JOGO RÁPIDO

Sem espaço para desculpas

Coluna publicada na edição de 26/11/19 do Correio Popular

Carlo Carcani
26/11/2019 às 01:00.
Atualizado em 30/03/2022 às 13:28

O trabalho de Jorge Jesus não seria diminuído se o desfecho da final de sábado em Lima não tivesse sido tão eletrizante. Assim como Marcelo Gallardo segue sendo um dos melhores treinadores da América do Sul (estaria, inclusive, no radar do Barcelona), o português não perderia o enorme prestígio que conquistou em apenas quatro meses de trabalho no futebol brasileiro. Mas ao conquistar um título internacional pelo qual o Flamengo lutou durante 38 anos, Jorge Jesus não deixou espaço para desculpas. Telê Santana fez um trabalho inesquecível na Copa de 1982, mas os defensores de um futebol mais burocrático e cauteloso adoram lembrar que o Brasil perdeu, embora Telê tenha montado um time muito melhor do que a Itália do campeão Enzo Bearzot. Com Jorge Jesus, os adeptos do “futebol de resultados” não terão o que contestar. O Flamengo ganhou a Libertadores e o Brasileirão com um esquema essencialmente ofensivo. É bonito ver o Flamengo jogar e discordo totalmente de quem afirma que o time “jogou mal” em Lima. É preciso levar em consideração a experiência do River Plate. O campeão de 2018 da Libertadores fez uma excelente marcação e conseguiu conter o forte ataque carioca durante boa parte do jogo. Mas cansou no final e o Flamengo, acostumado a jogar permanentemente em busca do gol, precisou de poucos minutos para criar boas chances e virar o placar com Gabigol. Jesus foi campeão jogando para frente. O Flamengo já fez 73 gols e ainda vai disputar mais quatro partidas. O Corinthians foi campeão brasileiro em 2017 com apenas 50 gols, exatamente a mesma marca obtida por Bahia (12º colocado naquele ano), Fluminense (14º) e Vitória (16º). Evidentemente, é mais importante ser campeão do que marcar muitos gols. Mas os técnicos de clubes de maior orçamento deveriam ter a obrigação de buscar títulos praticando um futebol compatível com o altíssimo custo de seus elencos. No Brasil, imprensa, dirigentes e torcidas se acostumaram a tolerar o futebol de resultados. Nos últimos anos, muitos treinadores venceram jogando assim e ganharam prestígio. Jorge Jesus, invicto há 21 rodadas e campeão com enorme antecedência, mostrou a diferença entre um time que se contenta com empates e vitórias magras e outro que joga para vencer sempre, de preferência com folga. Ao contrário do que aconteceu após a Copa de 1982, a cobrança por uma postura ofensiva nos times grandes será maior. O mesmo vale para a Seleção. Jesus mostrou que os mais fortes devem e podem jogar sempre como times grandes. Sem desculpas.

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