Quadrilha violenta cometeu 7 assaltos em menos de um mês, sendo quatro deles em um único dia
Fortemente armados, agentes da Polícia Federal e Polícia Militar Rodoviária capturam ladrões de cargas que agiam nas rodovias paulistas (Rodrigo Zanotto)
As polícias Federal (PF) e Militar Rodoviária (PMR), de Campinas, desarticularam uma quadrilha com ao menos 13 integrantes envolvidos em roubos de caminhões e cargas nas rodovias Anhanguera e dos Bandeirantes, no eixo entre Campinas e Cajamar, quase na entrada de São Paulo. O grupo é descrito como violento e que no período de 20 dias cometeu sete assaltos, sendo quatro deles em um único dia. Dez homens foram presos e um morreu durante operação deflagrada na manhã de terça-feira (14).
Denominada Malta, que significa bando de infratores, a operação envolveu 50 policiais federais e 35 rodoviários. No total, foram cumpridos 21 mandados judiciais, expedidos pela 1ª Vara Judicial Criminal da Comarca de Cajamar, sendo 13 de prisão temporária por 30 dias e oito de busca e apreensão. Uma arma com munições foi apreendida na casa do investigado que morreu.
As prisões aconteceram nas cidades de Jundiaí e Jarinú, onde os integrantes do bando residem, e também em Osasco - dois deles pegos pela Polícia Militar. Um era o líder e o outro motorista da organização. Dentre os identificados pelas corporações, dois são considerados foragidos, uma vez que não foram localizados na operação. Dois dos oito presos estavam em Centro de Detenções Provisórias (CDP´s) por terem sido detidos em flagrantes pela PMR durante assaltos.
O alvo que morreu era morador de Jarinú e a morte dele aconteceu durante a fuga. Ao ver os agentes, o suspeito pulou a janela e tentou fugir, mas escorregou em um barranco e caiu de uma altura de cinco metros. A Polícia Técnico Científica foi acionada para verificar as causas da morte, se foi por tiros ou pela queda, mas até as 14h30 de terça-feira ainda não havia confirmação. Para o mesmo endereço dele, haviam dois mandados de prisão.
As investigações pela PF contra o grupo tiveram início no final de janeiro com base em prisões, ações e cruzamento de informações com a PMR. Os agentes federais conseguiram identificar 13 pessoas e descobriram que os suspeitos se revezavam nas funções para não serem reconhecidos - daí a referência de associação criminosa. O alvo dos criminosos eram caminhões, mas as cargas, quando encontradas, também acabavam sendo levadas.
Modus Operandi
De acordo com o delegado da PF, Edson Geraldo de Souza, os criminosos usavam, ao menos, três carros na ação. Os veículos, segundo o delegado, eram populares para não chamar a atenção. Ainda conforme do delegado, todos os criminosos têm passagem criminal por furto, tráfico, roubo, porte e posse de arma de fogo, e com idades de 20 a 35 anos. Também todos são egressos do sistema prisional e por conta disso tinham muito cuidado nas ações e procuravam ser discretos para não tomar multa e assim seus endereços e nomes fossem citados na polícia.
O primeiro carro tinha a função de "caçar" os caminhões nas rodovias. Quando encontrava separava o alvo para a abordagem e avisava o segundo grupo, que rendia o caminhoneiro e o levava para o cativeiro. Segundo Souza, não havia uma marca ou modelo de interesse de caminhão. "Eles ficavam horas circulando até achar. O primeiro carro se aproximava e dava alerta para o motorista dizendo que havia um eventual problema no caminhão na sequência iam embora para não chamar a atenção do motorista. E quando o motorista parava no acostamento, vinha o segundo carro que abordava e sequestrava a vítima", contou Souza.
De acordo com o delegado da PF, o terceiro carro era usado pela organização criminosa para evitar o patrulhamento da PMR. Estes bandidos informavam sobre a distância entre viatura da polícia e o caminhão parado. Souza acredita que, pelo menos, dois bandidos ficavam em cada veículo.
"Os integrantes se dividiam nas tarefas e tinham: o olheiro, que identificava o carro na pista. O motorista, que assumia o caminhão. O mateiro, que ficava com a vítima no cativeiro e o organizador do grupo. Eles revezam as funções entre si e por isso temos uma associação criminosa e não só uma organização criminosa, onde cada um tem uma função. Ainda tinha os meninos do 'pega', expressão usada para os que faziam o assalto e trabalhavam na linha de frente", explicou o delegado.
As corporações apuraram que a vítima era levada para um matagal ou uma comunidade e era mantida amarrada para driblar a vigilância do caminhão e também descobrir suposto monitoramento e forma de dirigir o caminhão. Além do caminhão e carga, os criminosos também exigiam cartões bancários, senhas, celulares e chave da vítima e a extorquia. A vítima era só liberada quando todas as possibilidades de consumação do crime se esgotasse.
Segundo Souza, as vítimas chegavam a passar até um dia no cativeiro e em alguns casos até a família do motorista que estava no caminhão era levada e mantida refém. "Uma técnica usada era o esfriamento dos caminhões. Eles levavam para um certo local e esperavam por algumas horas para ver se havia monitoramento. E para ter certeza que não era monitorado usava o jummer, o bloqueador de sinal. Enfim, eles usavam todas as técnicas e mantinham no local correto a vítima", contou. "Conseguimos identificar o grupo, graças ao trabalho da Polícia Militar, com o cruzamento de dados", enfatizou o delegado.
Rapineiro
Ainda conforme Souza, além das caças nas rodovias, os criminosos também agem em sites e na própria pista quando o caminhoneiro para no acostamento. Por sites, os bandidos se cadastram em aplicativos de aproveitadores de cargas, que são de motoristas que viajam de um estado para outro e quando estão com os caminhões vazios oferecem serviço de transporte até chegar a sua residência. "Quando há encomenda de caminhão, eles se apresentam como donos de uma carga falsa e pedem o serviço. A vítima acha que o serviço é verdadeiro e vai buscar a carga, mas chega no endereço e vê que se trata de um roubo. É o rapineiro, pessoas que visam oportunidade", disse o delegado, frisando que as investigações seguem para saber o destino das cargas e caminhões. "É um crime muito complexo e por isso a necessidade de repreensão. Tanto o caminhão quanto a carga são destinadas imediatamente, ou seja, já há receptadores", frisou.
A PF e a PMR acreditam que são várias as quadrilhas que atuam nas rodovias. Na segunda-feira (13), quatro homens foram presos quando levavam para o cativeiro um caminhoneiro que foi rendido no acostamento da Rodovia Anhanguera, na altura de Jundiaí. A vítima era mantida amarrada dentro da cabine e a ação foi descoberta por uma equipe do Tático Operacional Rodoviário (TOR) que desconfiou do vidro do lado do motorista estar quebrado. Dois dos criminosos estavam em um carro dando cobertura. Os criminosos não fazem parte da quadrilha identificada e presa na terça-feira . "Nossa missão constitucional é de prevenir os crimes e por isso trabalhamos diuturnamente, sete dias por semana, para fazer a segurança viária. O 4º Batalhão tem hoje 3,3 mil km de rodovia para cuidar e esse trecho há ocorrências de roubos que nos preocupa no sentido de dar proteção aos usuários", disse o comandante, tenente-coronel do 4º BPRv, Luodenir Gonzaga Bueno