FECHANDO O CERCO

PF inicia 4ª fase de ação contra lavagem de grana do tráfico

Esquema que opera em Viracopos envolve 11 indivíduos e cinco empresas associadas ao crime Uma empresária de 44 anos

Alenita Ramirez/ [email protected]
24/11/2023 às 10:08.
Atualizado em 24/11/2023 às 10:08
Agentes da Polícia Federal de Campinas inspecionam material recolhido nas operações de busca e apreensão (Divulgação/ PF)

Agentes da Polícia Federal de Campinas inspecionam material recolhido nas operações de busca e apreensão (Divulgação/ PF)

A Polícia Federal (PF) de Campinas deflagrou na manhã de quinta-feira (23) a quarta fase da Operação Lavaggio, direcionada à investigação da lavagem e ocultação de capitais envolvendo 11 indivíduos e cinco empresas associadas ao tráfico internacional de drogas, com epicentro no Aeroporto Internacional de Viracopos. O esquema criminoso é comandado pelo traficante Roberlei Eloy Delgado, que foi detido em 2021 e, em setembro deste ano, recebeu uma sentença de 112 anos de prisão.

Dentre os alvos da investigação, destaca-se um empresário de Campinas, residente em Maia, Portugal, juntamente com sua esposa e empresa. Ao todo, foram cumpridos 13 mandados de busca e apreensão em dez cidades dos estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo, além de três em Maia. Até as 16h de quinta-feira, cinco veículos, dispositivos eletrônicos e suportes de mídia foram apreendidos, bem como valores bloqueados, que estavam sob contabilização.

A associação criminosa, além de utilizar o Aeroporto de Viracopos, também operava no Aeroporto de Guarulhos para enviar drogas a países como França e Portugal. Esse envio ocorria por meio de mulas e em bagagens de passageiros cooptados pelos criminosos. As investigações indicam que os envolvidos podem ter movimentado mais de R$ 100 milhões entre 2017 e 2020, período que remonta à deflagração da Operação Overload, que, por sua vez, desdobrou-se nas operações Ake e em três fases da Lavaggio.

"A característica dessa organização criminosa é a movimentação por valores bem baixos, embora eles tenham sido responsáveis por toneladas de remessa de drogas para a Europa durante todo esse tempo que eles tenham funcionado", explicou o delegado-chefe da PF em Campinas, Edson Geraldo de Souza.

A transferência de dinheiro ocorria por meio de depósitos, tanto a crédito quanto a débito, de maneira efêmera, utilizando empresas de fachadas ou não. No caso de empresas legítimas, as transações eram híbridas, abrangendo atividades lícitas e ilícitas.

Uma das empresas envolvidas no esquema, que foi alvo da operação, aparenta ser uma marmoraria de grande porte localizada em São Gonçalo (RJ). Essa empresa funcionava como uma passagem, por onde os valores eram direcionados para outras contas. "Temos empresas de turismo, câmbio, até mesmo um restaurante de comida japonesa, que foram utilizados ao longo do tempo nesse esquema de dispersão de transações. Além disso, também identificamos transações em espécie", enfatizou o delegado.

O empresário radicado em Maia se apresenta nas redes sociais como proprietário de uma empresa especializada no agenciamento de esportistas, principalmente jogadores de futebol. Em 2021, em uma matéria publicada em um site nacional, ele se declarou como diretor de um clube de futebol na região de Porto, em Portugal.

De acordo com Souza, o casal de Campinas é conhecido de Delgado, e a relação entre eles está associada à transferência de dinheiro para o exterior e vice-versa. Isso porque, na ocultação de capitais, é comum o uso de "dólar cabo" para a transferência de divisas, aquisição de veículos e imóveis em nome de terceiros. O delegado-chefe ressaltou que os veículos apreendidos na operação têm baixo valor. Os três mandados cumpridos em solo português também visavam busca e apreensão, com o objetivo de coletar evidências ou obter novas informações para inclusão no inquérito.

"É importante entender que na lavagem de dinheiro, a partir do momento que você empresta seu nome, sua conta, para registrar bens ou para movimentar dinheiro de origem ilícita, tendo conhecimento disso, a pessoa também responde pela lavagem de dinheiro. E cada ato de lavagem, por exemplo, emprestou o nome para registrar um imóvel, para registrar um veículo, cada um desses atos é um crime que vai se somando e multiplicando na pena final", destacou Souza.

O desdobramento da operação objetiva não somente a incriminação dos investigados ou a descoberta de novos crimes, mas principalmente esgotar os recursos financeiros da associação criminosa. 

Delgado, que era dono de uma distribuidora de água no Parque da Figueira, em Campinas, agia com a família. A esposa dele foi condenada por participação nos crimes e deverá cumprir 35 anos de prisão. Além do casal, as condenações incluíram duas irmãs do traficante, dois cunhados, inclusive usou o nome da filha menor de idade para a abertura de conta. As penas de todos os condenados chegam a 206 anos de detenção.

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