AGRISHOW

Sem hotéis, motéis e chácaras viram opção

Crescimento de leitos não acompanha aumento de visitantes da feira nos últimos anos

Luís Fernando Manzoli
23/04/2013 às 05:02.
Atualizado em 25/04/2022 às 19:10
Rafael Pacca, dos motéis Savana e Village: para clientes com a cabeça aberta (Sérgio Masson/AAN)

Rafael Pacca, dos motéis Savana e Village: para clientes com a cabeça aberta (Sérgio Masson/AAN)

Maior feira do agronegócio brasileiro, a Agrishow, em Ribeirão Preto, cresce ano a ano – em volume de negócios e visitantes. Em 2011, 145 mil pessoas passaram pela feira, contra 150 mil no ano passado. Para o evento deste ano, que começa em 29 de abril, a previsão é de 152 mil visitantes.

No entanto, a hotelaria de Ribeirão, um dos setores “paralelos” que deveria acompanhar o crescimento da Agrishow para garantir o sucesso do evento, não está fazendo sua parte. Segundo o Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Ribeirão Preto, o setor tem atualmente cerca de 11 mil leitos no município.

Nos últimos dois anos, a rede ganhou pouco mais de 1 mil quartos na cidade – o resultado é a falta evidente de vagas para o período da feira e o “malabarismo” de expositores para garantir o conforto dos trabalhadores e convidados que vêm a Ribeirão.

CABEÇA ABERTA

Uma das opções são os motéis. Rafael Pacca de Albuquerque, 60 anos, proprietário do Savana e do Village, diz que, das 400 hospedagens que tem disponíveis nos dois estabelecimentos para os cinco dias da Agrishow, já está com 250 lotadas. “Gosto de guardar pelo menos 30% das vagas para o movimento ‘habitual’ dos motéis, que também aumenta na época da Agrishow”, disse.

Ele tem consciência de que a procura em seus estabelecimentos só aumenta pela falta de leitos em hotéis, mas diz que o preconceito contra os motéis começa a cair. “Temos quartos mais luxuosos que de hotéis, com serviços iguais ou superiores, e preços menores”, afirmou.

Segundo Albuquerque, uma diária em seus motéis pode variar de R$ 200 a R$ 400 – com café da manhã incluso e cozinha 24 horas à disposição, além de outros benefícios, dependendo do quarto. “Tem clientes que já reservam comigo direto, nem procuram hotel. São pessoas com a cabeça mais aberta, desencanadas.”

Outra opção para os clientes são chácaras e ranchos, normalmente alugados para festas e eventos. O empresário Mano Magalhães conta que reservou um rancho que tem às margens do Rio Pardo para uma empresa do Tocantins que vai trazer 15 pessoas à Agrishow. Para os cinco dias de feira, ele vai cobrar R$ 7,5 mil.

“É o segundo ano que eles fecham comigo. Geralmente, a reserva é feita logo depois da edição da feira no ano anterior, com a confirmação uns seis meses depois”, afirmou. Como benefícios, Magalhães cita a paisagem e a estrutura. “O preço é igual ao de muitos hotéis. E aqui eles podem fazer churrasco, pescar, coisas que não poderiam em hotéis tradicionais.”

CUSTO RIBEIRÃO

Um estudo da FEA (Faculdade de Economia e Administração) da USP-RP, feito em 2011, diz que o índice de ocupação médio de hotéis em Ribeirão é de 85% ao ano, um dos mais altos do País. Segundo o estudo, em épocas de Agrishow as vagas em hotéis se esgotam em Ribeirão e em cidades no raio de 120 quilômetros.

Empresários e trabalhadores ligados ao setor confirmam. Segundo o presidente do sindicato da categoria na região, Carlos Frederico Marques, a reserva de vagas para a Agrishow se esgota praticamente um ano antes, quando termina a edição anterior da feira.

A demanda elevada e a baixa oferta pelo serviço provoca um fenômeno inevitável em qualquer setor econômico – o aumento dos preços. O chamado “Custo Ribeirão” já foi até alvo de discussão política quando a Agrishow ameaçou trocar Ribeirão por São Carlos, há três anos – na época, a Prefeitura prometeu discutir medidas com os setores econômicos da cidade para evitar o problema.

Pedro Lima, gerente de marketing da Agritech, de Piracicaba, diz que a empresa participa há 16 anos da Agrishow, e que a dificuldade em conseguir vagas, a preços mais altos que o normal, não é uma novidade.

Como exemplo, ele cita que, no ano passado, pagou R$ 420 pela diária em um quarto duplo. Neste ano, no mesmo hotel, vai pagar R$ 460. “É um aumento de 12%, acima de qualquer inflação, sem contar que o preço é maior que o cobrado normalmente. Mesmo com as promessas, não foi feito nada”, disse.

Ele “alivia” para Ribeirão, no entanto, ao dizer que o mesmo acontece em outras cidades do País, mas diz que o mau exemplo dos outros não deveria justificar a atitude local. “É normal (aumentar os preços), mas deveria haver algo em troca. Serviços e atendimento melhores, por exemplo”, afirmou.

Rosemeire Zucolotto, gerente geral do Stream, hotel tradicional no Centro de Ribeirão, diz que vende pacotes, e que os preços são combinados com os clientes no momento da reserva. “Varia porque uns querem refeição completa, outros não. Mas usamos o valor de tabela do balcão, sem promoção. De um ano para o outro, tem um reajuste, mas é normal, sem exageros”, garante.

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