desemprego continuou subindo, chegou a 11,44 milhões de pessoas no trimestre encerrado em maio e bateu recorde em números absolutos, mostrou a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É como se quase toda a população de São Paulo (11,9 milhões de habitantes) estivesse desempregada. Com isso, a taxa de desemprego atingiu 11,2%, repetindo o recorde percentual registrado em abril. O contingente de desempregados (ou população desocupada) foi recorde em maio. Ficou acima dos 11,41 milhões registrados no trimestre móvel até abril. Em um ano, 3,284 milhões de pessoas entraram na fila do desemprego. Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, identifica um “ciclo vicioso” no mercado de trabalho, com perda de rendimento e queda na qualidade do emprego. A renda média encolheu 2,7% na comparação com um ano atrás e ficou em R$ 1.982,00 em maio. Para analistas, os dados divulgados reforçam a perspectiva de que a deterioração do mercado de trabalho vai persistir pelo menos até o fim do ano e poderá inclusive atingir o início de 2017. Essa percepção se baseia no fato de que a atividade econômica tende a se estabilizar no fim do ano, mas num nível muito baixo. Normalmente, o desemprego demora a reagir aos ciclos econômicos: quando a atividade se retrai ou desacelera, o desemprego demora um pouco a subir, mas, quando a economia acelera, também demora a cair. Azeredo chama atenção para o aumento de empregos informais ou precários, como os “bicos”. Em um ano, o contingente de empregados no setor privado com carteira assinada encolheu em 1,52 milhão de pessoas, ou 4,2% do total. Por outro lado, cresceu o contingente de empregados em atividades marcadas por informalidade, como “alojamento e alimentação” e “serviços domésticos”. Em um ano, o total de trabalhadores domésticos cresceu em 307 mil pessoas. Segundo Azeredo, “trata-se possivelmente de pessoas que tinham um emprego mais qualificado que foram demitidas e voltaram a trabalhar em casas de famílias” (Do Estadão Conteúdo) Em São Paulo, número chega a 1,97 milhão de pessoas O contingente de desempregados em maio foi estimado em 1,97 milhão de pessoas na região metropolitana de São Paulo - 109 mil a mais que em abril. A desocupação atingiu, no quinto mês do ano, 17,6% da população economicamente ativa, 0,8 ponto percentual a mais que o total de abril (16,8%). Os dados são da Pesquisa de Emprego e Desemprego da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) e do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). “O crescimento deveu-se, pelo segundo mês consecutivo, quase que exclusivamente à expansão da População Economicamente Ativa, com 112 mil pessoas ingressando no mercado de trabalho. O nível de ocupação permaneceu estável, com uma pequena geração de 3 mil postos de trabalho”, destaca a pesquisa. Por setores, a indústria criou 93 mil postos de trabalho em maio, e comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas outras 47 mil. No entanto, houve redução nos serviços, com eliminação de 109 mil postos de trabalho, e na construção, com menos 18 mil. (Agência Brasil)