Foram 110 ações este ano; destaque ao combate ao tráfico de drogas no Aeroporto de Viracopos
O delegado Edson Geraldo de Souza recebeu a reportagem do Correio Popular para uma entrevista exclusiva (Rodrigo Zanotto)
A criação de grupos especializados a partir de 2020 fez com que a Polícia Federal (PF) campineira realizasse e participasse, somente neste ano, de um total de 110 operações, sendo 24 das investigações conduzidas pela unidade local, inclusive duas delas de âmbito internacional – as demais são apoio a outras unidades federativas. Destaca-se nessas ações o êxito no enfrentamento ao tráfico de drogas no Aeroporto Internacional de Viracopos, onde 51 indivíduos foram presos em flagrante, e 254 quilos de entorpecentes foram apreendidos, retirando-os de circulação.
Embora não haja um balanço abrangente de todas as atividades desenvolvidas, é notável o impacto positivo nas operações de combate ao roubo de cargas. Entre 2022 e o presente ano, foram detidos 156 criminosos, resultando na recuperação de um montante de R$ 7,5 milhões em bens roubados. O uso efetivo da tecnologia não apenas fortaleceu as investigações locais, mas também ampliou a cooperação com outras unidades federativas, abrangendo alvos de mandados situados na região sob responsabilidade da PF de Campinas, que engloba 60 municípios circunvizinhos.
O pioneirismo da PF campineira em criar grupos especializados iniciou-se em fevereiro de 2020, com a formação do Grupo Especial de Repressão à Corrupção e Crimes Financeiros (GRCOR), destinado a combater delitos relacionados à corrupção e ao sistema financeiro. Em 2022, o GRCOR de Campinas destacou-se nacionalmente, ocupando o segundo lugar em número de operações deflagradas, perdendo apenas para a PF de São Paulo, totalizando 20 operações contra 21. O delegado-chefe da PF em Campinas, Edson Geraldo de Souza, enfatiza a atuação abrangente da unidade, cobrindo desde crimes violentos, como tráfico de drogas e armas, até delitos do colarinho branco, como corrupção e crimes financeiros. "Nosso trabalho abrange duas áreas distintas. A primeira diz respeito aos crimes violentos, englobando o tráfico de drogas, armas e atividades de facções criminosas, incluindo, nesta frente, o combate ao roubo de carga aqui em Campinas. A segunda aborda os crimes do colarinho branco, que englobam corrupção, delitos financeiros e outras infrações. Atualmente, estamos atuando de maneira equitativa em ambas as esferas aqui em Campinas", afirmou.
Entre 2022 e o presente ano, foram detidos 156 criminosos, resultando na recuperação de um montante de R$ 7,5 milhões em bens roubados (Divulgação)
No mesmo ano de criação do GRCOR, segundo Souza, em meio à pandemia, foram realizadas operações específicas de combate a desvios de recursos públicos destinados ao enfrentamento da covid-19, destacando-se operações como Involuto e Carga Explosiva.
Posteriormente, foram incorporados grupos especializados voltados para crimes ambientais, moeda falsa, fraudes eletrônicas, corrupção e pornografia infantil na internet. Ao estruturar essas equipes, o delegado-chefe da Polícia Federal em Campinas, Edson Geraldo de Souza, explicou que realizou uma avaliação das habilidades de cada agente federal, considerando desde sua formação acadêmica até sua afinidade com a investigação e elucidação de diferentes tipos de crimes. Por exemplo, um agente com proficiência em informática poderia se dedicar a investigações de crimes cibernéticos, enquanto alguém com sólidos conhecimentos em movimentação financeira se direcionaria a casos de crimes financeiros.
"Organizamos os policiais, delegados, agentes e escrivães com base em suas competências pessoais, uma vez que o ingresso na Polícia Federal requer formação universitária. Assim, buscamos identificar as especializações dos policiais dentro dessas equipes. A partir da constituição desses grupos especializados, passamos a investir significativamente em cursos específicos para esses profissionais, bem como para os delegados que coordenam essas equipes", esclareceu Souza.
