GOLPE DO AMOR

Polícia resgata jovem atraído pela sedução de falsa ‘crush’

Vítima de 24 anos viajou até Caieiras para se encontrar com moça do Tinder e acabou sequestrado

Alenita Ramirez/ alenita.ramirez@rac.com.br
04/03/2023 às 10:20.
Atualizado em 04/03/2023 às 10:20

Cativeiro em Parada de Taipa, São Paulo, para onde o jovem de Valinhos foi levado após se encontrar com ‘crush’ do Tinder em Caieiras (DIG/Divulgação)

Uma força tarefa entre policiais civis da 1ª Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Campinas e militares da região de Caieiras, a 68km de Campinas, resgataram na tarde de quinta-feira (2) um jovem de 24 anos, morador de Valinhos, que foi sequestrado, agredido e mantido em cativeiro por aproximadamente 18 horas depois de marcar um encontro através de um aplicativo de relacionamento. A vítima foi localizada deitada sobre uma cama, com as mãos amarradas, em um barraco, na Comunidade Parada de Taipa, na zona Norte de São Paulo. Uma mulher de 27 anos foi presa em flagrante. Uma segunda mulher que recebeu dinheiro foi identificada. 

A ação policial se deu depois que policiais civis da DIG foram procurados pelos pais do jovem, que informaram que estavam sendo ameaçados por pessoas que pediam R$ 50 mil para a liberação da vítima. O rapaz, segundo relatos dos pais aos agentes, teria saído de casa em seu carro, um Jeep Renegade, para se encontrar com uma suposta moça que ele conheceu no aplicativo Tinder no dia anterior. 

"Os pais sabiam da ida dele para São Paulo, mas não entraram em detalhes em relação ao local do encontro porque confiavam no filho. O jovem havia passado a terça-feira na rede social com a moça, com uma conversa intensa. Eles trocaram fotos, inclusive íntimas, e isso despertou e o motivou a ir ao encontro", contou o delegado responsável pela investigação Helton Costa. "Com as informações dos pais, descobrimos que o carro da vítima estava na região de Caieiras e então entramos em contato com o delegado do 72º distrito, na Vila Penteado, e pedimos ajuda. Na parte da tarde, a Polícia Militar (PM) recebeu denúncias sobre movimentação suspeita em uma casa na comunidade e uma equipe foi até o endereço e localizou uma mulher, na porta da casa, que era de madeira e bem insalubre", acrescentou. 

A mulher, que tem passagem criminal e era procurada da Justiça, estava como vigia no local. A vítima estava dentro do barraco, amarrada e deitada em um colchão. Segundo Costa, o jovem estava machucado devido às agressões e assustado. A suspeita foi apontada pelo jovem como a suposta paquera que trocou mensagens, já que ela enviou áudios e a voz foi reconhecida por ele. A mulher foi presa pelos crimes de extorsão mediante sequestro e formação de quadrilha. 

Segundo Costa, a suspeita presa agiu com três homens e mais uma mulher. Os comparsas não estavam no local no momento da abordagem policial. O carro da vítima e o celular dele não foram localizados. Ainda na sexta-feira (3) pela manhã, os policiais da DIG conseguiram identificar uma das pessoas que recebeu uma das transferências em dinheiro, que o grupo conseguiu fazer. A mulher é moradora em situação de rua e vive em São Paulo. O delegado acredita que ela não esteja envolvida diretamente no sequestro e foi usada como laranja. A mulher ainda não foi localizada. 

O sequestro

Após ser resgatado, o jovem relatou aos policiais que o ponto de encontro marcado pela falsa crush do Tinder foi na casa dela em Caieiras. Ele teria contestado, sugerindo um local público e movimentado, mas a criminosa insistiu para ser na casa dela. "Ela enviou o mapa para ele e ele foi. Disse que quando chegou no endereço ficou receoso e chegou a parar antes de chegar na casa, mas ela ligou em seguida e perguntou qual era o carro dele. Com isso, ele se distraiu", contou o delegado.

O jovem foi rendido por dois homens que estava em um carro de cor escura e modelo antigo e obrigado a entregar celular e senhas. Ele foi levado para o barraco que fica a 16,8 km do ponto de encontro (cerca de meia hora). No local, o jovem foi agredido para revelar senhas do celular e das contas bancárias que apareciam nos aplicativos do celular. Como apenas os pais do rapaz tinham acesso às senhas, os criminosos passaram a bater nele, inclusive com coronhadas. "Eles (criminosos) fizeram quatro transferências em um total de cerca de R$ 5 mil. Como não conseguiram mais, entraram em contato com os pais dele na manhã da quinta-feira e pediram resgate. Foi aí que conseguimos localizar o cativeiro e resgatá-lo", contou Costa. 

Outros casos

Essa não é a primeira vez que moradores da região de Campinas são vítimas do "golpe do aplicativo" ou "golpe do amor". Em novembro do ano passado, um piloto de aviões de Campinas, de 57 anos, perdeu cerca de R$ 15 mil para uma quadrilha que também usou aplicativos de relacionamento para sequestrar e extorquir dinheiro. 

O homem foi para São Paulo se encontrar com a pessoa com quem ele estava conversando no aplicativo e marcou encontro na Rodovia Raposo Tavares, trecho que liga a capital à região de Sorocaba. Quando chegou, foi abordado pelos ladrões.

Ele foi levado para um cativeiro, em uma comunidade da Zona Oeste da capital paulista. A Polícia Militar chegou ao local depois de denúncia anônima. O homem foi resgatado sem ferimentos. Na época, seis pessoas foram presas e um menor de idade foi apreendido. 

No cativeiro, os policiais encontraram indícios de que um médico também teria sido vítima da mesma quadrilha. Na ocasião, segundo a polícia, o chamado "golpe do aplicativo" correspondia a seis em cada dez sequestros praticados na cidade de São Paulo. "Há 20 dias também houve um caso envolvendo vítima na região de Campinas. Em um ano, já peguei três casos semelhantes", contou Costa. 

De acordo com o delegado, a polícia de Caieiras informou que esse golpe faz ao menos uma pessoa por dia. Que aquela região está se firmando como berço de atuação dos criminosos que praticam essa modalidade de crime. "Tem que tomar muito cuidado com as redes sociais e com quem se conversa. Não ficar apenas em um aplicativo, pois esse tipo de golpe está sendo muito comum. A pessoa se utiliza de uma foto atraente e bonita no aplicativo de relacionamento para atrair a vítima. Depois de algumas conversas, muda para o aplicativo do WhatsApp, que é de conversa pessoal e a partir daí começa o convencimento para o encontro. Se marcar encontro, marque em local público, com grande circulação de pessoas", orientou Costa.

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