Arte

Sérgio Campelo vence importante concurso latino-americano

Quando o mote foi apresentado, Campelo logo pensou no compositor - na verdade, pensou também em Carlos Gardel, mas preferiu Piazzolla

Marita Siqueira
02/10/2016 às 05:00.
Atualizado em 22/04/2022 às 22:10

Lápis nas mãos, discos de Astor Piazzolla na vitrola, criatividade em jogo, talento à prova. Foi nesse universo um tanto lírico, criado em seu ateliê, que mergulhou o desenhista Sérgio Campelo, de 35 anos, por dois longos dias. Entre uma vibração melódica, um estalo na cuca e uma arrumada no bigode à la Salvador Dalí, os traços fluíram como a música e transformaram o compositor argentino e seu bandoneon em um só organismo vivo e pulsante. Assim nasceu a imagem Piazzolla, com a qual Campelo venceu o 21° Salão Mercosul Internacional Diógenes Taborda 2016, em Buenos Aires, uma das mais importantes premiações do gênero na América Latina. Ele ganhou na categoria Ilustração, que tinha o tango como tema. “Piazzolla é uma referência que eu tinha de uma antiga professora argentina. Ela mostrava bastante coisa dele”, conta, referindo-se à professora de espanhol Lia Cancio Pucci. Quando o mote foi apresentado, Campelo logo pensou no compositor – na verdade, pensou também em Carlos Gardel, mas preferiu Piazzolla. “Achei interessante trabalhar com o instrumento; as rugas na testa são os fólios do bandoneon. Fiquei imaginando como seria Piazzolla sem seu instrumento musical, assim como Picasso ou Dalí sem seus pincéis. São extensões do corpo do artista”, revela o paulistano, radicado em Campinas desde a adolescência. Com o pé direito Essa foi a estreia do ilustrador em salões internacionais. “Fiquei muito feliz de ter entrado no salão, nem imaginava que poderia ganhar. Já estava contente demais só de estar selecionado entre aqueles caras de todo o mundo. É um incentivo para continuar. Acho que o prêmio é a validação dessa história. Não era à toa meu gosto pelo desenho, minha vontade de trabalhar com arte, o fato de ter abandonado o curso de engenharia”, comenta. Depois de atuar em vários segmentos, todos flertando com a arte, Campelo ingressou no curso de artes visuais na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) em 2011. Formou-se no início deste ano em uma graduação mista com a Universidade Belas Artes de Lisboa, onde ficou dois anos em intercâmbio. “Aproveitei a oportunidade de estar na Europa para estudar arte, grafite, desenho, pintura, enfim, tudo que tem.” Muito antes de pensar em carimbar o passaporte, o desenhista começou a rabiscar os papéis copiando super-heróis e escudos de times de futebol, como muitas crianças fazem. “Minha história com o desenho acompanha o aprendizado”, constata ele, que na escola teve a atenção despertada pelas obras plásticas mostradas pelas professoras. Apesar do apreço, Campelo demorou a firmar as expectativas que recaem sobre o artista. Trabalhou com bordado, em parceria com a mãe e a tia costureiras, serigrafia e pintura, atuou como desenhista mecânico, projetista de máquinas, muralista e designer gráfico, de embalagens e de móveis. A trajetória ganhou um norte apenas em 2004, quando iniciou um curso de desenho artístico com Ricardo Quintana, na Pandora Escola de Arte. “Fui fazendo cursos enquanto trabalhava com desenho arquitetônico e design gráfico. Até que aos 30 anos bateu a crise e resolvi fazer faculdade. Desde lá, as coisas aconteceram rápido.” O estopim veio em 2012, quando, incentivado pelo amigo cartunista Fabiano Carriero, participou de seu primeiro concurso, o 20º Salão Universitário de Humor de Piracicaba. “Vi que muitos cartunistas que admiro e que dedicam sua vida ao desenho passaram por lá”, diz Campelo, que se dedica à arte tanto diante dos papéis quanto na função de professor – entre seus alunos está uma turma de terceira idade que se encontra numa faculdade de Valinhos. Foto: Carlos Sousa Ramos Dalcio Agora o artista quer se voltar às gravuras, estudadas e desenvolvidas por ele em terras lusitanas, e assim tornar a arte mais acessível. Trabalhos nesse formato, afinal, são comercializados a preços bem inferiores aos dos quadros. Além do gosto pelo gênero, o desenhista trouxe para Campinas a boina e o bigode com as pontas torcidas como lembranças portuguesas. Que venham mais salões para levar o nome da cidade mundo afora por meio dos traços de Campelo. Você sabia? Ilustração é o desenho que conta a história de uma imagem, apresentando elementos de uma situação com o intuito de informar. Já desenho é, simplesmente, a representação fiel de algo. Inspiração Os cinco grandes mestres da arte plástica para Sérgio Campelo 1_Salvador Dalí 2_Leonardo da Vinci 3_Dálcio Machado 4_Bira Dantas 5_Eduardo Kobra

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