SOLIDARIEDADE

Rede de apoio acolhe mães de crianças vítimas de violência

Atendimento às famílias que buscam auxílio é feito pelo endereço #laramariaportodosemapoio

Bargas Filho
29/06/2025 às 12:13.
Atualizado em 29/06/2025 às 12:13
Luana tem sido convidada para reuniões com familiares de vítimas para compartilhar sua luta (Alessandro Torres)

Luana tem sido convidada para reuniões com familiares de vítimas para compartilhar sua luta (Alessandro Torres)

Os assassinatos de duas meninas, ambas com dez anos de idade, ocorridos em Campinas encorajaram Luana, que também teve a filha, de 12 anos, morta de forma violenta, a criar uma rede de apoio às famílias de crianças vítimas de crime hediondo. “A dor de perder um filho para a violência chega a ser comparada com uma amputação. Por isso, resolvi transformar meu sofrimento em ajuda, em solidariedade”, afirma. A Rede de Apoio está aberta nas redes sociais #laramariaportodosemapoio. 

Luana Aparecida Nascimento, de 32 anos, é mãe de Lara Maria Oliveira Nascimento, de 12 anos, seqüestrada e assassinada em março de 2022, em Campo Limpo Paulista. O caso ganhou repercussão nacional. A mãe da menina passou dois anos a procura do assassino. As buscas por conta própria, as muitas vezes que insistiu com a Polícia Civil, com o Ministério Publico e com a Justiça auxiliaram na identificação e prisão do autor do crime. Condenado a quase 20 anos, está atualmente, preso. 

A mãe de Lara agora mora em Hortolândia, onde recebeu o Correio Popular para falar de sua iniciativa. Ela resolveu mudar-se para a RMC (Região Metropolitana de Campinas) para fortalecer laços com as famílias de Kevellyn e de Raiane, estupradas e assassinadas, em março e novembro do ano passado. 

Essas meninas foram mortas, respectivamente, no Jardim Fernanda 2 e no Jardim Cidade Singer, bairros que ficam na região do Campo Belo, localizada às margens das Rodovias Santos Dumont e da Engenheiro Miguel Melhado de Campos (Vinhedo-Viracopos). O acusado pelo assassinato de Kevellin está preso, mas, ainda não foi julgado. O suspeito da morte de Raine é um adolescente de 17 anos que está internado em uma das unidades da Fundação Casa. 

“Essas duas crianças foram mortas em circunstâncias muito semelhantes a de minha filha. Quando os crimes aconteceram eu estive com cada uma das mães. Quando as abracei compartilhamos a dor que estava nos nossos corações”, comentou. A Rede de Apoio tem o objetivo de ser um grupo para auxiliar nas investigações policiais como encontrar provas, cobrar a imediata identificação e prisão do autor do crime, e, principalmente, acompanhar o andamento do processo na fase judicial para que o julgamento seja realizado o mais rápido possível. A intenção é também se aproximar da classe política para insistir na reforma urgente do Código Penal. 

A #laramariaportodosemapoio já é conhecida em todo País. Famílias de crianças mortas em outros Estados têm entrado em contato com Luana. Ela j´s tem sido convidada para reuniões com familiares de vítimas para compartilhar sua luta até a prisão e condenação do assassino de Lara.

Luana recebeu o Correio Popular em sua casa em Hortolândia. “Podem me chamar de Mãe de Lara. Porque é assim que pretendo ser reconhecida até o final dos meus dias”, disse.

Por que você criou essa Rede de Apoio às famílias de crianças vítimas de assassinato? 

Eu resolvi criar a rede de apoio poucos meses depois de perder a Lara, porque com a minha luta para encontrar o assassino da minha filha. Começaram a surgir novos casos de crianças que perderam a vida da mesma forma violenta. Então eu passei a ir de encontro com as mães e todas tinham a mesma dor. E também estavam como eu sem nenhum tipo de apoio ou amparo.

Como funciona essa ajuda? 

Na maioria dos casos eu vou até as famílias porque as mães me procuram desde o desaparecimento pedindo ajuda na divulgação. Quando o final desta procura infelizmente é de uma fatalidade, como a morte ou abuso sexual, eu vou de encontro às famílias. Muitas das vezes vou ao velório. Em casos de vítimas que sobrevivem, faço um Acompanhamento, tanto com as mães ou própria "vítima". 

Esse acompanhamento acontece de que forma? 

Todos os dias conversando, perguntando como elas estão. Às vezes é necessário ir até a pessoa por mais vezes,depende de como estão as famílias. A dor de perder um filho para a violência é imensurável, chega a ser comparada a uma amputação, que para a medicina. É algo incapaz de fazer ou explicar. Quando uma mãe que tem seu filho ou filha arrancado brutalmente, ela não vive, ela sobrevive,sem um pedaço do seu coração. Literalmente, uma metade de você morre junto com seu filho.

Você é muito procurada nas redes sociais? 

