Trata-se do Advanced Mobile Location (AML), equipamento instalado nos centros de operações
Com o AML, os policiais conseguem saber, com exatidão, o endereço de onde determinada ligação partiu (Rodrigo Zanotto)
A Polícia Militar (PM) está usando uma nova tecnologia que possibilita a localização precisa de vítimas durante chamadas de emergência ao 190 da PM e ao 193 do Corpo de Bombeiros (Cobom). Trata-se do Advanced Mobile Location (AML), um software instalado nos centros de operações (Copom) espalhados pelo Estado, que utiliza de GPS, Wi-Fi e sensores para descobrir o local da ligação e agilizar o atendimento de ocorrências.
O sistema funciona a partir do cruzamento de várias informações. Com o software é possível determinar com exatidão de qual local a vítima acionou o socorro. Ou seja, se uma pessoa, por exemplo, percebeu que sua casa está sendo invadida por criminosos e não pode ou teme em falar, basta ligar do celular no telefone 190 da PM que assim que o operador iniciar o atendimento aparecerá na tela o telefone da vítima e uma caixa de diálogo abaixo indicará se aquele número usado pelo solicitante tem geolocalização ou não.
Para confirmar se existe, o policial clica em cima da caixa do software e na sequência aparecerá imediatamente o endereço de quem fez a chamada. Com a localização, o agente, caso a vítima possa falar, confirma o número da casa, mas se não, o agente ouvirá ruídos ou qualquer outro evento que está acontecendo no local e gerará um chamado de ocorrência que é transmitido para a viatura. "Mesmo com os dados do celular da vítima desligados, o software vai buscar pelas redes wi-fi, GPS e torres de celulares mais próximos para obter a localização da pessoa e entregar para o sistema", explicou o chefe de operações em Campinas, capitão Luciano Lupino.
Ou seja, a ferramenta não precisa que o GPS do celular da pessoa esteja ligado. Lupino acredita que a tecnologia é útil para várias situações, especialmente no caso de crianças, idosos e até adultos desorientados. "Em muitos chamados, quem liga está tão desesperado que não se lembra da rua onde mora ou até mesmo de um ponto de referência. Em alguns casos a pessoa também não sabe falar corretamente o endereço de onde está e com este sistema não é necessário fornecer o nome da rua, ele mesmo indica a rua, o bairro e a cidade onde é o chamado", disse o capitão.
Com o novo equipamento, são necessários apenas alguns segundos de ligação para que as equipes consigam acessar a localização exata da vítima. Dependendo do caso, os atendentes mandam imediatamente policiais ou bombeiros que estão mais próximos da região para atender a ocorrência. Os atendentes acreditam que o software contribuiu com um ganho entre 40 segundos a um minuto no tempo de pesquisa para localização de um endereço para cada chamado, o que representa uma média de 60% de desempenho.
De acordo com o capitão, na maioria das cidades da região de Campinas não há problemas com sinal de celular e com isso os resultados nas pesquisas são imediatos. Apesar da precisão da nova tecnologia, os operadores afirmaram que em algumas situações o programa não consegue devolver a localização do usuário e quando isso acontece o jeito é recorrer a forma de pesquisa antiga através do Google, solicitando para que a vítima forneça o endereço, com o nome de rua, número de casa e bairro. "Se a pessoa não falar o nome exato da rua, a forma que é a grafia do nome, em especial quando é estrangeiro, dificulta a pesquisa. Tem regiões que o operador já conhece alguns endereços e digita automaticamente, mas há muitos locais não conhecidos", comentou.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), os dados sobre o lugar onde a vítima está, mesmo que o sinal esteja ruim, são fornecidos apenas em situações de emergência, durante a ligação ao 190 ou 193, respeitando a privacidade dos usuários, conforme prevê a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPDP).
A ferramenta também é usada no Cobom. Em média, a central dos Bombeiros recebe aproximadamente mil ligações de pedido de ajuda, que vão de incêndio, captura de animais e queda de árvore. Em captura de animais, segundo o supervisor operacional do Cobom, tenente Paulo Donizete Belisário, o que se mais se registra é resgate de cobras, saruês e morcegos.
O Centro de Operações da Polícia Militar (Copom) do Comando de Policiamento do Interior 2 (CPI-2) em Campinas abrange 38 municípios e conta com sete batalhões territoriais, que pega as cidades principais como Campinas, Jundiaí, Bragança Paulista, Mogi Guaçu e Mogi mirim e suas adjacências.
Por dia, o Copom recebe entre quatro e cinco mil ligações de emergência, sendo que entre 10% e 15% são trote. Já o Cobom calcula que os trotes chegam a 3% das ligações.
TESTE
O projeto da nova tecnologia começou a ser implantado na Capital Paulista em 2016 e no ano passado foi expandido para os Copom de regiões metropolitanas e interior Paulista.
No começo do projeto piloto, o sistema usava apenas antenas de celular para localizar de onde vinham as ligações de emergência. Apesar de ter colaborado para a eficiência dos trabalhos durante esses anos, a tecnologia não informava exatamente a localização das vítimas, apenas a região onde elas poderiam estar. Além disso, geralmente em áreas rurais, onde o sinal é ruim e apresentava falhas.
Com o AML, os policiais conseguem saber, com exatidão, o endereço de onde aquela ligação partiu. O sistema também é usado em países como Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos, França, entre outros. "Como é uma ferramenta nova, a gente ainda pergunta o endereço para a pessoa e busca no sistema. Na grande maioria das vezes não tem tido problema. Mas mesmo assim permanece o protocolo de perguntar o endereço para o solicitante e confirmar com a localização AML. A tecnologia, na verdade, veio para somar o que temos", disse um dos operadores.
A reportagem acompanhou no Copom alguns dos chamados e, inclusive, testou o sistema com chamados do celular da equipe e constatou a precisão da tecnologia em indicar a localidade da origem da ligação.
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