Quadrilha utilizava as galerias de água pluvial da Vila Formosa para armazenar e vender drogas como cocaína e maconha; 15 pessoas foram presas, sendo que quatro são mulheres
Os criminosos usavam as galerias de águas pluviais para camuflar o tráfico e dificultar a ação da polícia (Divulgação)
O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP), e a Polícia Militar (PM) de Campinas desarticularam uma organização criminosa envolvida no tráfico de drogas, que utilizava galerias de águas pluviais para esconder e comercializar entorpecentes. O grupo atuava em pelo menos oito bairros de Campinas e havia criado uma estrutura engenhosa nas tubulações da Vila Formosa para facilitar a rota do crime e proteger seus membros.
Essa descoberta sobre o tráfico subterrâneo é a continuidade das investigações conjuntas do Gaeco e do 1º Batalhão de Ações Especiais de Policiamento (Baep) contra o tráfico em Jaguariúna, que começaram em abril de 2022. Em setembro do ano passado, policiais da Força Tática do 35º Batalhão de Policiamento Militar do Interior (BPMI) apreenderam cerca de 4,3 toneladas de drogas em um bueiro na Vila Formosa. As investigações levaram à prisão de um traficante apontado como líder do grupo em uma operação conjunta realizada pelo Gaeco e pela PM em dezembro passado. Na época, foram apreendidos R$ 306 mil em espécie em dois endereços do suspeito, além de armas de fogo, veículos e outros objetos.
Os promotores constataram que a associação contava com pelo menos 26 pessoas, desempenhando diferentes funções, como gerentes, intermediadores de vendas em grande quantidade, olheiros, vendedores de pequenas quantidades e operadores de produção nas refinarias clandestinas onde as drogas eram embaladas. Além disso, foi descoberto que uma empresa de fabricação de produtos farmacêuticos legalizada estava envolvida no esquema criminoso. Essa indústria, localizada em Campinas, mas com a proprietária residindo em Sumaré, produzia e fornecia os recipientes utilizados para o comércio ilegal de drogas.
Segundo os promotores, o tráfico de entorpecentes dessa organização ocorre principalmente nos bairros Vila Formosa, DIC's, Tamoios, jardins Itatiaia, Samambaia, Nova Europa, São Fernando e Paranapanema. Os criminosos usavam as galerias de águas pluviais para camuflar o tráfico e dificultar a ação da polícia. A venda das drogas era realizada por meio das grades das bocas de lobo, o que motivou a denominação da operação como "Sumidouro".
"Foi montada toda uma estrutura dentro das galerias pluviais como forma de impedir que a água caia sobre os traficantes. Mudaram até o curso da água para impedir que os policiais conseguissem ingressar nas galerias e houvesse uma rota de fuga em caso de necessidade", relata o promotor Rodrigo Lopes.
A descoberta desse esquema criminoso levou o Gaeco e a PM a deflagrarem ontem, de manhã, a operação "Sumidouro". A ação envolveu promotores e policiais do 1º e 10º Baep, que cumpriram 26 mandados de prisão temporária e 20 mandados de busca e apreensão em endereços localizados em Campinas, Paulínia, Hortolândia, Valinhos, Sumaré, Presidente Prudente e Itatiba. Durante a operação, foram realizadas 15 prisões, sendo que duas pessoas foram presas em flagrante por porte de arma de fogo e posse de maconha, embora não fossem alvos diretos da ação.
MANDADOS
Em Campinas, os mandados foram cumpridos nos bairros onde a organização atuava, além da Vila Padre Anchieta. Em um dos endereços, os agentes apreenderam cinco milhões de microtubos vazios utilizados para embalar drogas. A esposa do líder da organização também foi presa.
Em Sumaré, foi realizado um mandado de busca e apreensão em um endereço no bairro Matão, onde foram encontrados R$ 138.488,00 em espécie, um notebook, três celulares, uma máquina de cartão e um cartão magnético. Em Hortolândia, um mandado de prisão e busca foi cumprido no condomínio Green Park, mas o alvo não foi encontrado, apenas alguns celulares foram apreendidos.
Dos 15 presos durante a operação, quatro eram mulheres. A maioria das prisões ocorreu em Campinas (11), sendo que um alvo foi localizado em Valinhos e outro em Presidente Prudente. Todos os presos e o material apreendido foram encaminhados às delegacias das respectivas cidades, sendo que em Campinas foram levados para o plantão do 1º Distrito Policial (DP) e da 2ª Delegacia Seccional.
O promotor Rodrigo Lopes ressaltou que a estrutura da organização criminosa foi completamente identificada, inclusive o líder, que já havia sido preso no início das investigações e condenado a uma pena de 16 anos e oito meses por corrupção ativa, associação para o tráfico e porte de arma.
Segundo o major da PM Paulo César Salgado, responsável pelas investigações contra o grupo no 1º Baep, a quantidade de microtubos apreendida é a maior já encontrada pela corporação até o momento.
Ele também destacou que durante a operação, equipes da Força Tática do 35º BPMI realizaram uma incursão nas galerias da Vila Formosa, e a prefeitura e a Guarda Municipal foram acionadas para adotarem medidas na região em termos de habitação e urbanismo, a fim de impedir o acesso dos traficantes às galerias pluviais e desfazer a estrutura que havia sido criada no local.
"A operação transcorreu de forma tranquila. A grande quantidade de tubos apreendidos demonstra o tanto que a organização tem e consegue produzir de drogas para o comércio em varejo. Esses tubos são usados para o armazenamento de cocaína, então pela quantidade de tubos você consegue ver o quanto que essa organização arrecada em termo financeiro por dia", comentou o major da PM. "Como foi apreendida, acaba sendo um golpe para a organização não só na questão da logística, mas para a venda também", emendou.
Tanto o major da PM quanto os promotores enfatizaram que essa operação não tem relação com o episódio ocorrido no final do mês passado no Jardim Paranapanema, no qual um policial militar do Baep foi atingido por uma pedrada na cabeça durante uma abordagem, resultando na fuga de um suspeito e na morte de outro em confronto com os policiais. Essa ação também visava combater o tráfico de drogas.