Equipamentos vão reforçar o poder de defesa das Forças de Segurança Pública na região
O novo equipamento de defesa é encaixado em um carrinho balístico, também de aço; ao todo, a estrutura tem cerca de 1,70 metro de altura e pesa aproximadamente 80 quilos (Rodrigo Zanotto)
Com o objetivo de deixar Campinas pronta para combater o crime organizado ultraviolento, o 1º Batalhão de Ações Especiais da Polícia Militar (Baep) adquiriu, recentemente, quatro escudos balísticos móveis, feitos de aço, que suportam tiros de fuzis calibres 556 e 762 e também de carabinas. O equipamento, voltado tanto à proteção dos policiais quanto das vítimas durante os combates, é encaixado em um carrinho balístico, também de aço, que ao todo tem cerca de 1,70 metro de altura. Toda a sua estrutura pesa aproximadamente 80 quilos. O carrinho tem um conjunto de três rodas que giram, podendo ser levado de um lado para o outro em áreas planas e irregulares e ainda para cantos de parede.
"Ainda não registramos crimes ultraviolentos em Campinas, mas é dever nos prepararmos, porque o nosso município é sui generis no país, por compreender um dos mais importantes aeroporto de carga do país, o maior fluxo de entroncamento viário, uma série de indústria e registrar o 11º Produto Interno Bruto (PIB) do território brasileiro. Então, é preciso preparo antecipado para combater o crime organizado, que já deu sinais no aeroporto (Internacional de Viracopos) por duas vezes nos últimos cinco anos. Um deles, em outubro de 2019, quando os criminosos usaram um caminhão de lixo para fugir, cercaram o aeroporto e fizeram uma mulher e uma criança reféns. Além disso, recentemente, em uma operação em Jaguariúna com o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) apreendemos fuzis norte-americanos de grosso calibre. Então, pela pujança da região, faz-se necessário obter o equipamento para garantir a segurança da região", justificou o comandante do 1º Baep, o tenente-coronel André Luiz Pacheco Pereira.
O escudo é acompanhado de outros itens de segurança, como capacetes balísticos; coletes de placa de aço - que também suportam tiros de fuzis; miras holográficas, que são acopladas aos fuzis; lunetas, que servem para os atiradores observarem alvos a uma distância entre 400 e 500 metros, como ocorre no caso de ser preciso neutralizar “seguranças”’ que ficam em certos pontos, para que a tropa possa entrar. Nesses casos, o atirador designado precisa neutralizar o problema.
Tem ainda a luneta, que consegue aproximar o alvo em até seis vezes para facilitar o tiro a longa distância; o ponto laser; rádio comunicador e o fone com comunicador de têmpora – que deixa o ouvido livre para captar sons em volta. Todos esses acessórios são colocados no colete, cujo peso pode atingir até 20 quilos. “Todos os policiais foram treinados para usar os equipamentos e eles são levados nas viaturas, porque nunca sabemos quando serão necessários durante uma ação”, disse o comandante.
Apesar do peso da placa de proteção e do carrinho, o escudo é simples de usar e fácil de manusear. Para colocar na viatura, o escudo é desmontado, visto que as peças são de encaixe. O policial pode usá-lo até mesmo no caso de atendimento emergencial em local de combate com uma vítima ferida. "O objetivo dele é salvar vidas", frisou o tenente-coronel.
Para quem olha o escudo montado, a impressão que se tem é a de que se trata de uma peça de exposição, que foi usada por combatentes de séculos passados em países europeus. Porém, ele é moderno, potente e tem a função de resgatar policiais ou vítimas feridas em zonas de confronto, uma vez que pode criar uma parede de proteção.
O super equipamento também pode ser usado em ações de combate ao popularmente chamado ‘novo novo cangaço’, ações brutais, qme que criminosos tornam uma cidade refém da violência, implantando o terror, como no caso que aconteceu em Araçatuba, quando assaltantes atacaram agências bancárias da cidade e usaram moradores como escudos humanos.
Outros equipamentos de segurança complementam a capacidade de defesa de Campinas e região (Rodrigo Zanotto)
Outro uso interessante diz respeito às ocorrências delituosas em shoppings, onde a estrutura costuma ser de vidro ou drywall. O equipamento pode garantir a segurança balística, propiciando que os policiais empreendam a varredura nos locais que não têm abrigo.
Duas outras aplicações do novo equipamento são em negociações onde os criminosos estão com pesadas armas de fogo, como foi caso do massacre na Catedral Metropolitana de Campinas; e de atiradores ativos, como em ocorrências envolvendo escolas, nas quais o atirador entra mirando em alunos e professores e não há tempo hábil de realizar o cerco.
“Esse escudo balístico é um equipamento que pode ser comparado a um plano de seguro, no qual a gente paga e torce para não usar. É um material que precisamos ter, mas, sendo possível, preferimos passar 30 anos sem usar”, comparou o comandante.
A aquisição dos equipamentos integra parte de um projeto do 1º Baep iniciado há dois anos, que contou com verba parlamentar do então deputado federal e atual secretário de Segurança Pública do Estado, Guilherme Muraro Derrite, o capitão Derrite.
O 1º Baep é a primeira corporação do Estado de São Paulo a ter adquirir esse tipo de escudo. Foi preciso montar um processo e comprovar a necessidade deele na nossa região. A verba federal veio por meio da Secretaria Nacional de Segurança Pública e, segundo o tenente-coronel, exigiu-se o preenchimento de uma série de requisitos. “A região de Campinas é propícia a receber ataques mais pesados, porque aqui circula muito dinheiro e também são realizadas inúmeras operações do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado)”, frisou o comandante do Baep.
Os equipamentos que chegaram há um mês se somam às compras da administração que, até então, estava à frente das Forças de Segurança, como a de fuzis estrangeiros.
Origem do escudo
A origem do escudo balístico móvel sobre carrinho de três rodas é europeia e se destacou em ocorrências terroristas na França e Espanha, quando policiais o usaram para salvar vítimas. Em uma delas, em novembro de 2015, as marcas de tiros num escudo à prova de balas de um policial que estava tentando salvar reféns na boate Bataclan, em Paris, revelou o poder de fogo dos terroristas e a potência de defesa do escudo.
A foto das marcas de tiros foi divulgada no Twitter pelo jornalista francês William Molinie logo após os atentados. Segundo o jornal "Metro", na época, Molinie disse que o escudo teria sido levado por um policial da Brigade de Recherche et d'Intervention (BRI), a equipe de resgate de reféns franceses, e foi atingido por pelo menos 17 disparos. Ele também publicou fotos dos policiais equipados com roupas de proteção e capacetes logo após o tiroteio.
No Bataclan, onde acontecia um show do Eagles of Death Metal, 89 pessoas morreram.
Segundo o tenente-coronel, o 1º Baep faz intercâmbio técnico com as polícias da França, a Gendarmerie Nationale (que é a Polícia Militar de lá ) e a Polícia Nacional (que é a Civil). Na parceria, elas trocam informações e treinamentos. Policiais de Campinas vão para aquele país e policiais de lá vêm para cá treinar e se capacitar. Em 2017, o batalhão também fez intercâmbio com o Gepol, da Espanha.