TECNOLOGIA DE PONTA

PF terá scanner corporal para barrar drogas em Viracopos

Moderno equipamento doado pelos EUA integrará a futura ‘muralha digital’ de combate ao tráfico

Alenita Ramirez/ [email protected]
25/10/2023 às 09:36.
Atualizado em 25/10/2023 às 09:36
Os novos equipamentos desempenharão um papel crucial na fiscalização das bagagens (Kamá Ribeiro)

Os novos equipamentos desempenharão um papel crucial na fiscalização das bagagens (Kamá Ribeiro)

A Polícia Federal (PF) implementará uma "muralha digital" no Aeroporto Internacional de Viracopos (VCP), visando combater o tráfico de drogas em âmbito nacional e internacional. Prevista para entrar em operação até o final do primeiro semestre do próximo ano, essa iniciativa contará com tecnologia de ponta, doada pela Transportation Security Administration (TSA), uma agência do Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos, à concessionária Aeroportos Brasil Viracopos (ABV). O memorando referente a essa colaboração foi assinado no ano passado e foi anunciado durante uma coletiva de imprensa da PF, dedicada a mais uma operação do departamento no combate ao tráfico internacional de drogas.

O acordo entre as partes envolve a doação de equipamentos avançados, incluindo scanners corporais (Advance Imaging Technology) e raios-X de visão dupla, além de treinamentos virtuais, em sala de aula e no local de trabalho, para os operadores, conforme informado pela ABV.

A instalação desses equipamentos marca a terceira fase do reforço na fiscalização do aeroporto, iniciada em março deste ano com a Operação Sentinela. O objetivo, conforme destacado pelo delegado titular da PF campineira, Edson Geraldo de Souza, é transformar Viracopos no primeiro aeroporto brasileiro a atingir 100% de vigilância, cobrindo tanto bagagens quanto passageiros. "A muralha que está sendo estabelecida no Aeroporto de Viracopos visa torná-lo um dos aeroportos mais seguros do mundo", ressaltou o delegado. Ele destac’ou ainda a importância dessa medida para as relações internacionais, argumentando que ao chegar em um determinado aeroporto no exterior, as autoridades locais deveriam ter a certeza de que o passageiro provém de um aeroporto rigorosamente fiscalizado e seguro. Isso não apenas contribuirá para a segurança do brasileiro, mas também facilitará a vida do turista e viajante brasileiro no exterior, gerando respeito e confiança nas autoridades estrangeiras.

Os equipamentos em questão desempenharão um papel crucial na fiscalização das bagagens, tanto as despachadas na esteira quanto as de mão e corporais dos passageiros. Atualmente, as detenções ocorrem com base em inspeções seletivas realizadas pela PF e Receita Federal, dada a considerável média de 23 mil passageiros semanais que transitam pelo local.

Desde a implementação da Operação Sentinela, Viracopos registrou 39 ocorrências, resultando na prisão de 42 passageiros, sendo 18 homens e 24 mulheres, e na apreensão de 211 kg de drogas (88 kg de cocaína e 123 kg de maconha). A maioria desses traficantes chega a Viracopos provenientes de outros terminais brasileiros, transportando a droga em seus corpos ou bagagens, exceto nos casos em que a substância é ingerida. Nestas situações, devido ao tempo limitado que o entorpecente pode permanecer no estômago sem causar a morte, o processo ocorre em São Paulo, e a "mula" tenta embarcar em Campinas.

O delegado da PF, Edson Geraldo de Souza, explica como funcionará a muralha digital (Rodrigo Zanotto)

O delegado da PF, Edson Geraldo de Souza, explica como funcionará a muralha digital (Rodrigo Zanotto)

Com a prisão desses transportadores, os agentes iniciaram investigações para identificar os recrutadores e aliciadores desses indivíduos, resultando na prisão de pelo menos sete pessoas, a maioria localizada no Sul do Brasil. 

As prisões derivaram de operações específicas, como a "Body Packing", desencadeada em 4 de abril deste ano, que envolveu a execução de três mandados de busca e apreensão em São Paulo, Goiânia e Brasília, expedidos pela 9ª Vara Federal de Campinas. Em 15 de junho, a "Campinas Connection" teve lugar, com a execução de seis mandados de prisão temporária e nove de busca e apreensão, emitidos pela 4ª Vara Criminal da Comarca de Campinas, abrangendo cidades nos estados do Amazonas, Santa Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul.

Em 3 de agosto, a operação "No-show" foi deflagrada, envolvendo quatro mandados de busca e apreensão e um mandado de prisão preventiva, emitidos pela 1ª Vara Federal em Campinas. Essas ordens foram cumpridas nas cidades de Santa Maria e Itaara, ambas no Rio Grande do Sul.

Na terça-feira (24), a operação "Impuratus" foi conduzida para identificar indivíduos desempenhando papéis como cooptadores, financiadores e fornecedores de cocaína destinada a Portugal e França. Essa ação teve origem na prisão de um passageiro de 56 anos do Sul, que, em 29 de março de 2022, tentou embarcar para Lisboa com 4 kg de droga ocultos em um fundo falso da mala de viagem. Além disso, um homem de 36 anos foi detido com 3 kg de cocaína impregnada em peças de roupa encontradas no interior de sua mala, também com destino a Lisboa. De acordo com Souza, este passageiro já havia sido utilizado como "mula" para transporte de drogas para fora do país, conectando-se pelo Aeroporto Internacional de Viracopos. Sua primeira tentativa bem-sucedida ocorreu em dezembro do ano passado.

Na primeira ocasião, o passageiro de 36 anos não recebeu o pagamento acordado, o que o levou a entrar em contato com todos os envolvidos. Após a prisão dele neste ano, foi realizada uma investigação chamada de "engenharia reversa", proporcionando a obtenção de informações valiosas, conforme explicou o delegado.

No total, quatro mandados de busca e apreensão foram cumpridos em Santa Catarina, abrangendo as cidades de São José, Palhoça, Laguna e Florianópolis. As ordens foram expedidas pela 9ª Vara Federal de Campinas. Os alvos incluem um casal de irmãos e um homem identificados como aliciadores e financiadores das despesas relacionadas às viagens. Durante as buscas, dispositivos eletrônicos foram apreendidos.

O nome "Impuratus" da operação, que significa "impuro" em latim, faz alusão ao método peculiar adotado pelos grupos criminosos, que conseguem dissimular as drogas em peças de roupa. O crime de tráfico internacional carrega uma pena prevista de até 25 anos de prisão. O material apreendido em Santa Catarina será encaminhado à sede da Polícia Federal em Campinas.

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