Na fábrica, foram encontradas 21 pessoas, sendo 18 delas de nacionalidade paraguaia
A empresa clandestina contava com maquinário próprio, idêntico aos de uma fábrica de cigarros legalizada (Divulgação Policia Civil)
A Polícia Civil de Campinas desarticulou um esquema de falsificação de cigarros que envolvia a confecção do produto na região e até a importação da mão de obra qualificada, que era contratada no Paraguai. O esquema criminoso foi descoberto por policiais civis da Delegacia de Investigações Gerais (DIG), da Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) de Campinas, e desarticulado nesta semana após a prisão de um dos líderes, um operador de empilhadeira de 37 anos, em outubro do ano passado, no bairro Chácara Primavera, em Jaguariúna. A produção em solo brasileiro, segundo a polícia, é para evitar o contrabando do país vizinho e também abastecer o comércio ilegal na região.
A empresa clandestina de cigarros funcionava no bairro Werner Plaas, em Americana, e contava com maquinário próprio idêntico aos de uma fábrica de cigarros legalizada. No local, era feita toda a linha de produção, desde o embalo do fumo no papel ao corte dos cigarros já prontos e também a embalagem nas caixas individuais e em pacotes. A produção falsificava marcas de cigarro produzidas no Paraguai, cuja comercialização é proibida no Brasil.
A ação foi coordenada pelo delegado titular da DIG, Marcel Fehr, e o assistente e supervisor do Grupo de Operações Especiais (GOE), Luiz Fernando Dias de Oliveira, e contou com a participação de policiais civis da DIG/Deic. Além da fábrica em Americana, os agentes também descobriram dois entrepostos de matéria-prima em Amparo.
Na fábrica foram encontradas 21 pessoas, sendo 18 delas de nacionalidade paraguaia. Os estrangeiros, segundo Fehr, informaram que estavam no Brasil há aproximadamente um mês e moravam em um alojamento que tinha boa infraestrutura, nas dependências da empresa. "Provavelmente esses paraguaios foram recrutados porque tinham experiência nas fábricas paraguaias de cigarro. Pois não é qualquer pessoa que sabe manusear esse maquinário. Tem que ser alguém com uma expertise nesse manejo e não existe, aqui no Brasil e na nossa região, essa mão de obra qualificada", disse Ferh.
Em Amparo, quatro pessoas foram detidas durante buscas em dois barracões, onde foram encontrados diversos produtos. No total, a operação resultou na apreensão de 87 caixas de fumo, totalizando 22 toneladas, além de 64 paletes de embalagens com inscrições de cigarros com marcas paraguaias, quatro toneladas de bobinas de papel, plástico e alumínio, seis mil caixas de papelão e nove mil maços de cigarros, além de quatro caminhões, uma carreta, uma van e carro utilitário e também uma prensa. "Essas marcas de cigarros são muito consumidas aqui na nossa região por serem mais baratas que as marcas oficiais. Então eles instalaram essa fábrica em Americana por uma questão logística, estratégica para distribuição posterior", explicou Ferh.
No total, 25 pessoas foram presas por crimes contra as relações de consumo e por participação em organização criminosa e levadas para a sede da DIG no Jardim Amazonas, em Campinas. O grupo passou por audiência de custódia anteontem e todos foram colocados em liberdade, já que o juiz entendeu que se trata de um crime sem violência e ameaça. Porém, foram estabelecidas algumas restrições para os envolvidos, como não deixar a cidade e ter que prestar informações ao Judiciário, inclusive a vedação de poder praticar atividade comercial semelhante a que vinha sendo investigada.
Segundo Ferh, a situação dos paraguaios será comunicada a outros órgãos, como o Ministério Público do Trabalho (MPT) e Polícia Federal (PF), para verificar a condição de legalidade ou não e também providenciar uma eventual assistência a eles e recambiá-los ao Paraguai se for o caso. "Não existe uma condição de legalizado ou ilegal porque os dois países fazem parte do Mercosul e as pessoas podem ingressar livremente. O que vai acontecer agora é que a gente vai comunicar, até por ordem do juiz, o consulado", explicou o delegado.
INTELIGÊNCIA POLICIAL
Os policiais chegaram à fábrica a partir da prisão, no dia 3 de outubro do ano passado, de um homem apontado como chefe do esquema em um barracão clandestino localizado na Praça Emílio Marconato, no Chácara Primavera, em Jaguariúna.
Na época, uma equipe comandada pelo delegado Luiz Fernando Dias de Oliveira foi até o endereço para chegar denúncias realizadas diretamente à DIG, sobre a existência de um galpão que estaria armazenando cigarros falsificados, em sua grande maioria, de marcas paraguaias.
No endereço, os policiais localizaram duas pessoas, mas uma delas fugiu, e apreendidos 577.500 filtros, acondicionados em 165 caixas, e 800 mil cigarros da marca "Palermo", além de duas máquinas empilhadeiras. "A operação Fake Smoke teve por objetivo desarticular uma organização criminosa voltada à fabricação de cigarros falsos. Essa operação teve início com a prisão de indivíduo em Jaguariúna e no curso das investigações, confrontando informações escolhidas e utilizando-se de vários métodos de investigação, conseguimos localizar dois barracões na cidade de Amparo, onde foram encontrados vários insumos e equipamentos destinados à fabricação de cigarros, e na cidade americana toda cadeia desenvolvida na produção desses cigarros", disse o delegado da Deic, José Carlos Fernandes. "As investigações prosseguem no intuito de identificar outros integrantes dessa organização criminosa e também quem eram os receptadores", reforçou Fernandes.
Segundo o delegado divisionário, os veículos, equipamentos e também os insumos que foram apreendidos serão, oportunamente, destruídos ou leiloados, respectivamente, conforme a determinação judicial.
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