PIRATAS DO ASFALTO

Transportadoras apostam na tecnologia para evitar roubos

Companhias concentram esforços no rastreamento via satélite, fazendo uso de sistemas de GPS

Alenita Ramirez/ alenita.ramirez@rac.com.br
25/12/2023 às 13:06.
Atualizado em 25/12/2023 às 13:06

O caminhoneiro Marcus Yure vivenciou momentos de pavor ao ser abordado por criminosos em dois carros, enquanto trafegava pelo estado da Bahia (Rodrigo Zanotto)

Devido ao expressivo aumento nos casos de roubo de cargas nos últimos anos, sobretudo no Estado de São Paulo, as empresas de transporte têm direcionado significativos investimentos em tecnologia para mitigar as ações criminosas. A despeito de não divulgarem números específicos, as companhias têm concentrado esforços no aprimoramento do rastreamento via satélite, fazendo uso de sistemas de GPS e instalando câmeras de segurança tanto no interior quanto na parte externa dos veículos. Atualmente, as empresas de segurança estudam estratégias para enfrentar o "jammer", um dispositivo empregado pela criminalidade para neutralizar os sistemas de rastreamento.

"O jammer é uma ferramenta há muito tempo utilizada por criminosos, e infelizmente pode ser adquirida facilmente em grandes centros urbanos. As empresas de tecnologia estão empenhadas em combater o jammer, mas lamentavelmente os criminosos sempre parecem estar um passo à frente", observa o coronel da Polícia Militar (PM) e assessor de segurança da Federação das Empresas em Transportes de Cargas de São Paulo (Fetcesp), do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas (Setcesp) e Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística), Mauro Cezar dos Santos Ricciarelli.

É fato que, mesmo diante do avanço tecnológico, os criminosos não se intimidam quando o jammer não consegue decodificar o sistema de rastreamento de um caminhão. Caso necessário, eles recorrem a ameaças, coagindo as vítimas a revelarem informações confidenciais.

Recentemente, a Polícia Federal (PF) de Campinas desmantelou uma quadrilha originária da região de Osasco, na capital paulista, composta por pelo menos 15 integrantes que utilizavam mulheres como isca contra caminhoneiros. O grupo empregava aplicativos de fretes para oferecer falsos serviços de transporte de cargas, atraindo assim os alvos para posterior roubo de caminhões, e, em alguns casos, também da carga.

Os criminosos, atuando também na região de Campinas, capturavam as vítimas e as conduziam para cativeiros situados em áreas de mata e comunidades de difícil acesso policial, aguardando o desbloqueio dos caminhões para realizar o transbordo da carga e definir o destino do cavalo mecânico (cabine).

Em uma das investidas dos bandidos, o responsável pelo desbloqueio do rastreamento não conseguiu desativar o sistema do caminhão. Em resposta, entrou em contato pelo WhatsApp com um cúmplice que se encontrava no cativeiro. Este, por sua vez, coagiu a vítima a gravar um vídeo explicativo sobre o funcionamento do caminhão, proporcionando aos criminosos a habilidade de conduzi-lo com base nas instruções fornecidas no vídeo gravado pelo motorista", detalhou o delegado-chefe da PF, Edson Geraldo de Souza.

No entanto, o caminhão permaneceu bloqueado, uma vez que nos sistemas atuais em uso, as empresas não compartilham as informações de monitoramento com os caminhoneiros. "Somente as empresas têm acesso", afirmou Jucelio Mariano da Conceição, caminhoneiro de 32 anos que atua há quatro anos no transporte de Arla 32, um combustível utilizado em caminhões. "Ao ser contratado, fui informado sobre o uso do rastreamento e alertado de que não seriam fornecidas informações por questões de segurança", ressaltou Conceição, que, até o momento, não foi vítima de assaltos, embora conheça colegas de profissão que já foram levados como reféns. "Todos os dias, oro e confio nas mãos de Deus", enfatizou.

Dos 11 roubos investigados pela PF, que possivelmente foram cometidos por essa quadrilha, quatro não foram bem-sucedidos, uma vez que os criminosos não conseguiram contornar a tecnologia empregada. Outros três casos não tiveram a carga recuperada.

Em muitas situações, as vítimas foram coagidas a realizar transferências financeiras e, em alguns casos, os motoristas e seus acompanhantes, frequentemente as esposas, foram alvos de sequestro com extorsão. Os criminosos entravam em contato com os familiares, exigindo pagamento de resgate. Para pressionar o pagamento, os bandidos produziam vídeos de apelo das vítimas e os enviavam para a família, exigindo que não informassem a polícia.

Segundo Souza, os membros dessa associação demonstravam comportamento agressivo. O grupo desempenhava diferentes funções, incluindo a de olheiro, responsável por identificar e localizar os caminhões, o mateiro, encarregado do sequestro e do confinamento das vítimas, sendo particularmente violento nesse contexto, o condutor ou responsável pela guarda da carga, e aqueles encarregados dos dispositivos eletrônicos.

Em alguns dos assaltos, os investigados tiveram que abandonar o caminhão. Isso ocorreu quando o veículo travou, foi desligado ou quando eles não conseguiram efetivamente aplicar a tecnologia do bloqueador de sinal, conhecido como jammer. Dessa forma, optaram por abandonar o caminhão para evitar a captura", explicou.

Uma estimativa da Secretaria Nacional de Segurança Pública revela que, além dos próprios caminhões, os itens mais visados pelos criminosos incluem alimentos, combustíveis, produtos farmacêuticos, autopeças, materiais têxteis e de confecção.

O Estado de São Paulo concentra 60% dos roubos de cargas no país, sendo uma parcela considerável desses incidentes registrada na Região Metropolitana de Campinas (RMC), devido à sua configuração logística, composta por excelentes rodovias e um significativo volume de cargas em circulação.

"Os roubos na região de Campinas, não apenas de cargas, mas roubos em geral, infelizmente, são bastante significativos. Talvez isso se deva ao papel de polo de distribuição ou às características históricas da região, que apresenta historicamente um elevado número de ocorrências. A polícia e as empresas têm desempenhado seus papéis, o que, de certa forma, tem contido a ação criminosa", observou o coronel da PM Mauro.

Marcus Yure, caminhoneiro de 25 anos e residente em Campinas, percorre todo o Brasil para realizar entregas de carga. Há um ano, Yure vivenciou momentos de pavor ao ser abordado por criminosos em dois carros, enquanto trafegava pelo estado da Bahia. Em uma estrada estreita, ele conseguiu evitar que os bandidos o ultrapassassem e correu até uma base da polícia rodoviária. Os criminosos fugiram. "Só reagi porque a estrada era muito estreita, mas os assaltos são frequentes", relatou o motorista, cujo caminhão é integralmente controlado e monitorado por satélite.

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