FECHANDO O CERCO

Polícia Civil identifica mais remédios furtados do DRS

Cinco caixas foram recuperadas, duas delas contendo Venclexta, usado no tratamento de leucemia

Alenita Ramirez/ [email protected]
10/01/2024 às 09:30.
Atualizado em 10/01/2024 às 09:30
Geladeiras para medicamentos de alto custo do DRS; sistema de conferência de estoque é considerado falho (Divulgação)

Geladeiras para medicamentos de alto custo do DRS; sistema de conferência de estoque é considerado falho (Divulgação)

A Polícia Civil identificou mais medicamentos furtados da farmácia judicial do Departamento Regional de Saúde (DRS) de Campinas. Os remédios foram despachados via transporte aéreo para Vitória (ES) pelas mulheres, respectivamente esposa e enteada do servidor público, as quais foram detidas na última sexta-feira sob suspeita de desviar mais de R$ 1 milhão em medicamentos da farmácia estadual. Após a interceptação dos agentes, pelo menos cinco caixas contendo dois tipos de medicação acondicionadas em um recipiente de isopor foram apreendidas pela polícia. O material chegou à Campinas na segunda-feira (9) e foi encaminhado para análise pericial.

Duas das caixas continham Venclexta 120 mg, utilizado no tratamento da leucemia, com cada unidade podendo custar entre R$ 40 mil e R$ 60 mil. Conforme informado pelo delegado responsável pelas investigações, Elton Costa, da Delegacia de Investigações Gerais (DIG), todo o estoque de medicamentos apreendidos no estado do Espírito Santo passará por perícia da Polícia Técnica Científica e, posteriormente, será devolvido à farmácia judicial.

A revelação do esquema de desvio de medicamentos na DRS ocorreu quando a direção da unidade registrou uma queixa de furto de 79 caixas de pembrolizumabe, utilizado no tratamento do câncer de estômago, avaliadas em cerca de R$ 1,1 milhão, no 1º Distrito Policial (DP). O crime teria ocorrido durante o período de Natal, uma vez que o desaparecimento foi notado por uma funcionária em 27 de dezembro, quando um paciente foi retirar sua medicação e constatou que o estoque virtual indicava 80 caixas, mas fisicamente havia apenas uma unidade. Essa medicação era destinada a nove pacientes que obtiveram autorização judicial para seu uso, com os custos suportados pelo Estado.

A descoberta de mais medicamentos fortalece a suspeita da Polícia Civil de que outros fármacos do Departamento Regional de Saúde (DRS) poderiam ter sido furtados pelo servidor, que era concursado e desempenhava suas funções no almoxarifado. De acordo com Costa, foi constatado que os furtos ocorriam há, pelo menos, um ano. O servidor teria se aproveitado de uma vulnerabilidade no sistema de estoque, manual, e também da ausência de vistorias em mochilas e bolsas na saída da unidade.

Devido ao tamanho reduzido das caixas, a polícia presume que o servidor as colocava na mochila. O homem, de 61 anos, era apontado como responsável por retirar a medicação de alto custo. Já sua esposa, de 60 anos, e a enteada, de 35 anos, seriam encarregadas de enviar os medicamentos para outras localidades. Por sua vez, o marido da enteada desempenhava o papel de articulador e captador de receptadores.

Na residência do servidor, localizada na região do Jardim Campo Belo, foram encontradas caixas de isopor e outros medicamentos que, possivelmente, eram provenientes da farmácia estadual.

A família teve a prisão preventiva decretada pela Justiça, por tempo indeterminado. A polícia está em busca da carga do pembrolizumabe.

Os investigadores também planejam examinar as finanças de toda a família para verificar se houve movimentação financeira acima da renda declarada pelos suspeitos. Até o momento, a polícia descobriu que o servidor recentemente se mudou para uma residência maior e adquiriu um carro de luxo.

Segundo o delegado Fernando Manuel Bardi, diretor do Departamento de Polícia Judiciária 2 (Deinter-2), o esquema de furtos de medicamentos já ocorria há algum tempo, provavelmente em escala menor, e pode ter sido facilitado por um sistema falho de conferência dos medicamentos. "Conversamos com a diretora e constatamos que o controle é um pouco falho, pois ele é feito sem um sistema de aferição informatizado. Eles têm um sistema de controle que é feito à mão", explicou.

Devido a esse sistema, a polícia ainda não conseguiu determinar se as fraudes ocorreram durante a entrega dos medicamentos aos pacientes, resultando em quantidades menores, ou se o servidor contou com a colaboração de outro funcionário do estoque para o desvio dos produtos. "Vamos investigar todos os funcionários", afirmou o delegado.

Os policiais descobriram que sete funcionários estão diretamente envolvidos na entrega dos remédios, os quais são armazenados em geladeiras localizadas no piso térreo e no primeiro andar. Nessas áreas, há duas câmeras de segurança, mas no caso do desaparecimento do pembrolizumabe, uma delas estava desfocada e a outra não estava funcionando.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por