SEGURANÇA PÚBLICA

Roubos e homicídios em SP têm menor índice desde 2001

Em contrapartida, os casos de letalidade policial dobraram na Capital

Por Caio Possati e Ítalo Lo Re (Estadão Conteúdo)
02/02/2025 às 07:08.
Atualizado em 02/02/2025 às 07:08
SSP destacou que redução de roubos e furtos "é resultado do fortalecimento das ações de policiamento e integração das forças” (Kamá Ribeiro)

SSP destacou que redução de roubos e furtos "é resultado do fortalecimento das ações de policiamento e integração das forças” (Kamá Ribeiro)

Em 2024, os roubos e homicídios atingiram o menor patamar da série histórica, iniciada em 2001, no Estado de São Paulo, de acordo com dados oficiais. Em contrapartida, os casos de letalidade policial dobraram na capital e os latrocínios (roubos seguidos de morte) tiveram avanço de 23,2%. 

Foram 193,6 mil casos de roubo notificados no ano passado, diminuição de 15% ante as 228 mil ocorrências de 2023. E 2024 teve não só o menor registro em 24 anos, como também foi o primeiro ano a contar com menos de 200 mil relatos desse tipo de crime. Para se ter parâmetro, chegaram a ser registradas 323,3 mil ocorrências apenas no ano de 2016. 

Os furtos também apresentaram queda: foram 555,8 mil casos de janeiro a dezembro, ante 576,2 mil em todo o ano de 2023, queda de 3,5%. Na capital, os índices foram puxados para baixo com a expressiva queda de roubos nos bairros centrais, que haviam avançado no pós-pandemia com a degradação e o espalhamento de usuários de drogas da Cracolândia. 

A SSP destacou em nota que a redução dos roubos e furtos "é resultado do fortalecimento das ações de policiamento e da integração das forças de segurança". "O combate à criminalidade orientado pela inteligência policial, o uso da tecnologia e a ampliação do efetivo policial, com o incremento de mais de 9 mil novos policiais, foram determinantes."

MORTES E LATROCÍNIOS 

Os homicídios também caíram 3,5%: de 2,7 mil para 2,6 mil. Trata-se de patamar abaixo do registrado no fim da década passada, quando houve alta de mortes por causa de confrontos envolvendo membros de facções criminosas, mas a violência ainda chama a atenção quando se analisam os latrocínios (roubos seguidos de morte). 

Das 170 vítimas de latrocínio registradas em todo o Estado no ano passado, ante 167 no período anterior, quase um terço (53) foi morta em ocorrências na capital paulista. Apesar de os casos serem variados, autoridades apontam que, em geral, o latrocínio hoje é um crime mais comum em ocorrências de roubos de moto, em que bandidos costumam agir armados, embora haja também casos relacionados a roubo a pedestres e invasões de residências. 

Delegados ouvidos pelo Estadão dizem ainda que, entre os pontos de alerta, estão vias próximas do início das Rodovias dos Imigrantes e dos Bandeirantes. No ano passado, o próprio secretário da Segurança do Estado de São Paulo, Guilherme Derrite, reconheceu que os delitos violentos, como o latrocínio, reforçam a percepção de insegurança na cidade. 

Procurada pela reportagem, a Secretaria da Segurança Pública destacou que "os dados desse crime são permanentemente monitorados pela pasta, por meio do programa SP Vida, para embasar e reorientar as estratégias de mitigação e combate a essa prática criminosa". No site oficial, ressaltou que os latrocínios tiveram, em dezembro, o menor número de casos em 24 anos no Estado para o mês de dezembro. 

Nas últimas semanas, porém, dois dos latrocínios de mais repercussão foram a morte de um jovem ao lado do namorado por uma dupla que queria os celulares em Pinheiros, na zona oeste, e o assassinato de um delegado por ladrões na Chácara Santo Antônio, zona sul paulistana. Nesta semana, a Polícia Civil prendeu um homem considerado o principal suspeito da morte do policial civil. 

A QUESTÃO DA LETALIDADE 

As mortes cometidas por agentes da Polícia Militar em serviço dobraram no último ano na cidade de São Paulo, segundo dados publicados ontem no Diário Oficial do Estado. Foram 262 ocorrências de janeiro a dezembro, alta de 101,5% em relação aos 130 casos de 2023. Já os óbitos envolvendo a ação de policiais civis apresentaram queda. 

O ano de 2024 foi marcado por casos de violência cometidos por PMs. Em novembro, um estudante de Medicina foi morto em abordagem na Vila Mariana, zona sul da capital. Dias depois, um homem foi arremessado do alto de uma ponte, também na zona sul. O agente envolvido foi preso preventivamente. A vítima, um manobrista, sobreviveu. 

Em nota, a SSP afirmou que "não compactua com desvios de conduta e pune exemplarmente aqueles que infringem a lei e desobedecem aos protocolos das polícias paulistas". A gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) acrescentou que, desde 2023, foram presos 465 policiais. Outros 310 agentes foram demitidos ou expulsos, segundo dados enviados à reportagem. 

O aumento da letalidade policial na gestão Tarcísio interrompeu a curva de redução de mortes cometidas pela PM que havia sido registrada a partir de 2021, com a adoção das câmeras corporais nos uniformes dos policiais. Em 2022, o total de óbitos do tipo foi o menor da série histórica, iniciada em 2001. 

Para especialistas, falta prioridade do governo para o fortalecimento das bodycams. O governador chegou a colocar em xeque a efetividade dos equipamentos, mas depois disse que manteria o programa. Ainda de acordo com analistas, os casos de letalidade policial reforçam a necessidade de preparar melhor as polícias - sobretudo para ocorrências cotidianas, como brigas -, reforçar mecanismos de controle sobre as tropas e investir em armas não letais.

A alta de mortes cometidas por policiais em serviço foi maior na capital paulista, mas também houve crescimento expressivo, de 84,14%, nas ocorrências desse tipo em todo o Estado. Foram 650 notificações no último ano, ante 353 no ano passado. Além da capital, os casos na Baixada Santista também chamam atenção. 

Nos dois últimos anos, a região recebeu operações como a Escudo e a Verão após as mortes de dois policiais militares das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota), batalhão de elite da PM. 

Conforme os dados divulgados, só no último trimestre deste ano foram 176 mortes por intervenção de policiais militares no Estado - 69 delas na capital. Os casos envolvendo policiais civis tiveram queda de 12,9% no Estado. As ocorrências caíram de 31, em 2023, para 27, no último ano.

RESPOSTA 

A pasta da Segurança Pública reforçou ainda, em nota, que, "para reduzir a letalidade policial, a atual gestão investe em formação contínua do efetivo, capacitações práticas e teóricas, e na aquisição de equipamentos de menor potencial ofensivo, como armas de incapacitação neuromuscular".

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