BALANÇO DA POLÍCIA FEDERAL

Prisões por tráfico de drogas em Viracopos caem 61,76% em 2025

Comparação é referente ao período entre janeiro e maio de 2024 e 2025, quando foram registradas, respectivamente, 34 e 13 detenções; PF atribui queda ao aperfeiçoamento do trabalho de fiscalização, o que inibe os traficantes

Alenita Ramirez/[email protected]
08/06/2025 às 11:58.
Atualizado em 08/06/2025 às 12:43
Entre os equipamentos à disposição estão o escâner corporal, raio-X de visão dupla e detector de traços de explosivos e narcóticos (foto); estrutura tecnológica dificulta muito a ação dos traficantes de drogas, segundo análise do diretor-chefe da PF em Campinas, Edson Geraldo de Souza (Alessandro Torres)

Entre os equipamentos à disposição estão o escâner corporal, raio-X de visão dupla e detector de traços de explosivos e narcóticos (foto); estrutura tecnológica dificulta muito a ação dos traficantes de drogas, segundo análise do diretor-chefe da PF em Campinas, Edson Geraldo de Souza (Alessandro Torres)

O número de passageiros presos por tráfico de drogas no Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, caiu 61,76% entre janeiro e maio deste ano em comparação com igual período do ano passado, segundo balanço da Polícia Federal (PF). Nos cinco primeiros meses de 2024, foram 34 prisões, enquanto em 2025 foram 13. Isso significa que no ano passado uma pessoa era presa a cada 4,4 dias tentando sair do país com substâncias entorpecentes, neste ano esse espaço de tempo subiu para quase 12 dias.

A redução nas estatísticas, segundo o delegado-chefe da delegacia da PF em Campinas, Edson Geraldo de Souza, não indica que a corporação diminuiu a fiscalização, e sim que ela foi aperfeiçoada. Um dos motivos é a ampliação dos recursos tecnológicos disponíveis para detectar drogas no corpo e na mala dos passageiros, por exemplo o escâner corporal e o espectrômetro. “Aliado a esses dois aspectos, houve interesse da mídia pelo assunto e ampla divulgação dos resultados do trabalho realizado ao longo dos anos de 2023 e 2024”, enfatizou Souza.

A blindagem de Viracopos pela PF também fez com que os traficantes repensassem a logística de usar o aeroporto para enviar drogas para a Europa por meio de “mulas”, já que as ações sinalizaram o risco de prisão e de perda da carga. Entre os métodos usados para o envio escondido de drogas estão a colagem do entorpecente no corpo, com uso de cintas, fitas adesivas, entre outros materiais, no fundo de malas, espalhadas em roupas e engolidas. Também houve casos de substâncias encontradas em potes de alimentos e até em peixe congelado. “Não se pode, porém, ter a ilusão de que o tráfico desistirá desse canal, o que leva a Polícia Federal a aperfeiçoar todos os dias seus sistemas e suas parcerias, além de suas investigações permanentes, buscando tanto a segurança da aviação civil quanto a repressão de crimes”, comentou o delegado.

Segundo Souza, os trabalhos de investigação, inteligência e inspeção continuam como nos anos anteriores. Para ele, é possível que o número de flagrantes e de apreensão seja cada vez menor. “Isso até pode dar a impressão de que estamos trabalhando menos, mas não. A verdade é que se tornou praticamente impossível alguns métodos comumente utilizados pelo tráfico de drogas em Viracopos, que é o aeroporto da América Latina que conta com equipamentos avançados para detectar drogas”, disse.

Dados da concessionária Aeroportos Brasil Viracopos (ABV) mostram que passaram 3.783.164 milhões de passageiros pelo terminal aeroportuário entre janeiro e abril de 2024. Em 2025, foram 4.124.804 milhões.

AÇÃO PERMANENTE

As operações permanentes em Viracopos tiveram início no dia 5 de março de 2023, com fiscalização 24h por dia, de segunda a domingo, com ampliação do número de agentes federais.

A primeira operação, que terminou no dia 31 de dezembro daquele ano, a “Sentinela”, registrou a prisão de 55 pessoas, 29 homens e 26 mulheres. No período foram apreendidos 243 quilos de drogas, entre maconha e cocaína. Do montante, 110 quilos eram de cocaína.

Com os registros da operação, a PF constatou que a rota internacional com o maior número de presos foi VCP/Orly (em Paris, capital da França), com 24 “mulas” detidas enquanto tentavam fazer o caminho para entregar a droga em terra francesa. Outras 15 pessoas foram pegas quando faziam a rota VCP/Lisboa (em Portugal).

