O sexo é a própria natureza humana – existimos e nos reproduzimos por sua conta. Está em nós, de forma exposta ou tácita. Mesmo quando criamos meios artificiais de reprodução, a essência biológica é sexual. Ao longo de muitos séculos, escondemos o sexo de nós mesmos. Pelo menos, desde a queda do Império Romano, no séc. 5, até a Revolução Sexual da metade do séc. 20, estivemos negando-o. A imposição moralista judaico-cristã, o radicalismo islâmico e os excessos da Inquisição Católica insistiram com a associação sexo-pecado. Curiosa e contraditoriamente, no entanto, vestir o corpo é declarar que ele é sexual. Ninguém se incomodaria em cobrir algo sem graça ou desinteressante. A sexualidade exposta até parece, às vezes, menos atraente do que a velada, subentendida. Para não se declarar absolutamente pornográfico, o material artístico pode ser adjetivado como ‘erótico’, um recurso de eufemismo para driblar algum ranço de censura e obter aprovação de certas mulheres. A malícia, mesmo nas épocas mais moralistas, foi sempre reconhecida como própria da natureza dos homens. A malícia feminina agora se permite florescer, inclusive com produção pornográfica específica. No final do século 19, surgiram na Europa os primeiros filmes pornográficos. Eram raros, caros e não muito explícitos. Em relação à enorme disponibilidade de vídeos dos nossos dias e ao grande destaque na exposição da anatomia genital, eram ingênuos. A produção pornô geral cresceu muito a partir dos anos 1960. A Escandinávia era pródiga e quase única nesse âmbito. Hoje, estima-se que o mercado mundial de pornografia, incluindo vídeos, gravuras, livros, filmes, tudo, movimenta 14 bilhões de dólares por ano. Portanto, mesmo depois de toda a transformação revolucionária que já atinge 70 anos, ainda há muito interesse no sexo explícito. A rigor, no tempo hodierno, isso seria pouco cabível: existem oportunidades de sexo casual, relações descompromissadas, as mais variadas, presenciais e virtuais. Há pares que se apresentam com muita desinibição, expondo os genitais, sem constrangimento ou vergonha. Entretanto, isso se define mesmo como um exclusivo encontro carnal, sem participação anímica. Os parceiros podem até mesmo não se identificar - a grande intimidade corporal fica anônima. No entanto, como são pessoas, com as carências e sensibilidades humanas, elas participam desse encontro essencialmente corporal necessitando se proteger também no plano espiritual. Terão que se cuidar nos dois níveis: preservativo genital e camisinha para o coração. É claro que o envolvimento romântico (isso segue em alta, apesar das impressões contrárias), aliado ao entusiasmo erótico enriquece profundamente a experiência íntima. Almas abertas, intensamente participativas, expostas, podem promover um clima erótico exponencial, permitindo que os pares escolham ocasiões de sexo muito explícito ou de sedução implícita, sutil e deliciosa. Joaquim Z. Motta é psiquiatra, sexólogo e coordenador do Grupo de Estudos do Amor.