TERROR DAS ESTRADAS

PF e Rota detonam ladrões de carga barra pesada da Capital

Operação conjunta da Federal de Campinas com o apoio da PM e Gaeco mobilizou 200 policiais

Alenita Ramirez/ [email protected]
15/12/2023 às 09:36.
Atualizado em 15/12/2023 às 09:37
Viaturas da Rota de São Paulo estacionadas em frente ao edifício da Polícia Federal em Campinas (Rodrigo Zanotto)

Viaturas da Rota de São Paulo estacionadas em frente ao edifício da Polícia Federal em Campinas (Rodrigo Zanotto)

A Polícia Federal (PF) de Campinas desarticulou mais uma associação criminosa especializada em roubo de caminhões, cargas e sequestros de motoristas e seus acompanhantes. A quadrilha, composta por 15 membros, teve 10 de seus integrantes detidos, incluindo sete homens e três mulheres; um suspeito foi morto ao resistir à prisão, enquanto os demais permanecem foragidos. Os membros do grupo, com residência em Osasco e na capital, deslocavam-se para diversos municípios de São Paulo, especialmente nas regiões de Campinas e Jundiaí, e até em Minas Gerais para realizar os ataques. Os criminosos, conhecidos por sua agressividade, empregavam mulheres como isca para atrair as vítimas, utilizando um modus operandi que envolvia o uso de aplicativos de fretes para oferecer entregas fictícias. Após subjugar as vítimas, estas eram conduzidas a cativeiros localizados em áreas de matagal ou em comunidades de difícil acesso para as autoridades policiais.

A investigação, a cargo do grupo especializado em repressão a crimes de roubo de cargas e caminhões da PF campineira, teve início em outubro, após o roubo de uma carga em Valinhos, ocorrido no dia 22 de setembro deste ano. Além desse crime, os agentes federais identificaram possíveis vínculos do grupo criminoso em outras dez ocorrências registradas em Itapecerica da Serra, São Paulo, Osasco, Jundiaí (em São Paulo) e São Gonçalo do Sapucaí (MG). Ao todo, foram identificados 15 criminosos, incluindo quatro mulheres que se passavam por secretárias ou funcionárias de empresas de fretes, utilizando-se desse disfarce para negociar com as vítimas e, posteriormente, marcar locais para supostas coletas de carga.

Com a identificação do grupo, o delegado-chefe da PF, Edson Geraldo de Souza, obteve autorização da 2ª Vara da Justiça Estadual em Valinhos para 15 mandados de prisão temporária, com validade de 30 dias prorrogáveis por mais 30, e 25 mandados de busca e apreensão. As ações foram executadas na manhã de quinta-feira (14) pela PF, juntamente com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), com apoio do 1º Batalhão de Polícia de Choque (Rota) da Polícia Militar (PM). Ao todo, 100 policiais federais e 100 policiais militares participaram da operação. Um dos criminosos resistiu à prisão, apontando a arma para os policiais da Rota, sendo morto em decorrência disso. Quatro suspeitos ainda estão foragidos, mas as autoridades continuam as buscas.

Além de realizar transferências via Pix das vítimas, os criminosos também praticavam extorsões, sendo que, em uma das situações identificadas pelos agentes federais, entraram em contato com a família de um casal de vítimas por meio de vídeo, exigindo o pagamento de resgate. Em média, mantinham as vítimas sob seu controle por até 20 horas, tempo suficiente para que outros membros da quadrilha pudessem dar destino ao caminhão ou à carga. Utilizavam bloqueadores de sinal (jammers) para evitar ações policiais. Em alguns casos, a prática de extorsão também era empregada.

Conforme destacado pelo chefe da PF em Campinas, a maioria das vítimas era proveniente das regiões Norte ou Sul do Brasil, deslocando-se até São Paulo para efetuar entregas. Com o intuito de não retornar às suas regiões de origem sem carga, esses caminhoneiros recorriam a aplicativos de frete.

Mulheres eram envolvidas no esquema para estabelecer o primeiro contato com os caminhoneiros, acertando valores e locais de encontro. Após essa fase, seus cúmplices dirigiamse ao local combinado para realizar o assalto e levar as vítimas a cativeiros. Com a prisão desses criminosos, os agentes federais investigarão a relação das mulheres com os demais integrantes do grupo. O chefe da PF destacou que os comparsas agiam com violência e armados, ameaçando constantemente as vítimas de morte.

Os ataques do grupo eram conduzidos em regiões distantes da Grande São Paulo, levando as vítimas para matagais, ou em áreas próximas à capital, onde eram conduzidas a cativeiros localizados em favelas de difícil acesso.

Embora a investigação esteja em curso, a violência empregada contra as vítimas demandou a antecipação da prisão dos suspeitos. O delegado ressaltou que a análise aprofundada buscará compreender a relação entre os envolvidos, a conexão das mulheres com os demais membros e o histórico criminal individual de cada um, determinando se estão envolvidos em todos os crimes registrados ou se há outros delitos relacionados a eles.

Diante da periculosidade dos criminosos, a PF solicitou o apoio da Rota. O comandante da Rota, tenente-coronel da PM Leonardo Akira Tokahashi, relatou que alguns dos alvos tentaram resistir à prisão, sendo necessário o uso de disparos apenas em uma situação, quando um suspeito apontou a arma para os agentes. Nesse caso, foi apreendido um revólver calibre 38 com o indivíduo, que, apesar de não possuir antecedentes criminais, desempenhava o papel de abordar as vítimas. Após ser socorrido, o suspeito não resistiu aos ferimentos. O comandante ressaltou a gravidade do crime e a importância da intervenção da Polícia Militar diante dos impactos desses delitos na rotina da comunidade.

Dos sete homens detidos, três possuem histórico criminal. Os investigados serão inicialmente acusados de associação criminosa, roubo, furto e extorsão mediante sequestro, crimes cujas penas somadas podem ultrapassar 30 anos de reclusão. Os detidos foram encaminhados à Superintendência Regional da Polícia Federal em São Paulo, onde aguardarão a decisão da Justiça. O nome "Aboiz," que significa armadilha, foi escolhido em alusão à estratégia utilizada pela associação criminosa em suas operações.

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