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Shoppings devem investir no fator humano, além de novas tecnologias

Experts apontam a relevância da formação do vigilante para minimizar os riscos durante um enfrentamento

Alenita Ramirez/ [email protected]
30/06/2022 às 09:44.
Atualizado em 30/06/2022 às 09:47
Instrutor orienta alunos em escola formadora de vigilantes patrimoniais: profissionais precisam dominar várias habilidades além da defesa pessoal e do uso de armas (Ricardo Lima)

Instrutor orienta alunos em escola formadora de vigilantes patrimoniais: profissionais precisam dominar várias habilidades além da defesa pessoal e do uso de armas (Ricardo Lima)

Especialistas em Segurança Pública e formadores da categoria de vigilantes avaliam que shoppings centers e estabelecimentos comerciais, que recebem grande volume de público, devem investir não somente em alta tecnologia, mas, principalmente, no desenvolvimento de competências na área de recursos humanos voltadas ao fomento minimização de riscos. 

Em outras palavras, preparar os seguranças patrimoniais para agir com maior eficiência diante de casos como o do assalto a duas joalherias do Parque D. Pedro Shopping, no último dia 24, que resultou em pânico, correria e tiroteio. 

O assunto sobre a formação de recursos humanos na área de segurança patrimonial é o tema da terceira reportagem sobre como os shoppings podem se proteger e, aos seus clientes, contra os ataques da criminalidade. 

De acordo com o especialista em Segurança Pública, Adalberto Santos, apesar de os shoppings ainda serem ambientes com razoável nível de mitigação e controle dos riscos, os empreendimentos devem rever e aplicar novas estratégias, mais eficientes e eficazes e investir também em mudanças físicas, procedimentais e maior qualidade e quantidade em recursos humanos, como também em capacitação e orientação.

“Muitas vezes, encontramos projetos de segurança cujo embasamento se encontra maciçamente em tecnologia. Isso cria uma falsa sensação de segurança, entretanto, é imprescindível haver um nível de minimização do risco minimamente adequado. A segurança é muito mais do que apenas uma tecnologia eficiente, visto que ela é somente uma das ferramentas que aumentam a eficiência e eficácia da minimização dos riscos, mas não consegue sozinha dar conta da segurança”, destacou Santos.

A proprietária da unidade campineira da Escola Paulista de Vigilantes, Deuci Fátima Soares, esclarece que a formação de vigilante prevê o cumprimento de uma carga horária de 200 horas/aula em disciplinas como noções de segurança privada, direitos humanos, sistema de segurança pública e crime organizado, gerenciamento de crise, armamento e tiro, entre outros. E, ainda, aulas complementares para os casos de especialização para áreas como segurança pessoal, transporte de valores, escolta armada. “Os seguranças estão bem preparados, inclusive eles passam pelo treinamento de gerenciamento de crise, que é usado em locais como shoppings. O que falta é investimento na área de recursos humanos, ou seja, contratar mais pessoal para compor a segurança local”, avalia Deuci.

Para o diretor de Política Sindical do Sindicato de Vigilância de Campinas e Região (Sindivigilância), Ronaldo de Souza, a carga horária para a formação do vigilante é suficiente, mas deveria ser melhor distribuída entre as disciplinas. “Temos hoje 24 horas apenas para armamento e tiro, mas existem outras disciplinas importantes com cargas menores. É ótimo saber atirar, mas é essencial que o vigilante domine, por exemplo, direitos humanos, ação criminosa, enfim outras disciplinas com menor carga horária”, ponderou. 

Dois outros pontos observados pelo sindicalista, quando o assunto é segurança privada, são a substituição dos vigilantes formados por outros não capacitados e a falta de integração ou compartilhamento de informações com as Forças de Segurança Pública Públicas. 

Valorização

Para o coronel Elias Miler, presidente do Conselho Deliberativo da Associação de Oficiais da Polícia Militar do Estado de São Paulo (Defenda-PM) e especialistas em Segurança, as empresas privadas devem elaborar um plano de segurança que contemple não apenas o investimento pesado em tecnologia, mas também em capacitação e treinamentos constantes, além da ampliação do quadro funcional. 

“Até dois anos atrás, o crime organizado arrecadava mais de R$ 300 milhões e com isso investia pesado em armamentos de primeira geração, que entram no País de alguma forma. Em contrapartida, o Exército não permite que os estados comprem esse tipo de armamento avançado, que acompanha o que os criminosos usam”, comentou o coronel Miler

Por questões estratégicas de segurança, os shoppings de Campinas não quiseram comentar sobre o número de vigilantes que atuam nas unidades e também sobre o que é utilizado por eles. 

Entretanto, o que é possível observar, na maioria dos casos, é que os vigilantes que atuam em bancos e centros comerciais portam revólveres calibre 38, além de colete balístico.

O Brasil tem hoje cerca de cinco milhões de seguranças patrimoniais formados e um milhão deles em atividade. Somente a unidade da Escola Paulista de Vigilantes, em Campinas, forma 50 profissionais por ano. Para os especialistas, nos últimos tempos, as empresas têm trocado a quantidade de vigilantes por equipamentos, tais como câmeras de segurança, sensores, entre outros. “A segurança privada é equivalente à pública. É um trabalho muito importante, porque realiza a segurança interna e preventiva. Mas, infelizmente, a segurança privada ainda é invisível”, disse Deuci.

Na quarta-feira, shopping da capital também foi atacado 

Mais um ataque criminoso em um centro de compras foi registrado em menos de uma semana. No final da manhã de ontem, bandidos armados entraram no Shopping Aricanduva, na Zona Leste de São Paulo, para roubar uma joalheria. Lá também ocorreu troca de tiros entre criminosos e seguranças. Apesar dos disparos, ninguém ficou ferido e os suspeitos conseguiram fugir. 

Policiais Militares da 2ª Companhia do 19º Batalhão foram acionados para a ocorrência de um roubo em uma loja e, quando chegaram ao local, os cinco suspeitos já haviam fugido. 

De acordo com a Polícia Militar, a troca de tiros se deu em um dos acessos ao shopping. O local era de pouca movimentação e os bandidos fugiram em um Fiat Uno, de cor vermelha. Não há relato de feridos. Comerciantes do shopping chegaram a abaixar as portas dos estabelecimentos na hora do assalto.

O assalto seguiu quase os mesmos modus operandi usado pela quadrilha que assaltou as duas joalherias no Parque D. Pedro Shopping, no dia 24. O alvo dos bandidos também foi uma joalheria. Apesar da semelhança, a Polícia Civil de Campinas descartou, inicialmente, qualquer relação entre o grupo que atacou o Parque D.Pedro Shopping.

Em Campinas, a 1ª Delegacia de Investigações Gerais (DIG), ligada à Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic), acredita que ao menos 10 bandidos participaram da ação. Um deles foi baleado e morto durante o confronto com os seguranças e três foram presos em flagrante. Celulares e armas foram apreendidos. Um quarto suspeito, preso pela PM em outro assalto, também está sob investigação. De acordo com os agentes, os criminosos são da capital.

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