MUDANÇA ESTRATÉGICA

Tráfico terceiriza a produção para se livrar de flagrantes

Crime organizado adota modelo de cadeia produtiva, típica dos negócios lícitos e convencionais

Alenita Ramirez/ [email protected]
12/04/2024 às 09:50.
Atualizado em 12/04/2024 às 09:50
Policiais apreenderam 62.763 unidades de cocaína e 12 tabletes de maconha em um veículo; as drogas estavam embaladas em sacos plásticos (Divulgação/ Deic)

Policiais apreenderam 62.763 unidades de cocaína e 12 tabletes de maconha em um veículo; as drogas estavam embaladas em sacos plásticos (Divulgação/ Deic)

No submundo do crime organizado, uma nova tendência está se delineando, assemelhando-se aos modelos de negócios convencionais: traficantes de drogas estão adotando uma abordagem de cadeia produtiva para a distribuição de entorpecentes. Esta mudança estratégica, detectada pela Polícia Civil de Campinas, demonstra uma busca por eficiência operacional e uma tentativa de evitar as incursões das autoridades. Os denominados "grandes" traficantes têm terceirizado a produção de drogas, deixando a mistura e a embalagem para outros agentes da cadeia. Ao fazê-lo, buscam reduzir custos e, principalmente, minimizar a exposição ao risco de flagrantes por armazenamento e produção em larga escala. Em vez de manterem laboratórios próprios para o refino, esses criminosos optam por adquirir diretamente de centros de distribuição, evitando assim o ônus de gerenciar suas próprias operações ilícitas.

Uma recente operação da Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise) de Campinas ilustra essa mudança de paradigma. Durante a vigilância de um caminhão suspeito, as autoridades apreenderam uma grande quantidade de cocaína e maconha, já embaladas e prontas para distribuição. A investigação revelou um padrão de distribuição que aponta para a presença de centros de distribuição como elos cruciais na cadeia de fornecimento do tráfico.

Essa nova abordagem contrasta com os métodos anteriores, nos quais traficantes manipulavam as drogas em laboratórios próprios, sujeitos a descobertas pela polícia devido ao odor característico. Agora, os centros de distribuição operam de forma sigilosa, utilizando equipamentos modernos que neutralizam o cheiro das drogas, representando um desafio adicional para as autoridades.

Segundo o investigador Marcelo Hayashi, as organizações criminosas estão se adaptando, buscando eficiência e redução de custos, em um paralelo cada vez mais próximo com empresas legítimas. Esse movimento representa um desafio significativo para as autoridades policiais, que agora se veem confrontadas com estruturas operacionais mais complexas e evasivas. As investigações lideradas pela Polícia Civil de Campinas têm como objetivo desmantelar essas redes de tráfico de drogas que atuam na região, enfrentando os grandes traficantes que agora operam de forma mais sofisticada e descentralizada.

Na tarde de quarta-feira (10), em uma operação de monitoramento em Sapopemba/SP, agentes apreenderam 62.763 unidades de cocaína e 12 tabletes de maconha em um veículo. As drogas estavam embaladas em sacos plásticos, encontrados no banco traseiro do carro. O automóvel estava estacionado na garagem de uma residência desocupada, localizada em um terreno com outras moradias. "Estávamos monitorando a casa há um bom tempo. Como estava localizada em uma comunidade sem saída, em uma área desconhecida para a equipe, decidimos agir e realizar as buscas para evitar possíveis riscos", afirmou o investigador Marcelo Hayashi.

Essa investigação integra os esforços de combate ao tráfico varejista de drogas em Campinas e região. A equipe vinha acompanhando o transporte das substâncias há três dias. Havia informações de que um caminhão partiria de Minas Gerais com o entorpecente com destino a São Paulo. Os policiais se posicionaram em pontos estratégicos para interceptar o veículo, porém não obtiveram êxito em sua localização ou identificação. "O motorista provavelmente já havia feito a entrega, talvez em outro local. No entanto, já identificamos o proprietário da droga encontrada no veículo", explicou Hayashi.

A suspeita de que a droga tenha saído de um centro de distribuição é baseada na grande quantidade de embalagens apreendidas. Anteriormente, os traficantes costumavam adquirir uma quantidade específica de cocaína e adulterá-la com outros produtos para aumentar a quantidade, antes de dividi-la em pequenas porções para venda no varejo. A droga era transportada da refinaria para os pontos de venda do traficante. Com a posse de um laboratório próprio, o traficante necessitava de maquinário e equipe para a produção em massa, além do risco de exposição pela detecção do odor característico da droga.

Por outro lado, os laboratórios nos Centros de Distribuição operam em locais secretos, utilizando equipamentos modernos que conseguem neutralizar o odor da droga. "As organizações criminosas estão extremamente avançadas. Mesmo já sendo comparáveis a empresas, a tendência é que se adaptem cada vez mais para reduzir custos, mão de obra e minimizar a atuação policial", comentou Hayashi. As investigações estão sob a coordenação dos delegados da Dise, Fernando Sanches e Glauco Ferreira, e prosseguem no combate aos grandes traficantes que atuam em Campinas e região.

INCINERAÇÃO

Na incansável luta contra o tráfico de drogas, as autoridades recentemente conduziram uma operação crucial: a incineração de aproximadamente três toneladas de entorpecentes apreendidos na região de Campinas. Esse procedimento, realizado em um galpão na área, marca o desfecho de inúmeras investigações e operações policiais realizadas ao longo do tempo.

As substâncias entorpecentes incineradas foram confiscadas em uma variedade de operações desde junho de 2023, envolvendo várias delegacias e unidades especializadas. Coordenada pelo Departamento de Polícia Judiciária do Interior II, essa ação representa um golpe significativo contra o tráfico de drogas na região, retirando uma quantidade substancial de entorpecentes das ruas e interrompendo suas cadeias de distribuição.

Os entorpecentes provêm de delegacias de Paulínia, Valinhos, Vinhedo, Campinas e da própria Dise, resultando de flagrantes e operações conduzidas pelas equipes policiais desde junho de 2023. As drogas estavam armazenadas na sede da unidade especializada, localizada na Vila Georgina. Um total de 986 lotes de drogas, contendo maconha, crack e cocaína, foram incinerados. Mais de duas toneladas dessas substâncias eram de maconha, apreendidas pela Dise. "Este trabalho é de extrema importância, pois representa o desfecho de toda a investigação e retira definitivamente essas drogas de circulação", afirmou o delegado titular da Dise, Glauco Ferreira.

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