GOLPE NO AR

PF desmantela esquema de crime financeiro 'via robôs'

Velhinho abusado se gabava dos seus carrões luxuosos exibidos na rede social

Alenita Ramirez/ [email protected]
18/05/2023 às 09:01.
Atualizado em 18/05/2023 às 10:19
Os policiais federais apreenderam vários maços de dinheiro em espécie, relógios, centenas de folhas de cheque, documentos e outros objetos (Divulgação)

Os policiais federais apreenderam vários maços de dinheiro em espécie, relógios, centenas de folhas de cheque, documentos e outros objetos (Divulgação)

A Polícia Federal (PF) de Campinas descobriu e passou a desmantelar um esquema de crime financeiro virtual com venda de "robôs de investimento" e transações de câmbio não autorizadas. Nesta fase, ninguém foi preso, mas foram apreendidos vários maços de dinheiro em espécie, centenas de folhas de cheque, quatro carros de luxo (Ferrari, Discovery, Audi e um Range Rover) e documentos e dispositivos eletrônicos que serão analisados e periciados. A corporação vai analisar o material apreendido e pedir a quebra do sigilo bancário do investigado para identificar o valor do golpe e quantas pessoas foram vítimas, segundo o delegadochefe da PF, Edson Geraldo Souza.

A operação, denominada Prompot - termo grego que significa robô -, foi com base em autorização de três mandados de buscas e apreensão, autorizados pela juíza Valdirene Ribeiro de Souza Falcão, da 9ª Vara Federal de Campinas, sendo dois em endereços residenciais em Paulínia, do investigado, e um comercial em Campinas. A casa do suspeito fica em um condomínio de alto padrão e os carros estavam na garagem da residência. De acordo com Souza, a investigação começou a partir de uma denúncia feita em fevereiro deste ano e com a análise de um perfil público em redes sociais que oferecia sistemas automatizados de investimento.

A suposta fraude era praticada por um técnico em informática de 42 anos que se apresenta como um empresário que atua em diversos ramos há 22 anos e usa como perfil nas redes sociais o codinome de Vovô Rico. No perfil do Instagram, ele tem 688 mil seguidores. Na rede, ele usa os carros de luxo e locais como ostentação, sugerindo que os bens foram conseguidos com os investimentos. Apesar de toda a riqueza ostentada, o suspeito é beneficiário do auxílio emergencial. Ele permanece em liberdade e já foi intimado a prestar depoimento.

De acordo com a PF, o empresário é apontado como o criador de um sistema automatizado de investimentos com uso de robôs que oferecem opções binárias, nas quais se realizam compra e venda de ações sozinho, sem a interferência do investidor. Segundo Souza, o uso de robôs neste tipo de transação é permitido no Brasil, desde que a autorização seja regulamentada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Entretanto, o investigado produzia os robôs com sistema binário (automático) e vendas "casadas", com pacotes que oscilavam de R$ 600 a R$ 1,6 mil nas redes sociais.

O empresário criou ao menos dez empresas fictícias para camuflar o empreendimento virtual. As falsas empresas atuariam em diversos ramos que iam desde lojas de material de construção a produtos naturais, mas não há registros de faturamento. Os carros de luxos estão registrados nos nomes dessas falsas empresas.

Segundo a apuração, o investigado ganhava dinheiro com a venda dos robôs, que usavam plataformas estrangeiras que usam câmbio em dólar para cobrar taxas, o que não é permitido. Os custos deste câmbio, segundo Souza, são superiores às casas autorizadas. Além disso, ele também lucrava com a manutenção mensal dos robôs em nuvem. Outro ganho era com o recebimento de porcentagens, entre 30% ou 40%, de investidores que ele conseguia por meio dos robôs para a plataforma estrangeira de câmbio, funcionando como uma espécie de pirâmide. "O investigado usava uma plataforma estrangeira e um sistema que não é legalizado e nem autorizado pela CVM. O principal objetivo neste momento é cessar a disponibilidade deste tipo de robôs e verificar se há outros degraus nesse crime e também se há uma organização criminosa, ou um suporte financeiro", disse o delegado.

Segundo Souza, os serviços oferecidos para os suspeitos ainda não foram suspensos das redes sociais. As investigações seguem. As penas máximas previstas para os crimes praticados contra o mercado de capitais e contra o sistema financeiro que estão sendo apuradas, segundo a PF, se somadas, podem chegar a 12 anos de prisão e gerar multa equivalente ao dano causado.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por