Caminhões são abundantes na Rodovia D. Pedro I, o que torna a região de Campinas atraente para esse crime (Gustavo Tilio)
A Polícia Federal (PF) de Campinas, em conjunto com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo (MP/SP), prendeu sete pessoas na manhã de quinta-feira (2), durante a a “Operação Rapina”. Elas são acusadas de integrar uma organização criminosa voltada ao roubo de cargas em estradas da região de Campinas que estaria envolvida em nove roubos nos último 18 meses.
Foram cumpridos oito mandados de prisão temporária e sete de busca e apreensão, expedidos pela Vara da Comarca de Campo Limpo Paulista, nas cidades de Campinas, Monte Mor e Sumaré. Um suspeito está foragido. A operação contou com a participação do primeiro grupo especializado em roubos de cargas da Polícia Federal do Brasil, criado em dezembro do ano passado e sediado em Campinas.
Os acusados responderão pelos crimes de organização criminosa e roubo, cujas penas somadas podem chegar a 24 anos de reclusão.
Apuração
As investigações iniciaram-se há um ano e meio e identificaram pelo menos nove roubos realizados pelos integrantes da quadrilha entre julho de 2020 e março de 2022, todos na região de Campinas.
Segundo a PF a organização era especializada nessa modalidade de crime. Como a maioria dos caminhões de carga possuem sistema de rastreio, o grupo se utilizava de tecnologia para a interromper o sinal para então agir. “Via de regra, eles abordavam o motorista do caminhão em um posto de combustível ou mesmo na estrada. Faziam com que eles encostassem e os rendiam. Com outro caminhão realizavam o transbordo da mercadoria. Geralmente, eram roubadas cargas de cerveja, polietileno, agrotóxico e carne”, apontou o delegado-chefe da Delegacia da Polícia Federal de Campinas, Edson Geraldo de Souza.
Depois do crime, parte da quadrilha seguia com o caminhão, onde estava a carga roubada, e a outra parte ficava na estrada, sendo resgatados por uma mulher, esposa de um dos assaltantes e que, segundo apontou a investigação, trabalhava no “acolhimento” dos integrantes do grupo.
Uma vez roubada, a carga era rapidamente entregue ao receptador. Segundo a corporação, acredita-se que pessoas das próprias empresas vítimas estejam envolvidas nos crimes.
“As organizações criminosas funcionam a partir de formações. Não são pessoas alienadas ao ramo de transporte. Então, as coordenadas para a prática dos crimes vinham da parte de pessoas que estavam diretamente trabalhando no segmento de transporte. Nessa divisão de tarefas, há pessoas que fazem o contato com fornecedores de armamento também, ou seja, existem funções estruturadas e é isso que caracteriza uma organização criminosa”, apontou Souza.
Na operação de ontem foram presos os acusados de atuar diretamente nos roubos. Com os materiais apreendidos, as investigações prosseguem para identificar os receptadores desse material e a equipe que coordena as ações da quadrilha. Já e existe a suspeita de quem possa compor a liderança da quadrilha.
“É um marco histórico para o Estado de São Paulo, para Campinas e para todo o Brasil. Porque não estamos nos referindo a criminosos comuns, mas de bandidos altamente especializados e conhecedores da tecnologia. Hoje (ontem) cumprida a fase ostensiva da operação. Mas a investigação não se encerra. Com a apreensão de material e da maioria dos envolvidos, tudo isso será aprofundado para capturar os outros integrantes e levantar a identidade dos receptadores e o destino dessas cargas. Todos serão devidamente punidos”, frisou.
Campinas no epicentro do crime
De acordo com o delegado-chefe da PF, a região de Campinas é o epicentro do Estado na incidência destes crimes, pela alta concentração do mercado varejista, de atacado e empresas. O impacto disso, explica, é social, econômico e gera o encarecimento dos produtos de transporte.
Por isso, Campinas foi a primeira cidade do Brasil a receber uma unidade especializada no roubo de carga da Polícia Federal.
Segundo dados da Secretaria do Estado de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP/SP), nos quatro primeiros meses deste ano, a região de Campinas registrou 141 roubos de carga. O índice, no entanto, é menor do que o registrado na região no mesmo período do ano passado, quando 169 casos foram denunciados. Em 2020, foram 194 casos. Já em todo o Estado de São Paulo, os quatro primeiros meses do ano já somaram 2.188 ocorrências de roubo de carga. O nome da operação, “Rapina”, significa roubo praticado de froma violenta.