Na coluna de terça-feira, escrevi sobre um Guarani 3 x 2 Santos do Paulistão de 1959. É um jogo que faz parte do folclore do futebol campineiro porque o Bugre precisava vencer o timaço de Coutinho, Pelé e Pepe para escapar do rebaixamento. Diz a lenda que o técnico João Avelino, orientado por um pai de santo, pediu à diretoria que o time jogasse de meias pretas.Na segunda-feira, quando escrevi a coluna, não encontrei ninguém que confirmasse se o time jogou mesmo com as tais meias. Nesta terça, recebi três relatos de pessoas que assistiram à partida, realizada no dia 20 de dezembro daquele ano. Os três confirmam que, sim, o Guarani jogou com meias pretas naquele domingo chuvoso.O primeiro a escrever foi o leitor Roberto Borghi. Ele apenas disse que foi ao jogo e que o Bugre jogou com a meia diferente.Os outros dois relatos foram maiores, com mais detalhes e, embora confirmem a a cor da meia, são diferentes em outros pontos. Vamos às histórias, deliciosas para quem gosta de futebol.O ex-presidente do Guarani Beto Zini mandou um e-mail, do qual vou reproduzir aqui alguns trechos:“Meu pai, Anselmo Zini, já era diretor na época. Lembro-me como se fosse hoje, ele chegou em casa muito abatido e nervoso. O João Avelino solicitou uma reunião e disse que fez um trabalho junto a uma mãe ou pai de santo. E pediu à diretoria que o uniforme do Guarani para esse jogo fosse totalmente preto. A diretoria respondeu: ‘Se esse é o problema, vamos cair. Pois jamais vamos aceitar tal pedido’.E depois de horas de reunião chegou-se à conclusão que as meias poderiam ser pretas. Eu estava com 15 anos e assisti à partida. No final da meia, na altura do joelho, tinha uma lista verde, muito pequena. O apelido do João Avelino era 71, porque a pasta dos meninos que vendiam jornais nos semáforos tinha o número 71. Ele trabalhava no O Estado de Minas. Após a partida, o João foi carregado pela torcida do estádio até o Largo do Rosario.”O outro leitor me ligou na redação. Tem 85 anos, falou seu nome e pediu para não ser identificado. Contou que era muito amigo de Avelino e diz que ele pediu meia preta porque teve um sonho e não porque consultou um pai de santo.Ele lembra que foi uma correria para conseguir as tais meias pretas, que vieram da Casa das Meias. Ele assistiu à partida e invadiu o gramado para festejar. Contou que João Avelino foi carregado pelos torcedores e que chorou muito após a conquista da vitória tão importante.Tanto Zini como o amigo de Avelino contaram outros detalhes interessantes, os quais não tenho espaço para reproduzir. Agradeço aos três pela colaboração. Mais do que confirmar o uso das meias pretas, eles me permitiram escrever uma coluna com boas histórias de um futebol que não existe mais, mas que foi determinante para que essa paixão alcançasse o tamanho que tem hoje.