CRIMINALIDADE EM ALTA

PM dá ultimato à Rumo sobre delinquência na linha férrea de Campinas

Corporação também cobra Prefeitura para que melhore condições da área ocupada por bandidos

Alenita Ramirez/ [email protected]
22/03/2023 às 09:18.
Atualizado em 22/03/2023 às 09:18
Policiais do 8º Batalhão de Policiamento Militar realizam operação de combate ao crime na linha férrea (Divulgação e Rodrigo Zanotto)

Policiais do 8º Batalhão de Policiamento Militar realizam operação de combate ao crime na linha férrea (Divulgação e Rodrigo Zanotto)

O comando do 8º Batalhão de Policiamento Militar do Interior 2 (BPM/I) deu um "ultimato" para a empresa Rumo Logística e a Prefeitura de Campinas, para que tomem medidas imediatas de melhorias estruturais no muro e limpeza em um trecho de cerca de 600 metros da linha férrea, que começa no Viaduto Miguel Vicente Cury e segue até o início da Avenida da Saudade, no bairro Ponte Preta. A área, segundo as forças de segurança pública, é palco para a prática de diversos crimes, como tráfico, desova de produtos de furtos e roubos e, inclusive, foi usado para cativeiro de vítima de sequestro-relâmpago. Além disso, a Polícia Militar (PM) também verificou indícios de uso para a prática de prostituição. 

A medida emergencial tem como objetivo combater a criminalidade na região central e imediações, em especial perto do Terminal Central, onde os índices de crimes são elevados. Dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP) mostram que em janeiro deste ano, o número de furto nesta área aumentou 17,5% em comparação com igual período de 2022. O de roubos foi ainda maior, 33,4%. Entre os crimes registrados nesta região constam os de furtos de fios a estabelecimentos, furtos e roubos de celulares, carteiras e bolsas a pedestres e produtos de lojas e também tráfico de drogas. 

Por ser uma área mais isolada e murada, a linha férrea, parcialmente desativada, acaba sendo usada por usuários de entorpecentes e outros criminosos para desova de objetos e esconderijo de suspeitos procurados pela polícia.

Para coibir a criminalidade nos trilhos dentro deste trecho perto do Terminal Central, o Batalhão realizou anteontem de manhã, uma operação conjunta da PM (através do Helicóptero Águia, Bombeiros e Canil do 1º Batalhão Ações Especiais - Baep), a Guarda Municipal, a Prefeitura (Assistência Social, Defesa Civil e Serviços Públicos) e a Rumo. Onze pessoas, todas usuárias de drogas, foram abordadas e encaminhadas para a Assistência Social. Uma delas, um homem, tinha boletim de ocorrência de desaparecimento e estava com um aparelho celular sem nota e IMEI. Ele chegou a ser levado para o 1º Distrito Policial (DP), onde prestou depoimentos e liberado. 

"Pedimos para o representante da Rumo, que esteve presente, para retirar o muro que existe hoje e colocar gradis com concertina ou cerca elétrica, iluminação, fazer a poda do mato e também instalar câmeras no trecho para fazer o monitoramento. Há buracos no muro e também há trechos que o muro está inclinado, o que gera risco de desabamento", disse o coronel Paulo Henrique Rosas. 

A operação envolveu 26 policiais militares, além dos cães de faro do Baep. Um dos buracos possui cerca de dez metros de extensão e está localizado próximo a uma praça no início da Rua Álvares Machado. A polícia não soube informar se a depredação no muro foi causada por moradores em situação de rua que circulam no trecho ou se por causas naturais, como a chuva. Para a comprovação dos riscos, o comando pediu um laudo da Defesa Civil.

Neste trecho, o mato estava alto e os policiais localizaram três barracas, totalmente limpas, com colchões e até pacotes com camisinha o que levou a polícia a acreditar que sejam usadas para a prática de sexo, ou seja, prostituição. No lado oposto das barracas, havia uma espécie de cabana provavelmente usada para banhos. 

