EM CAMPINAS

Vítima de feminicídio vivia ciclo clássico de violência doméstica

Agressões ocorreram por um período de ao menos 12 anos, mas a vítima tinha medo de denunciar

Alenita Ramirez/ [email protected]
04/01/2023 às 09:24.
Atualizado em 04/01/2023 às 09:24
Lavanderia da residência, onde o corpo da vítima foi encontrado dentro do tanquinho de lavar roupas (Rodrigo Zanotto)

Lavanderia da residência, onde o corpo da vítima foi encontrado dentro do tanquinho de lavar roupas (Rodrigo Zanotto)

Regina Lima da Silva Costa, de 40 anos, foi assassinada pelo marido, Wagner Roberto Cândido da Costa, de 48 anos, por volta das 14h do domingo, primeiro dia do ano, tornando-se a primeira vítima de feminicídio de Campinas em 2023. O crime aconteceu cerca de meia hora depois que os pais da vítima deixaram a casa do casal, onde participaram de um almoço de confraternização. Costa matou Regina na frente do filho de seis anos e ficou no local até a madrugada de segunda-feira, quando decidiu fugir com a criança. 

Segundo parentes e vizinhos, Regina vivia um ciclo de agressão e violência há pelo menos 12 anos, mas nunca denunciou o marido porque o mesmo ameaçava matar os pais dela. O corpo dela foi enterrado na tarde de terça-feira (3), no Cemitério Parque Nossa Senhora da Conceição (dos Amarais), sob comoção. 

O casal vivia em casa própria, no bairro Chácara Santa Margarida, em Barão Geraldo, desde 2010. Ela trabalhava na Transurc. Além da criança, Regina também era mãe de um jovem de 18 anos, que passou a virada do ano na praia com amigos.

“Meus tios passaram o ano com ela. Estava tudo bem, aparentemente. Eles ficaram juntos até por volta das 13h30, quando meus tios voltaram para a casa deles, que é aqui por perto”, contou uma prima da vítima, que se identificou apenas como Liliane, que mora em Curitiba (PR) e veio para o enterro de Regina.

De acordo com vizinhos, a mulher quase não saia na rua e tinha pouco contato com os moradores, porque o marido a proibia. No entanto, Costa ficava na rua e conversava com os vizinhos. As brigas do casal eram constantes e a criança presenciava tudo. “Ele é um grande ator. Batia muito nela. A Regina pedia ajuda e chamávamos a polícia, mas quando a polícia chegava e batia no portão da casa deles, ninguém atendia e a polícia ia embora. Ele a ameaçava e proibia que ela falasse com a polícia. Era comum vê-la andando com hematomas no rosto. Quando alguém perguntava, respondia que era ‘o de sempre’. Ela não era de falar muito”, contou um vizinho que preferiu não ser identificado. 

Segundo os moradores, no domingo, estava tudo silencioso, não se ouviu qualquer barulho ou pedido de socorro. Eles somente souberam do crime na manhã da segunda-feira, quando uma irmã dele, moradora de Brasília, avisou os pais da vítima. “Vim correndo e arrombei a porta. A casa estava fechada. Depois de procurarmos, achamos o corpo no tanquinho”, contou, inconformado, o pai da vítima, Israel Togno da Silva, de 74 anos. “Minha filha nunca contou nada sobre as agressões. Nunca imaginei que ele fosse fazer isso, apesar de ele não valer nada. No domingo, ele não bebeu bebida alcoólica”, acrescentou.

Regina era a caçula de três irmãos e, segundo a prima, era casada com Costa desde 1999. Na madrugada da segunda-feira, ele saiu de casa com o filho caçula e, pela manhã, ligou para a irmã mais velha, que mora em Hortolândia. Esta entrou em contato com outra irmã, em Brasília. O carro dele foi achado abandonado no bairro São Marcos, em Valinhos.

O suspeito foi localizado pela Polícia Militar (PM) caminhando em uma rua da Vila Brandina, com o filho, que, segundo o tenente Matheus Zopolato Cavalcante, estava apavorado. “Quando o encontramos, ele estava lúcido e se mostrou arrependido pelo crime. A criança estava muito assustada”, contou.

De acordo com vizinhos e parentes, o suspeito é usuário de entorpecentes e tem passagem criminal por falta de pagamento de pensão e furtos. A criança teria presenciado toda a tragédia e narrou com detalhes para os parentes o que aconteceu. O menino foi entregue aos cuidados dos avós maternos. 

O corpo de Regina foi encontrado dentro de um taquinho, na lavanderia. Havia marcas de golpes na cabeça e um corte profundo no pescoço. Ela é a primeira vítima de violência doméstica em Campinas neste ano. 

Em 2022, nove mulheres foram assassinadas por seus companheiros, que não aceitavam o fim do relacionamento. No primeiro caso do ano passado, um homem matou a filha de 3 anos, a mulher de 30 anos e a sogra de 71 anos. 

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por