ORGULHO NACIONAL

Polícia Federal completa 80 anos com atuação marcante em Campinas

Após passar por um processo de reestruturação, a PF campineira tem se destacado com uma atuação notável no combate a diversos tipos de crimes

Alenita Ramirez/ [email protected]
07/04/2024 às 10:51.
Atualizado em 07/04/2024 às 10:51
Policiais federais participam de treinamento para combater o crime organizado; em 2002, a instituição deu início às grandes operações no país (Divulgação/ PF)

Policiais federais participam de treinamento para combater o crime organizado; em 2002, a instituição deu início às grandes operações no país (Divulgação/ PF)

A Polícia Federal (PF) celebra seus 80 anos como uma instituição estruturada, respeitada e reconhecida como uma autoridade de destaque no combate aos crimes financeiros e ambientais em todo o território nacional. Nesse cenário, a unidade da PF em Campinas emerge como uma das mais ativas e respeitadas do país, destacando-se especialmente no enfrentamento ao tráfico de drogas, crimes de ódio e abuso sexual infantojuvenil praticados online - áreas onde a atuação da PF é reverenciada globalmente. Às vésperas de seu aniversário, a corporação alcançou um marco significativo ao elucidar o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, ocorrido no Rio de Janeiro em 2018.

Em 2018, a PF adotou estratégias de business intelligence e tratamento massivo de informações para reduzir o número de inquéritos e centralizar determinadas investigações em equipes únicas, multiplicando assim sua capacidade de conduzir investigações. Com essa abordagem inovadora, a PF em Campinas viu um aumento expressivo nas operações especiais, passando de quatro em 2019 para 24 em 2023. Durante esse período, foram estabelecidos grupos especializados, sendo o primeiro deles, não apenas na unidade, mas em todo o Brasil, dedicado aos roubos de cargas, seguido por unidades especializadas em crimes financeiros, ambientais e de tráfico de drogas.

O grupo de tráfico de drogas, criado em 2021, lançou projetos como a Operação Sentinela, implantada ao longo de 2023, e a Operação Portão 8, iniciada em janeiro deste ano, consolidando a unidade como referência em apreensões de drogas e operações em Viracopos. "A Operação Overload foi crucial para limpar o Aeroporto de Viracopos. A partir dela, obtivemos condenações que totalizaram mais de 100 anos de prisão para os investigados. Além disso, aprimoramos nossa capacidade de produção de provas ao longo do último ano", enfatizou o delegado-chefe da unidade em Campinas, Edson Geraldo de Souza.

Além do aumento no número de operações, o tratamento massivo de informações também contribuiu para a redução do número de inquéritos na unidade, com investigações mais ágeis. De 2.700 em 2019, o número de inquéritos diminuiu para 500 neste ano. "A cada nova denúncia de crime, conseguimos solucionar outros 10 inquéritos. Portanto, o volume de entrada hoje, mesmo em comparação com 2019, é incompatível com o volume de casos finalizados", explicou o delegado.

De acordo com Souza, a Polícia Federal (PF) também otimizou o tempo das investigações. Atualmente, em Campinas, dentro dos 500 inquéritos em curso, apenas oito ultrapassam os cinco anos de duração, enquanto apenas 40 deles se estendem por mais de três anos.

Além disso, a unidade de Campinas é reconhecida como referência em simulados aéreos, como o ESAIA (Exercício Simulado de Apoderamento de Aeronave) e o ESAIA (Exercício Simulado de Ameaça de Bomba), realizados anualmente em Viracopos pelo Comando de Operações Táticas (COT) da PF.

A instalação da unidade em Campinas remonta a setembro de 1984, no Aeroporto Internacional de Viracopos, conforme relato de um policial federal aposentado. Naquela época, a unidade era composta por um delegado veterano, vindo da Superintendência Regional da Polícia Federal em São Paulo (SR/SP-DPF Calamante), e 24 agentes recém-formados na Academia Nacional de Polícia (ANP). O colega aposentado teria sido o 24º a optar por Campinas. À época, a PF operava em um prédio alugado na Rua Bernardo José Sampaio, na Vila Itapura.

NASCIMENTO

A história da Polícia Federal tem início em 28 de março de 1944, por meio do decreto 6.378, que a transformou da Polícia Civil do Distrito Federal em Departamento Federal de Segurança Pública, com sede no Rio de Janeiro. Essa mudança de nomenclatura foi motivada pela necessidade de uma força policial com atuação em todo o território nacional. Com a inauguração da nova capital em 1960, sua estrutura organizacional foi transferida para Brasília, sendo então renomeada em 1967 como Departamento de Polícia Federal.

Durante quase duas décadas, a instituição buscou uma estrutura inspirada em modelos mais avançados de segurança pública, espelhando-se nas instituições de segurança dos Estados Unidos, Canadá e Inglaterra. A partir de 1988, com a promulgação da Constituição Federal em 5 de outubro, suas competências e atribuições foram definidas, consolidando-a definitivamente como Polícia Federal (PF), com a função de polícia judiciária da União.

Assim, a PF foi incumbida da investigação de crimes contra bens, serviços e interesses da União, bem como da prevenção e repressão ao tráfico de drogas e ao contrabando. Além disso, assumiu funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras, bem como o controle migratório. Mais recentemente, a instituição recebeu a responsabilidade de exercer o controle de armas, segurança privada e produtos químicos.

"A partir de 1988, a história da Polícia Federal mudou significativamente, pois ali ela foi definida como um órgão permanente de segurança pública, destinado a desempenhar um papel fundamental em prol do Brasil", explicou o delegado Edson Geraldo de Souza.