Durante a ação, os policiais militares localizaram um "cemitério" de capinhas de celulares, o que também levou os agentes a constatarem como ponto de desova de aparelhos oriundos de delitos praticados na região central da cidade. "A Polícia Militar fez uma observação para a Prefeitura e a Rumo em relação às melhorias estruturais no local para garantir a segurança (em geral) e a segurança primária, mas a responsabilidade das melhorias é da prefeitura e da Rumo. Da forma que este trecho se encontra, ele é um ambiente propício a prática de crimes. A Polícia Militar faz constantemente ações voltadas às abordagens, patrulhamento ostensivo e diante de situações pontuais, é realizada operação específica", explicou o capitão da PM do 8º BPM/I, Hercílio Costa. "Esse ponto (muro) chama a atenção devido à condição estrutural de segurança primária que é deficitária", acrescentou o capitão. 

No segundo semestre do ano passado, um jovem de Cosmópolis foi rendido por criminosos quando chegava no terminal rodoviário e levado para um cativeiro na linha férrea. Ele foi mantido refém e ameaçado de morte enquanto criminosos faziam transferências bancárias. Os bandidos estavam armados com uma tesoura.

Também no ano passado, um homem foi morto a pauladas no mesmo trecho da linha férrea, perto do viaduto Cury. Recentemente, duas vendedoras foram atacadas em dias distintos, à noite e cerca de 200 metros do buraco no muro, por bandidos moradores em situação de rua. Uma delas usou inseticida para se defender do criminoso. 

Dados da SSP revelam que só em janeiro deste ano, 30 pessoas foram presas nesta região, ou seja, um suspeito preso por dia. Também foram registradas 11 ocorrências de tráfico no local. 

Por conta da grande quantidade de pessoas em situação de rua, em especial de usuários de entorpecentes, na região central da cidade, lojistas e moradores se queixam do esvaziamento na região e da insegurança. "Na teoria do triângulo do crime as três pontas são: local, vítima e criminoso. Um local sem estrutura atrai o crime e a melhoria estrutural dele inibe o crime. Se não tem vítima, não haverá o crime. As condições de um local são muito importantes para combater o crime", observou o capitão Costa. 

Outro lado

Em nota, a Secretaria Municipal de Segurança Pública informou que "a área da linha férrea é uma área de concessão da Rumo e depende da empresa a instalação e o compartilhamento de imagens". "Anteriormente já foi feita uma proposta de compartilhamento de imagens, inclusive com outras melhorias no entorno para melhorar a segurança do local", frisou a pasta.

A Secretaria de Serviços Públicos informou que trocou a iluminação de vias e praças no entorno e que a Avenida Prefeito José Nicolau Ludgero Maselli, paralela ao muro da linha férrea, recebeu lâmpadas de LED, que iluminam mais e são mais duráveis. "O monitoramento na região também tem sido intensificado pelos setores que verificam as áreas públicas, fazendo a limpeza de descarte irregular, a roçagem do mato e a varrição, e de áreas particulares, notificando proprietários de terrenos e calçadas para que mantenham limpos. A Defesa Civil fez vistoria das condições do muro e a Rumo foi notificada a colocar o muro em estabilidade e segurança", informou. Apesar da posição da prefeitura sobre a limpeza, na operação foram localizados diversos trechos com lixos. 

Já a Secretaria de Assistência Social informou que a pasta não recebeu nenhum encaminhamento da PM nos últimos dois dias e que ela também não pode "prender" e nem "obrigar" que dependentes químicos sejam internados. Em entrevistas anteriores, o comandante da PM, coronel Rosas tem ressaltado que a questão na região central de Campinas é social e pública, na qual há necessidade de envolver todos os órgãos públicos municipais, estadual e federal.

Em nota, a Rumo informou que "com a colaboração das autoridades policiais na segurança do trecho mencionado, a empresa irá iniciar a roçada no local nas próximas duas semanas" e que "em relação ao muro e vedação do local, a questão está em análise pelas áreas técnicas da concessionária". Apesar de a empresa citar que começará a roçada, a reportagem do Correio Popular constatou ontem que o serviço já teve início

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