A CHOCANTE FACE DA MISÉRIA

Recém-nascido e bebê de 1 ano são resgatados e abrigados

Família estava vivendo em condições insalubres; Conselho Tutelar foi acionado, mas não compareceu

Alenita Ramirez/ alenita.ramirez@rac.com.br
04/02/2023 às 09:51.
Atualizado em 04/02/2023 às 09:58

Inacabada, a construção tem o teto escorado por paus, não tem água encanada e, em seu interior, havia acúmulo de lixo e fezes pelo chão (Divulgação)

Um bebê de pouco mais de 35 dias, uma menininha de um ano e oito meses e os pais deles foram resgatados na quinta-feira (2), em Campinas, pela Guarda Municipal (GM) e abrigados. A família estava em uma casa em condições insalubres e as crianças sofriam maus-tratos, já que não havia água e nem comida. Os pais são usuários de drogas e, dentro do imóvel, foram encontrados diversos tubos vazios de entorpecentes, demonstrando que os pais consumiam as drogas na presença dos filhos. 

Os guardas descobriram o caso após terem sido acionados por moradores do Jardim São José. O Conselho Tutelar foi acionado e, mais uma vez, não compareceu ao local. 

O caso revoltou os moradores. De acordo com a inspetora da GM, Ana Paula dos Santos Menezes, a família vivia em um imóvel de herança do avô do pai das crianças, um desempregado de 30 anos. Inacabada, a construção de alvenaria tem o teto escorado por paus, com risco de desabamento. Não havia água potável encanada e no seu interior encontrava-se com acúmulo de lixo e fezes espalhadas no chão. Não havia comida lá. 

“As roupas estavam todas espalhadas. Foi uma cena difícil de ver e que comove muito. As crianças estavam chorando. Apesar daquela situação, deu para perceber que ela (mãe) cuidava das crianças. Tinha roupinha no varal, então, ela devia pegar de algum lugar. Ela também costuma levar os filhos ao Centro de Saúde”, relatou Ana Paula, que está há 25 anos na corporação. 

A agente também esteve envolvida no resgate do menino de 11 anos que foi encontrado acorrentado e nu dentro de um tambor de metal fechado com uma telha e pia de mármore para evitar que ele saísse, no Jardim Itatiaia. “Esses casos nos sensibilizam muito, mas estamos prontos para ajudar”, disse a inspetora.

A casa foi interditada pela Defesa Civil e periciada pela Polícia Técnico-Científica. 

Ana Paula contou que a GM recebeu uma denúncia anônima sobre um casal que cuidava de duas crianças em condições insalubres. Os moradores informaram que tinham acionado o Conselho Tutelar, mas o órgão não compareceu. 

Em dezembro do ano passado, uma denúncia também teria sido feita ao Conselho, que chegou a ir no imóvel, mas como não localizou a família e foi embora, deixando um ofício intimando os pais a comparecerem na sede do Conselho Tutelar, na região central da cidade. 

Na época, os moradores chamaram o Conselho porque descobriram que um primo da mãe das crianças tinha abusado sexualmente da garotinha, que tinha na ocasião um ano e cinco meses. Segundo Ana Paula, os moradores relataram que no dia que os conselheiros foram na casa, a mulher havia dado à luz ao filho caçula, que nasceu prematuro e estava internada. 

As crianças e a mãe passaram por atendimento no Hospital da Mulher (Caism) da Unicamp. O caso foi encaminhado à 2ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), onde o caso foi registrado como importunação sexual, mas a natureza poderá ser alterada se a Polícia Civil constatar o estupro da criança. O suspeito do abuso não mora mais na cidade, tendo fugido em razão do tráfico de drogas. 

Segundo a GM, o conselheiro compareceu na delegacia por volta das 20h, depois de diversas tentativas de contato do delegado. O caso começou a ser atendido às 13h. O conselheiro teria alegado que o “Conselho Tutelar não responde por pobreza”. 

A Secretária Municipal de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos, Vandecleya Elvira do Carmo Moro, foi no local e acompanhou o desfecho, inclusive, ela pediu o abrigo da família até que o casal e as crianças sejam encaminhados à cidade mineira de Comendador Gomes, onde mora os pais da mulher. 

Abandono de incapaz

No último dia 31, uma mulher de 28 anos foi detida também pela GM por abandono dos três filhos, de 3, 7 e 11 anos. As crianças foram encontradas sozinhas em uma casa desarrumada e sem alimentos, na Vila Vitória, região do distrito do Ouro Verde. A mãe havia saído com o namorado no sábado e voltou no domingo à noite, quando a guarda estava no imóvel. No dia, a GM também acionou o Conselho Tutelar, que não foi ao local. As crianças estavam sem alimentos e famintas. 

O Conselho Tutelar foi procurado pelo Correio por meio de um conselheiro de uma outra região. Ele até se comprometeu em conversar pessoalmente sobre o atendimento geral na sede, tema este que não era de interesse para esta reportagem. Foi solicitada uma nota de esclarecimento do não comparecimento do conselheiro da área, mas não houve retorno. Até ao número 0800 do órgão foi ligado, mas não houve resposta. 

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