Com a criação desses grupos especializados, todos os procedimentos relacionados à verificação de casos em investigação foram distribuídos conforme o perfil de cada equipe. Simultaneamente, a PF estabeleceu parcerias estratégicas com a Polícia Militar (PM), a Polícia Militar Rodoviária (PMR), a Polícia Civil e as guardas municipais (GCMs), promovendo a troca de informações e uma atuação mais abrangente no combate à criminalidade.
Delegado-chefe da PF em Campinas, Edson Geraldo de Souza (Rodrifo Zanotto)
"Campinas se mostrou uma unidade pioneira no país na especialização de investigações por meio de grupos igualmente especializados. Esses grupos, hoje, atuam em todas as áreas da Polícia Federal. Não há nenhuma área que não seja coberta por esses grupos especializados de Campinas, e que hoje se replicam e repetem e foram até normatizados pela Polícia Federal", destacou Souza.
A formação desses grupos especializados, tanto em Campinas quanto em outras unidades, resultou na agilização dos inquéritos, proporcionando não apenas uma queda significativa no número de processos, mas também uma redução no tempo dedicado às investigações. Há quatro anos, por exemplo, a PF de Campinas contava com cerca de 2,7 mil processos em andamento e mais de 300 procedimentos em verificação. Hoje, esse número de inquéritos foi reduzido para 600, representando uma diminuição em torno de 76%, enquanto os procedimentos subiram para 400, um aumento de 33%.
A redução no número de inquéritos também é atribuída ao eficiente uso da tecnologia. Com a modernização de sistemas e programas, é possível inserir uma apreensão específica no sistema Big Data da PF, permitindo que a informação seja imediatamente compartilhada entre todas as unidades no Brasil. Quando uma equipe está conduzindo um inquérito relacionado, ela assume a investigação. Anteriormente, se a PF de Campinas realizasse uma apreensão e outra unidade no Norte do país fizesse um caso semelhante, a falta de compartilhamento de dados resultaria na abertura de investigações separadas. "O tratamento massivo das informações em nossos sistemas Big Data envolve a análise da relação entre as ocorrências em todo o Brasil", explicou Souza.
"Sem esse tratamento massivo, seríamos compelidos a instaurar inquéritos, o que demandaria um esforço considerável para investigar, exigindo uma capacidade de processamento oito vezes maior do que a atual da Polícia Federal", enfatizou.
Além da eficaz redistribuição de inquéritos, o tratamento massivo de informações resultou não apenas na redução do número de processos, mas também em significativa diminuição no tempo dedicado às investigações. Uma investigação que anteriormente demandava até um ano para culminar em uma operação, autorizada pela Justiça Federal, com a coleta de evidências incriminadoras, agora é conduzida em aproximadamente seis meses.
Um levantamento recente divulgado pela PF revelou um aumento notável no número de operações deflagradas pela unidade de Campinas desde 2019, passando de quatro naquele ano para 24 no ano atual. Entre essas operações destacam-se a Apateones (7.mar.2023), que buscou desarticular uma organização criminosa envolvida em fraudes ao programa Auxílio Emergencial em todo o país. A operação Malta (14.mar.2023) teve como objetivo prender indivíduos envolvidos em crimes violentos de roubo de caminhões e cargas nas rodovias da região de Campinas e Cajamar. A Sentinela (16.mar.2023) foi o início de uma operação que transcorreu ao longo do ano, visando reprimir o tráfico nacional e internacional de drogas pelo terminal de passageiros do Aeroporto Internacional de Viracopos. A operação Body Packing (4.abr.2023) buscou aprofundar investigações sobre uma organização criminosa envolvida no tráfico internacional de drogas, utilizando brasileiros, principalmente cidadãos transexuais, para ingerir grandes quantidades de entorpecentes e transportá-las até a Europa. Já a operação Deverra (4.dez.2023) foi direcionada ao combate do tráfico internacional de bebês recém-nascidos brasileiros do estado de São Paulo para o continente europeu.
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