NO PARQUE D. PEDRO SHOPPING

Shoppings: templos do consumo são transformados em quintal do crime

Durante a ação, dois seguranças foram baleados na perna, um bandido morreu e três foram presos em flagrante pela Polícia

Da Redação
27/06/2022 às 21:33.
Atualizado em 27/06/2022 às 21:33
Apesar da repercussão do crime, o centro de compras funcionou normalmente no domingo: para a Polícia, ação foi amadora e mal planejada (Gustavo Tilio)

Apesar da repercussão do crime, o centro de compras funcionou normalmente no domingo: para a Polícia, ação foi amadora e mal planejada (Gustavo Tilio)

Shopping center quase sempre é sinônimo de local de consumo, com infraestrutura completa, dotado de um mix diversificado de lojas, praça de alimentação, diversão, cinema, enfim, tudo com muito conforto e facilidades, mas, principalmente, com segurança. Só que não. Esses templos do consumo, antes considerados "seguros e invioláveis", amargam já há alguns anos uma escalada de assaltos, envolvendo quadrilhas fortemente armadas e munidas de informações privilegiadas de seus alvos. Pessoas em pânico fugindo, tiros, policiais e seguranças armados por todo lado, são cenas que saíram das telas dos cinemas para aportar na realidade dos corredores e praças de alimentação de shoppings center, a exemplo do que aconteceu no último sábado (25) no Parque D. Pedro Shopping, em Campinas.

O assalto aconteceu por volta das 20h, quando havia grande movimento no centro comercial e houve pânico e correria. Dois seguranças do shopping foram baleados na perna (e já receberam alta médica), um bandido morreu e três foram presos em flagrante. Três carros usados pelos criminosos foram apreendidos. Os alvos foram duas joalherias, a Vivara e Monte Carlo. 

O roubo é investigado pela 1ª Delegacia de Investigações Gerais (DIG), ligada a Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic), de Campinas e para a corporação a ação foi amadora e cheia de falhas, embora tenha sido ousada e inusitada devido ao dia e horário. "Eles escolheram dia e horário com muito público. Se era para causar tumulto, causou, mas isso prejudicou a eles mesmos. Na fuga, acabaram deixando um saco cheio de joias pelo caminho", disse o delegado Divisionário da Deic, Osvaldo Diez Júnior.

De acordo com o delegado, é a primeira vez que ele registra uma ação como esta. "Já tivemos outras em shoppings, mas não em um final de semana", destacou. Outro detalhe observado é que os criminosos estavam desorientados em relação a localização das entradas e saída do shopping. Tanto que, na fuga, o grupo se perdeu. Até agora, o que se sabe é que os presos e o bandido morto são de São Paulo. 

No último sábado, em ação semelhante e pouco antes do assalto em Campinas, bandidos também invadiram um shopping de luxo na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Lá também houve troca de tiro com seguranças e um deles foi baleado e morreu no local. Na fuga, os ladrões abandonaram uma moto no centro comercial e pegaram outra de um homem.

No caso de Campinas, os criminosos chegaram em ao menos três veículos, sendo que dois deles foram abandonados nas proximidades do centro de compras. A ação foi praticada por seis criminosos, divididos em dois grupos, que invadiram relojoarias distintas, mas próxima uma da outra. Quando a ação foi descoberta pela segurança do shopping, ocorreu a troca de tiros em dois momentos: dentro do shopping e no estacionamento. Dois seguranças foram baleados nas pernas. Um bandido também foi atingido por disparos. 

A Polícia Militar, com apoio de agentes do 1º Batalhão de Ações Especiais (Baep), e da Guarda Municipal (GM) foram acionadas e quando chegaram no local, os criminosos já tinham fugido. Na fuga, dois dos bandidos teriam rendido uma mulher que estava no estacionamento e a obrigado tirá-los do local. Um dos homens foi detido pela GM de Paulínia, em um bar no Jardim Amélia. Ele foi preso, assim que a mulher avisou o sogro, que ligou para a guarda e passou as características dos criminosos. 

Com o suspeito estava a chave de um HB20, que foi localizado e estava sem registro criminal. O acusado foi levado para o plantão do 1º Distrito Policial (DP), onde foi confirmada a participação dele no assalto. 

Outra parte do grupo foi detida em Atibaia, a 63 quilômetros de Campinas. Três suspeitos, um casal e um homem, foram capturados na cidade depois que o grupo pediu ajuda a um morador. Eles ocupavam uma Renegade. Um dos criminosos estava ferido e o grupo teria pedido auxílio para chegar em um hospital. A corporação foi acionada e conseguiu chegar ao grupo na Santa Casa, onde buscou atendimento para o suspeito baleado, que não resistiu aos ferimentos e morreu na unidade.

A mulher era companheira do baleado e entrou em contradição. Ela acabou confessando a participação na ação. O outro homem chegou a negar, mas no carro foi achada uma arma. Eles foram presos por roubo e associação criminosa. "A quadrilha não tem vínculo com a região de Campinas e, possivelmente, tinha alguma informação sobre as lojas e o shopping. O trabalho está bem avançado. É uma questão de tempo para fecharmos todo o cenário, dando uma resposta efetiva à sociedade", disse o delegado da DIG, José Glauco Silveira Lobo Ferreira.

A polícia acredita que ao menos 10 bandidos tenham participado da ação. As lojas alvos voltaram a abrir no domingo. Até ontem, a polícia não tinha o balanço fechado do prejuízo e o que foi levado delas. Os seguranças foram socorridos no Hospital de Clínicas da Unicamp e liberados no domingo. 

Pavor

"Eu estava com meus filhos, um de 14 anos e uma menina de 6 anos, na praça de alimentação, em uma mesa, debaixo da escada, quando ouvimos um estrondo. Achei que era uma bomba. Vimos uma multidão correndo em direção aos cinemas, que estavam com a porta fechada. Corri com meus filhos para uma loja de games e nos escondemos atrás de uma máquina de fliperama até tudo se acalmar", contou a terapeuta Paula Ribeiro. 

Paula acredita que o tumulto tenha durado cerca de cinco minutos. Com a chegada da polícia, os clientes foram liberados para deixar o local. "Ouvi apenas um tiro. Minha filha ficou traumatizada, teve até pesadelo. Mas cuidei dela com chás e banho com essência. Por mais que minha filha tenha ficado nervosa, assim como eu, acredito que não terei problema para voltar ao shopping. Sei que foi algo inesperado", disse Paula, frisando que havia ido no circo com os filhos e depois passou para comer um lanche, momento em que aconteceu o assalto. 

Os casos de furtos e roubos tanto na área interna desses centros de compras quanto na externa, nos estacionamentos, têm aumentado progressivamente e essa vulnerabilidade é sentida por consumidores e lojistas. A segurança nesses locais é complexa de se fazer, visto que são espaços amplos e a circulação diária de pessoas é enorme. Os crimes se modificam e modernizam, principalmente, com o avanço das tecnologias. Da mesma forma, a segurança deve ser revisada e reavaliada continuamente, a fim de combater a criminalidade e assegurar vidas e a saúde dos negócios. Diante de tantas variáveis a serem monitoradas e controladas para recuperar a credibilidade e melhorar o fluxo de clientes, a gestão de segurança desses estabelecimentos por todo país enfrenta grandes desafios.

O Correio Popular apresentará nas próximas edições reportagens abordando a questão da segurança e criminalidade em shopping centers.

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