Minhas redes sociais são bastante ativas, no sentido de dizer para as outras mães de diversos Estados,que elas não estão sozinhas. Muitas mães que vivem essa dor,não conseguem reagir e nem sabem como agir. Hoje acolho mães de todo o País. Elas se espelham na minha luta para se reerguer e de uma forma seguir em busca de Justiça.

A ajuda à essas mães é feita de que forma? ,

Eu acompanho todo o andamento, a saúde mental delas, indico atendimento psicológico, como ajuda de profissionais que fazem atendimento via Internet. Já estive em uma ligação com uma mãe que falava em tirar a própria vida porque não estava mais suportando a ausência da sua filha. Após uma hora e meia de conversa a convenci a continuar a viver e lutar por Justiça.

Você esteve pessoalmente com as mães das duas meninas assassinadas no ano passado em Campinas? 

Eu estive com a mãe da Kevellin Sophia no dia do encontro do corpo. É um cenário de Devastação. Ela era a única filha,e a mãe estava sem saber como agir. Ela tinha trazido a filha para morar com ela em Campinas três meses antes e, por isso, sentia culpa,revolta e muita dor. Tanto que ela não suportou ficar na cidade levou o corpo da sua filha para a Paraíba, e não voltou mais. Mas tenho contato praticamente todos os dias com ela. Inclusive ela é uma das mães que hoje faz tratamento psicológico. Estive também com a mãe da Raine. Abracei , chorei. Tenho mantido contato com ela também.

CASO LARA 

19 de março de 2022 - 

A adolescente Lara Maria Oliveira Nascimento, de 12 anos, foi sequestrada e morta em Campo Limpo Paulista. Ela desapareceu três dias antes, 16 de março de 2022, quando saiu de casa para comprar refrigerante em uma mercearia a cerca de 600 metros de sua casa. De acordo com o Instituto Médico Legal (IML), Lara morreu por traumatismo craniano causado por ao menos quatro golpes na cabeça. De acordo com a autópsia, possivelmente foi usado um martelo ou uma picareta para golpear a criança. Wellington Galindo de Queiroz, de 42 anos, acusado de matar a adolescente Lara, foi preso em março de 2024, dois anos após a adolescente ser encontrada morta. Ele foi preso pela Polícia Federal em Foz do Iguaçu, no Paraná. Em maio deste ano ele foi condenado a 19 anos, 9 meses e 18 dias de prisão em regime fechado.

CASO KEVELLIN 

1º de abril de 2024 - 

Kevelin Sofia Pereira, de 10 anos, foi morta e o corpo parcialmente enterrado no quintal de uma casa em construção na rua Sebastião Machado, no Jardim Fernanda II, bairro que integra o Complexo do Campo Belo, em Campinas. Fernando Silva dos Santos, de 32 anos, que morava na casa, confessou o crime e indicou o local onde estavam as roupas e a marreta usada para matar Kevelin. Na noite de sexta-feira, 29 de março, a mãe da criança registrou o desapaecimento da filha em boletim de ocorrência. Familiares e moradores passaram a fazer buscas nos bairros.

A menina havia saído de casa por volta 11 horas para comprar um refrigerante em uma adega a 30 metros de sua casa. Câmeras do circuito de segurança do estabelecimento registraram o momento que a menina estava com um cartão de banco para pagar a compra. O corpo foi encontrado na rua Sebastião Machado, a 300 metros de onde a menina morava. Os moradores tentaram linchar Fernando. Ele foi preso por policiais da Delegacia de Homicídios de Campinas. Ele já havia sido condenado por estupro cometido em março de 2017, em Sumaré. E já tinha cumpriu pena na Penitenciária de Sorocaba. Desde 2021 estava em regime aberto. Agora, continua preso, porém, ainda não foi a júri popular. Continua preso.

CASO RAIANE 

29 de novembro de 2024 - 

A menina Raiane Vitória da Silva, de 10 anos, foi encontrada morta no bairro Cidade Singer, que integra do Complexo do Campo Belo. Ela foi estuprada e morta com 24 facadas. O autor do crime: um adolescente de 17 anos, amigo do irmão da menina e pessoa que frequentava diariamente a casa dela para jogar videogame. Ela foi morta dentro de casa. O rapaz foi encontrado em sua residência e espancado por moradores. Apanhou tanto que teve que ser levado para o Hospital Municipal Dr. Márito Gatti. O crime aconteceu quando a mãe da menina não estava em cas porque fazia um plantão no trabalho. Os dois irmãos de Raiane - de 21 e de 17 anos - também não estavam em casa o que facilitou a ação criminosa. O Correio apurou que Raiane era aluna da 4ª série, frequentava o período matutino em uma escola no bairro Nova América, utilizando o transporte fretado da Prefeitura. À tarde, participava de um projeto social da Igreja Católica próximo à sua residência, a cerca de três quadras de distância. Na interpretação da Polícia Civil foi crime de ato infracional de feminicídio e estupro. O adolescente permanece internado numa das unidades da Fundação Casa onde está internado.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por