Semana Carlos Gomes ainda está em compasso de espera

As expectativas para este ano são grandes, as entidades culturais estão se mobilizando mas, até o momento, ações efetivas para marcar as homenagens ao filho mais ilustre de Campinas — o maestro e compositor Antônio Carlos Gomes, o Tonico (1836-1896) — ainda não deslancharam por parte do poder público. Uma lei estadual de 1956 — reforçada por lei municipal de 1996 — instituiu a Semana Carlos Gomes, a ser realizada anualmente em setembro, mês da morte do compositor, há 117 anos, e que prevê a realização de várias ações alusivas ao maestro.

No entanto, a comissão responsável pela promoção dos eventos comemorativos que, por lei, deve ser constituída, “no mínimo 180 dias antes do início da semana oficial”, ou seja, até 15 de março de cada ano, ainda não foi formada oficialmente pela Secretaria de Cultura de Campinas. “Uma reunião chegou a ser marcada há cerca de duas semanas, mas foi cancelada de última hora. Estamos esperando um novo chamamento da Secretaria de Cultura”, informa Léa Ziggiatti Monteiro, diretora do Conservatório Carlos Gomes, uma das instituições que anualmente participam das ações comemorativas.

Segundo o secretário de Cultura, Ney Carrasco, a comissão está sendo montada e será divulgada nos próximos dias no Diário Oficial do Município. “As atividades serão similares às realizadas no ano passado, talvez com alguma ação mais sofisticada, mas ainda não há nada definido. A constituição da comissão está um pouco atrasada de acordo com o estipulado em lei, mas há tempo suficiente. Tem muita coisa acontecendo na Secretaria. O foco nesse momento é a Virada Cultural, que ocorre em maio”, explica Carrasco. Segundo ele, nas próximas duas semanas a comissão deve fazer sua primeira reunião e então, a Secretaria terá dados mais objetivos para informar.

Iniciativas

Independentemente do poder público, algumas iniciativas que já se tornaram tradicionais estão sendo elaboradas. O Centro de Ciências Letras e Artes (CCLA), com apoio da Associação Brasileira Carlos Gomes de Cantores Líricos (Abal) promove pelo sétimo ano consecutivo seu Concurso Estímulo para Cantores Líricos, que premia a melhor voz masculina e feminina e melhor intérprete de Carlos Gomes. “Como em 2013 completa-se 150 anos da estreia da ópera Joanna de Flandres e 140 anos de Fosca, as músicas de confronto do concurso serão partituras dessas duas obras”, diz o presidente do CCLA, Marino Ziggiatti. “Todas as instituições que levam o nome de Carlos Gomes realizam ações alusivas ao maestro em setembro. Mas temos a expectativa que este ano aconteça — ao menos em oratória, já que o Teatro Castro Mendes não tem fosso que permita a encenação de óperas — uma montagem de Joanna de Flandres, para marcar os 150 anos de sua estreia”, diz o presidente da Abal, Alcides Acosta, citando também os 140 anos de Fosca. “Essas duas efemérides requerem um registro especial na terra de Carlos Gomes, além dos concertos e recitais que costumam acontecer em setembro”, completa Acosta.

“De nossa parte, como ocorre todos os anos, em setembro, nossos Salões de Concerto são sobre Carlos Gomes. Também vamos montar, com o acervo do Museu de Arte Infantil do Conservatório, uma exposição com obras alusivas ao maestro, que pretendemos expor no saguão do Teatro Castro Mendes”, conta Léa.

O diretor de Cultura, Gabriel Rapassi, informa que a Secretaria pretende também solicitar colaboração do governo do Estado nas homenagens ao campineiro ilustre. “Obter recursos financeiros é mais difícil, mas vamos ver a possibilidade de trazer alguma ópera de Carlos Gomes para Campinas, ação que não inviabiliza outras montagens locais”, diz Rapassi. Segundo ele, a comissão organizadora da Semana ou Mês de Carlos Gomes está em fase final de formação e deve incluir, além das instituições que participam todos os anos e de um representante da Câmara de Vereadores, alguém do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

“Não fui comunicado oficialmente, mas pedi para ser indicado pela Câmara. Carlos Gomes é muito conhecido na Itália, no Recife, mas ainda desconhecido em sua terra. Temos que cuidar de nossa história e preparar um mês de muitas homenagens”, afirma o vereador Thiago Ferrari, representante da Câmara na comissão. Léa Ziggiatti lembra que ela e as sopranos Niza de Castro Tank e Vera Bessagno Bréscia já foram chamadas de “as viúvas” de Carlos Gomes, por defenderem ações de resgate do nome do maestro. “Somos mesmo, e vamos continuar lutando para divulgar cada vez mais o nome do maestro”, completa. Outra ação tradicional em homenagem ao compositor é a colocação de flores no monumento-túmulo de Carlos Gomes, instalado na Praça Bento Quirino.

Biografia

Antônio Carlos Gomes nasceu em Campinas em 11 de julho de 1836. Começou a estudar música com o pai, Maneco Gomes. Continuou os estudos no conservatório do Rio de Janeiro, onde apresentou suas primeiras óperas: A Noite do Castelo (1861) e Joanna de Flandres (1863). Com uma bolsa de estudos para o conservatório, estudou em Milão, na Itália, com Lauro Rossi e diplomou-se em 1866. Em março de 1870 estreou no Teatro Scala de Milão sua ópera mais conhecida, O Guarani, baseada no romance do mesmo nome de José de Alencar. Esta ópera foi encenada nas principais capitais europeias e consagrou o autor, que é considerado o maior gênio musical das Américas.

Com apoio do imperador D. Pedro II continuou vivendo, compondo e estudando em Milão. Com a proclamação da República perdeu o apoio oficial. Doente e em dificuldades financeiras, voltou ao Brasil em 1892 para ocupar a diretoria do Conservatório de Música de Belém, cargo criado pelo governador Lauro Sodré para ajudá-lo. Carlos Gomes morreu em Belém, no dia 16 de setembro de 1896.