FABIANA BONILHA

Sete bilhões de vidas

Fabiana Bonilha
07/06/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 12:59

Recentemente, eu descobri que sou apenas uma entre sete bilhões de pessoas que vivem em nosso planeta. Fiz esta descoberta ao ler a notícia de que, há poucas semanas, nasceu aquele que simbolicamente foi designado como o sétimo bilionésimo habitante da Terra. Suponho que o anúncio deste dado emblemático não deva passar em branco, pois ele nos leva a importantes reflexões a respeito de nossa condição de vida atual.

Antes de tudo, talvez caiba a pergunta: o que quer dizer exatamente uma quantia de sete bilhões? Dentro dos limites de nossa percepção, temos uma certa dificuldade para dimensionarmos de modo concreto o significado deste número, e para nos situarmos em meio a esta imensidão. Na tentativa de construirmos uma analogia, , poderíamos imaginar um pequeno tanque de areia, e supor que dentro dele, deva haver aproximadamente sete bilhões de grãos.

Assim, de modo proporcional, cada um de nós equivaleria, no mundo, a apenas um daqueles minúsculos grãozinhos. isoladamente, seríamos então insignificantes, pois nossa presença ou ausência não faria a menor diferença em vista desta cifra numérica. Tomando como parâmetro a metáfora, um grãozinho a mais ou a menos em nosso tanque imaginário não alteraria em nada a quantidade de areia nele existente.

Mas, tratando-se de seres humanos, precisamos considerar que cada um dos sete bilhões de indivíduos que aqui habitam tem um rosto, uma missão e uma biografia, e isto torna cada exemplar de nossa espécie um ser único e especial. A existência de sete bilhões de pessoas implica então que haja sete bilhões de maneiras diferentes e irrepetíveis de ser e de estar no mundo. Deparamo-nos, pois, com um mundo altamente diverso, cuja complexidade nos impõe muitos desafios, sobretudo em relação a como atender às demandas de todas estas pessoas.

Um dos desafios inerentes à atualidade consiste no aumento da expectativa de vida, que traz como consequência um inevitável envelhecimento populacional. Torna-se então importante a criação de novos aparatos sociais e tecnológicos que supram as necessidades desta população idosa, e que atendam às especificidades deste crescente grupo etário.

Além disso, ao olharmos para um mundo tão povoado, nos pomos a refletir sobre a natureza das inúmeras interações que ocorrem entre os seres humanos. Podemos observar que, devido a muitas circunstâncias, aleatórias ou intencionais, as histórias destes sete bilhões de habitantes tendem a se entrelaçar, formando uma rede de pessoas interconectadas. O avanço da tecnologia tem ampliado cada vez mais nossas possibilidades de conexões, diminuindo as distâncias que há entre nós e rompendo as fronteiras determinadas pelo tempo. Em poucos minutos, eu posso me comunicar com alguém que esteja do outro lado do mundo, e, simultaneamente, com mais três ou quatro pessoas que se encontrem em diferentes lugares do planeta.

O aumento da velocidade com que estes contatos se estabelecem não garante, entretanto, um incremento na qualidade desta comunicação interpessoal. Como tudo neste nosso mundo pós-moderno é instantâneo e passageiro, os contatos também tendem a ficar mais superficiais e menos consistentes. Nosso desafio individual, portanto, é o de fortalecer nossa rede de relações, buscando encontros reais ou virtuais que sejam de fato genuínos e autênticos.

Em face de um mundo tão populoso, também não podemos nos esquecer dos desafios relativos à manutenção da própria vida. Precisamos lembrar que a existência de sete bilhões de pessoas constitui um alerta em relação ao cuidado para com o planeta. Será que, no futuro, haverá recursos que sustentem a vida de tanta gente? Como podemos e devemos administrar estes recursos?

Ao falarmos sobre um mundo povoado por sete bilhões de seres humanos, estamos enfim lidando com uma realidade complexa, devido à pluralidade e as incertezas que a constituem. Ao que parece, este é um momento que se configura como uma crise, palavra que, por sua vez, tem sua raiz etimológica na junção de dois outros vocábulos: perigo e oportunidade.

Trata-se de um momento crucial, em que todos nós, cidadãos do século XXI, recebemos o convite para sermos corresponsáveis na construção deste mundo em que vivemos, e, do mesmo modo, somos convidados a transformá-lo a cada dia de nossa existência.

*Fabiana Bonilha, Doutora em Música pela UNICAMP, psicóloga, é cega congênita, e escreve semanalmente no E-Braille.

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