A Constituição Federal não apenas delineou o caminho da instituição, mas também estabeleceu o plano de carreira de seus servidores, tornando seus cargos um dos mais almejados por profissionais de diversas áreas e por candidatos a concursos públicos. Anteriormente, os cargos de alto escalão na instituição, como diretores e superintendentes, eram ocupados por pessoas cedidas de outros órgãos fora da PF e apadrinhadas por políticos.

Com sua consolidação, a Polícia Federal estruturou-se com uma organização própria e implementou planos de carreira para seus servidores. A partir do início do novo milênio, em 2003, a instituição realizou seu primeiro concurso público sob o novo molde delineado para a PF, selecionando candidatos com formação técnica e experiência em diversas áreas para ocupar cargos de agentes, escrivães, peritos, papiloscopistas e delegados.

Um ano antes, em 2002, a PF deu início às grandes operações, sob a liderança de novos diretores-gerais, mas foi a partir de 2003 que essas operações ganharam maior impulso. Operações como Praga do Egito, Gafanhoto, Anaconda, Medusa e Lince foram deflagradas, sendo esta última especialmente destinada a desmantelar grupos internos da própria Polícia Federal, visando limpar definitivamente a instituição.

"Ali começou uma história completamente nova para a Polícia Federal que existia até então. Existe uma história anterior da PF que ficou para trás e o que vemos hoje é a Polícia Federal atuando em grandes investigações estruturadas", observou Souza. O ápice dessa evolução ocorreu durante a pandemia da covid-19, que alterou radicalmente a forma de vida e as interações das pessoas com o mundo. Não apenas a PF, mas também indústrias e o comércio tiveram que se adaptar a esse momento em que todos estavam em casa, para continuar funcionando e permitir que as pessoas trabalhassem remotamente.

Para enfrentar esse novo modelo de vida, a Polícia Federal teve que expandir sua infraestrutura tecnológica e de informação, permitindo que os policiais continuassem trabalhando, investigando e desmantelando esquemas criminosos, mesmo à distância.

Em 2019, por exemplo, a instituição tinha cerca de 100 mil inquéritos em andamento em todo o Brasil. Durante a pandemia, com a concessão do auxílio emergencial para que pessoas de baixa renda pudessem sobreviver, os criminosos também se reinventaram, passando a fraudar o sistema bancário para desviar o dinheiro da União destinado aos beneficiários do programa.

Os criminosos, para realizar o esquema, invadiam o sistema da Caixa Econômica Federal (CEF), utilizando dados de terceiros para cadastrar falsos beneficiários e abriam contas bancárias em nomes de laranjas para desviar os valores. Segundo Souza, na época, a PF recebeu cerca de 800 mil comunicações da Caixa.

"Se tivéssemos instaurado mais inquéritos das fraudes da forma tradicional, que era o procedimento anterior, teríamos quase um milhão de inquéritos e precisaríamos de pelo menos mais dez policiais federais apenas para lidar com os casos adicionais resultantes do auxílio emergencial. Foi nesse momento que a Polícia Federal tomou uma decisão crucial: adotar o tratamento massivo de informações", explicou Souza.

Foram então aprimorados projetos como o Prometheus, Tentáculos e BNFAE (Banco Nacional de Fraudes ao Auxílio Emergencial) para absorver informações em larga escala. Por meio desses projetos, não era mais instaurado um inquérito para cada denúncia, mas sim inseridas essas denúncias e outras no banco de dados, que cruzava as informações e identificava a região ou estado com maior incidência de fraudes, cabendo à unidade local investigar o crime em âmbito nacional.

A unidade da PF em Campinas destacou-se na investigação desse crime. Por meio desse cruzamento de dados, a PF campineira conduziu duas grandes operações: a Apateones, considerada a maior operação da instituição em volume de fraudes no auxílio emergencial, que totalizou R$ 50 milhões confirmados desde o início da investigação - podendo chegar a até R$ 200 milhões -, e a Lother.

Na operação Lother, também relacionada ao auxílio emergencial, a PF campineira prendeu o principal responsável pela fraude, um jovem hacker, criador do aplicativo usado nas fraudes no Brasil. "Ao deixarmos de agir individualmente nos inquéritos, passamos a realizar grandes operações", recordou Souza.

A partir desse tratamento massivo, da implantação de uma nova tecnologia e da aquisição de equipamentos avançados, como os ultrabooks - uma versão reforçada de notebooks, com maior capacidade e que pode ser levada para casa pelos policiais para dar continuidade ao trabalho - a Polícia Federal passou a solucionar os inquéritos com mais rapidez.

"Hoje existe o programa Rosa dos Ventos, um programa especial da Polícia Federal voltado para a diversidade e o bem-estar dos policiais dentro da instituição, que tem se aprimorado muito. O objetivo da PF é ser republicana, democrática e transparente", ressaltou Souza.

Embora a maioria das pessoas conheça a Polícia Federal por seu trabalho policial, a corporação também possui uma vertente administrativa que abrange desde o atendimento ao cidadão em relação a passaportes, segurança privada e produtos químicos até o controle de armas para a população em geral, estrangeiros, controle imigratório, aeroportuário, portuário e de fronteiras. Recentemente, a unidade de Campinas cedeu uma sala em sua sede no bairro Botafogo para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), para uso de advogados e atendimento a familiares de investigados.

"São 80 anos de uma construção da qual tenho orgulho de participar na Polícia Federal. Aqui temos pessoas realmente comprometidas em fazer as coisas acontecerem, como evidenciado pelo número de operações, informações e prisões, além da qualidade do trabalho realizado, do atendimento à sociedade local e do respeito à imprensa. Isso faz parte dos princípios da Polícia Federal", enfatizou Souza.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por