No caminho inverso, três pessoas que embarcaram em Lisboa foram detidas com drogas na bagagem ao desembarcar em Viracopos. Naquele ano, A PF também prendeu 13 passageiros oriundos de voos domésticos. Elas partiram do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, em Manaus.

Entre março e abril daquele ano, que foram os dois primeiros meses da intensificação da fiscalização pela PF, foram registrados 2,06 milhões de passageiros em Viracopos. Durante todo o ano de 2023 passaram pelo aeroporto 12,5 milhões de pessoas, recorde de movimentação no terminal, já que no ano anterior foi de 11,8 milhões.

Paralela à Operação Sentinela, a PF realizou cinco operações contra cooptadores, ou seja, criminosos que aliciavam “mulas” para introduzir cocaína na Europa. Com o aprofundamento nas investigações sobre presos em flagrantes, por parte do Grupo de Investigação, Prevenção e Repressão ao Tráfico Ilícito de Drogas, foi comprovado que havia um grupo que utilizava brasileiros, em sua maior parte transexuais, para ingerir grandes quantidades de entorpecentes para transportá-las até a Europa. Boa parte dos aliciados era de pessoas vulneráveis e do norte do Brasil.

Outra constatação foi de um grupo voltado ao tráfico de drogas interestadual, utilizando voos com conexão no Aeroporto Internacional de Viracopos em sua rota de entrega do norte para o sul do país.

Em 2024, a PF deu início à segunda operação anual, a “Portão 8”, que foi deflagrada a partir do dia 1º de janeiro e resultou ao longo do ano na prisão de 49 passageiros, 43 flagrantes e a apreensão de 299 quilos de drogas, sendo 146 kg em cocaína. Do total apreendido desse entorpecente, 130 kg foram em voos internacionais, com maior concentração de flagrados na rota VCP/Orly (28).

Com a consolidação do grupo de repressão ao tráfico, em 2024 os agentes federais também direcionaram os trabalhos à análise financeira dos traficantes, com a identificação de padrões financeiros, rastreamento de transações suspeitas e cruzamento de dados bancários, permitindo a identificação de fluxos ilícitos. Também foi realizado o rastreamento patrimonial dos criminosos e a identificação de empresas de fachada dos traficantes para ocultar ativos.

No total, foram realizadas quatro operações, entre as quais a Atalaia e a Mithras, essa última para reprimir o tráfico interestadual de drogas.

A PF também compartilhou dados de inteligência com outras unidades da Polícia Federal, fortalecendo ações integradas contra o tráfico internacional de drogas que resultaram em 22 prisões em flagrante em outras unidades e aeroportos no país e exterior.

Neste ano, a operação permanente que vai até 31 de dezembro é a “Shield”. Até o mês passado foram registrados 13 flagrantes e um total de 79 quilos de drogas apreendidos, sendo 44 kg de cocaína. No total, 23 quilos da pasta base tinham como destino a Europa. Seis pessoas foram detidas tentando levar droga para Orly. “Em 5 de março de 2023 demos início a um processo sofisticado de entrelaçamento de núcleos para fins de obtenção e tratamento de informações, delimitando com exatidão, a partir e por meio de Viracopos, rotas do tráfico de drogas. A cada ano temos uma nova base de dados para fins de comparação e conhecimento, permitindo uma rotina marcada pela precisão, eficiência e efetividade, traduzida em apreensões de drogas, prisões e, especialmente, operações para alcance e responsabilização de cooptadores, financiadores, organizadores e fornecedores de drogas”, destacou o delegado-chefe da PF.

Para ampliar ainda mais a segurança em Viracopos, em janeiro deste ano foram implantados novos equipamentos de inspeção de segurança direcionados a todos os passageiros que embarcam em voos internacionais. 

Os equipamentos incluem escâner corporal, raio-X de visão dupla e detector de traços de explosivos e narcóticos. São três escâneres corporais que não utilizam raio-X, mas ondas de rádio de baixa potência que coleta dados por meio da leitura de ondas milimétricas na pele. Essa tecnologia permite encontrar todo tipo de objetos e não apenas metal, e o tempo de digitalização de cada aparelho é de 1,5 segundo, permitindo detectar de 200 a 300 pessoas/hora.

A primeira operação deste ano deflagrada com base em investigações de flagrantes foi no final do mês passado, a “Gryphus”, que identificou a participação de uma brasileira no esquema do recebimento de cocaína em Lisboa. Ela e o filho estão foragidos e são alvos da Interpol. Os dois são ligados a cooptadores de “mulas” no Brasil, inclusive a filha dela faz parte do esquema em solo brasileiro. A descoberta da mulher aconteceu durante a investigação de duas prisões em 2023. 

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